Formação

Dom e coragem

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Atualmente temos tido uma certa orquestração para tentar discutir a questão da fé, da razão e do ateísmo.
É interessante ver os vários tipos de revistas e mesmo jornais e livros que vêm levantando a questão.

Os que se dizem “ateus” estão reclamando como se estivessem sem o direito de liberdade para se expressar. Lendo algumas reportagens sobre essa “nova onda” que ora aumenta, fico a pensar o que realmente existe com relação à questão da “não crença”.

De um lado não podemos negar que a questão dos fundamentalismos e fanatismos nos conduzem a um certo questionamento sobre o papel da pessoa religiosa no mundo hodierno. Infelizmente, muitas vezes a confissão de uma religião leva pessoas a ódios, rancores, discriminações.

Porém, não é essa a regra. Na realidade, a verdadeira religião leva a pessoa a amar o seu semelhante que vê porque ama, e é amado por Deus que não vê. Os benefícios pessoais e sociais da fé estão espalhados a olhos vistos por todos os cantos do mundo. Os testemunhos de situações que foram transformados por causa da fé são inúmeros e levaram pessoas a viverem verdadeiramente a sua vida e a construir a paz ao seu redor.

Se fizéssemos um levantamento sobre o pensamento humano iluminado pela fé e as atividades sociais das pessoas religiosas no decorrer da história, até mesmo antes da existência do Estado, e agora para suprir as suas deficiências, iríamos ver que as conseqüências do crer se concretizam em atividades que ajudam a pessoa a viver melhor.

Aquilo que as pessoas que dizem que não crêem reclamam é o que na realidade acontece com aqueles que professam uma fé. Quantas vezes os que crêem são perseguidos e torturados! Quantas situações de exclusão com relação aos próprios direitos civis que não são concedidos a quem tem uma religião!

Basta ver as leis em nosso país que, para que alguém possa fazer o bem, trabalhar tanto no social ou na educação, nem sempre pode ser em nome de uma entidade religiosa e, muitas vezes, tem que constituir uma associação ou sociedade para que assuma tal responsabilidade. Os preconceitos que existem com relação às pessoas de fé, mesmo em países como o nosso, onde aparentemente existe a liberdade religiosa, estão nas entrelinhas das dificuldades em se conseguir algo que mesmo sem nenhum óbice acabam não acontecendo por ser uma entidade religiosa.

Quando os cientistas reclamam da falta de liberdade de dizer-se “ateu”, vejo que a questão é exatamente ao contrário. Aqui no Ocidente não existe essa questão. Aliás, quando querem discutir a “questão” de Deus nas ciências, basta lembrar a Aula Magna do Papa Bento XVI na Alemanha, que foi justamente esse o seu pedido. Infelizmente, esse belo momento foi explorado por uma frase que chamou mais a atenção do que toda a sólida argumentação papal.

Parece que todos nós lutamos pela possibilidade e liberdade de nos expressarmos, e não queremos ser cerceados em nossos direitos civis pelo fato de professarmos ou não uma religião.

Tempos interessantes esses que vivemos! Seria muito importante descobrir para onde os caminhos da verdadeira fé nos têm conduzido enquanto humanidade, pois a Revelação do Plano de Deus coincide exatamente com os anseios mais profundos do ser humano, porque fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Quer creiamos ou não, os nossos anseios por felicidade, paz, amor, harmonia estão presentes no coração da pessoa, embora nem sempre elas conseguem discernir os caminhos corretos para conquistar tudo isso.

Também é tempo de todos os que cremos refletirmos sobre a importância do respeito mútuo à liberdade de cada pessoa, procurando testemunhar em que e em quem cremos, sem fazer proselitismos e nem conduzir às separações e ódios por causa da fé.

Nós cremos na vida eterna, mas, enquanto vida humana, só temos este planeta para viver e somos chamados a conservá-lo bem não só com relação à ecologia, mas principalmente no relacionamento entre as pessoas, tornando possível a convivência entre os diferentes.

Neste tempo de tantas críticas às religiões e tantas necessidades de tentar provar a não existência de Deus, a nossa alegria de poder crer deve nos levar a testemunhar sem preconceitos a nossa vida iluminada pela fé, assim como as razões de nossa fé.

Será do respeito mútuo com a colaboração intensa de todos os cidadãos, em suas diversas circunstâncias, que iremos construindo a “civilização do amor”.

                                                                D. Orani João Tempesta, O. Cist


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