Um dia Jean Vannier, fundador da Comunidade ARCA (Que tem a missão de trabalhar com as pessoas com Síndrome de DOWN), foi visitar uma de suas Comunidades e lá, durante um momento com os adolescentes, um deles, insatisfeito e a sofrer com as transferências dos missionários daquela casa para outra missão, perguntou-lhe: “Senhor, por que as pessoas a quem aprendemos a amar precisam ir embora?”. Após fazer um momento de silêncio a meditar na pergunta e no respeito por quem a fez, olhando-lhe nos olhos, respondeu Jean Vannier: “Meu caro filho, o amor é assim! Nunca aprendemos a amar para nós mesmos, mas para que os outros sejam primeiramente felizes. Nossa felicidade consiste em deixar que eles partam para que façam com que outros aprendam a amar como nós aprendemos com eles. Esse deixar a quem amamos partir já é um autêntico amar, um gesto profundo de evangelização porque é partilha, é esquecimento de si, é morte do egoísmo. Agora você tem que fazer o mesmo: amar e ensinar outros que estão perto de você a amarem!” Fez-se um silêncio naquela sala e alguns, emocionados e consolados com essa resposta, deixavam lágrimas descerem dos olhos compreendendo que não estavam perdendo por ver a quem amavam partindo, mas só estavam a ganhar. O adolescente disse: obrigado meu pai, agora compreendo! É assim o amor!
Nem sempre compreendemos essa dinâmica de dor, descida, saída, mas sabemos o que se passa dentro de nós com o gesto concreto do não querer reter as pessoas a quem amamos, mas torná-las dom, sinal de salvação para outros. Uma mãe sabe o que é ver o filho partindo de casa, indo para uma opção vocacional; Uma mãe ou um pai sabe o que é – indescritivelmente – perder um filho pela morte. Um namorado sabe o que é estar muito longe de sua namorada, como um Padre sabe o que é ficar sem celebrar a Eucaristia ou confessar. Uma esposa sabe o que é ver o esposo partindo para uma viagem longa ou para um desafio de risco. Os amigos de um Curso na Faculdade, no Colégio ou na Empresa sabem o que acontece dentro do coração ao chegar o dia em que todos precisam seguir seus caminhos e planos. Nós, os missionários que tudo deixamos para o seguimento mais próximos do Senhor, sabemos também o que foi partir para longe de nossos pais, amigos e familiares. Não deixamos de amá-los, é claro, pois quando vamos ter com eles, sabemos como é difícil a sempre despedida para continuarmos nossa fidelidade à vontade de Deus. Mas hoje nossa maior herança consiste no Senhor e nos irmãos. Os laços construídos de fraternidade e amizade são parte do cuidado de Deus por nós. São experiências que nos marcam, são escolas de aprendizagem no amor, no perdão, no serviço e na doação, e são também “redenção”. Tudo isso é amor que transborda, que se expande, que quer se doar mais. É assim o amor!
É assim o amor! Ele nos ensina o calor da vida, a alegria de pertencer, da doação gratuita, da partida e da esperança do reencontro. É assim o amor! Ele nos introduz na “experiência da anunciação” e na “experiência da paixão”, mas quer sempre nos levar ao “mistério da ressurreição”. É assim o amor, nos faz morrer para que possamos viver a vida abundante que só ele concede. É assim o amor, ele se dá até o extremo (cf. Jo 13,1) porque ninguém pode retê-lo, sua oferta é gratuita, é livre (cf. Jo 10,18). Ensina-nos, Senhor, a viver esse amor com alegria e esperança onde quer que estejamos. Ensina-nos, Senhor, a viver deixando partir, com gratidão, aqueles que agora precisam ensinar outros a amarem. Cremos que quem ama nunca está sozinho! Ensina-nos a viver no abandono como viveu tua Santíssima Mãe, a Virgem Maria, e que a Tua Palavra nos console sempre: “É a tua providência, ó Pai, que segura o leme de nossas vidas!”(cf. Sb 14,3). Assim seja.
Formação: Fevereiro/2009