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E Deus viu que tudo era bom

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Uma nova linguagem vem se impondo nas últimas décadas. Ela tem como eixo vertebral o prefixo “bio”, que em grego significa vida. Tornam-se cada vez mais comuns termos como biodiversidade, biotecnologia, biogenética, bionegócio biocombustíveis, etc. A Campanha da Fraternidade de 2007, ao refletir sobre a região amazônica, maior parque de biodiversidade do planeta, ajudou a popularizar essa nova linguagem. A Semana do Migrante deste ano, por sua vez, trata de retomar essa reflexão, sob o enfoque da mobilidade humana.

Não se trata somente de uma nova linguagem. Esta, na verdade, é o reflexo de uma realidade cada vez mais alarmante. Se o prefixo “bio = vida” ganha espaços crescentes nos meios científicos, nas universidades, na política, nos movimentos sociais, na mídia e até nas ruas e campos, é porque a vida está ameaçada. Ameaçada em suas origens, em suas fontes, em suas raízes! Os alertas são cada vez mais freqüentes. Aos poucos vamo-nos dando conta que grande parte das chamadas “catástrofes naturais” são bem menos naturais do que se pensava. Muitas vezes não passam de uma reação da natureza á ação agressiva do desenvolvimento econômico sobre ela.

Quem são as primeiras vítimas desse processo de exploração predatória dos recursos naturais? Certamente os organismos vivos mais indefesos e vulneráveis, sejam eles plantas e animais ou sejam os próprios seres humanos. Entre estes, os pobres e excluídos, que não têm como se defender das conseqüências da ação cada vez mais devastadora do sistema capitalista de produção e consumo. Podemos destacar, por exemplo, os povos indígenas ou comunidades remanescentes de quilombos, as populações ribeirinhas, os pescadores, os pequenos produtores do campo, os sem-terra, e tantos outros. Muitos, devido a uma série de fatores, são obrigados a migrar em busca de novas condições de vida. Buscam a cidade, buscam novas terras, buscam outro país e, em geral, acabam caindo em situações ainda mais precárias. O resultado é que destruição do meio ambiente e migração forçada andam sempre de mãos dadas, são duas faces da mesma moeda.

Felizmente, essa nova linguagem, além de refletir uma situação de alerta mundial, representa também uma nova consciência ecológica. A consciência de que ou cuidamos das diversas formas de vida na face da terra, ou perecemos junto com o planeta. A pergunta de fundo pode ser formulada deste jeito: como reverter esse quadro, em vista de um desenvolvimento sustentável? Sustentável do ponto de vista ecológico, econômico e social. Numa palavra, como utilizar com mais responsabilidade os recursos naturais e distribuir com maior justiça os benefícios do progresso? Isso exige uma nova mentalidade e uma nova forma de convívio com a natureza e seus recursos.

Cabe aqui um olhar ao Livro do Gênesis, em que se narra que Deus criou a terra e todas as coisas como “nossa casa” e “viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). Mais tarde, Deus estabelece uma aliança com seu povo, simbolizada pelo arco-íris. Vale sublinhar que a aliança não leva em conta apenas os homens e mulheres, mas, como diz textualmente a narração, “com todos os seres vivos” e “com todas as gerações futuras”. E o texto insiste: “com tudo o que vive sobre a face da terra”. Ou seja, o Deus Criador preocupa-se com a vida em todas as suas formas, por um lado, e, por outro, com a preservação da vida para as gerações vindouras (Gn 9,12-17).

Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS

Fonte: CNBB


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