Na história da criação, sabemos muito bem que, no princípio, a família usufruía de uma felicidade indescritível. O jardim, a comunhão com Deus, o diálogo perfeito, a harmonia entre Deus, homem e mulher, a oração, o silêncio no fim da tarde, a alegria de estarem juntos, a partilha de tudo que Deus tinha dado a eles.
Algo muito particular neste tempo que estamos vivendo nos faz lembrar de como e onde tudo isso começou. Temos nossa família mais próxima, nossas orações em nosso lar, como eles faziam naquele tempo, pois não tinham igrejas, nem casas de oração. Como no princípio, isolados, precisamos voltar ao essencial, ao sagrado, decidirmos o que é verdadeiro para nossa família. Nossas casas tem o sagrado, estamos caminhando para o altar sagrado, movidos por esses dias de oração profunda, comunhão com Deus, jamais visto na história.
Estamos experimentando de algo novo: nós não temos controle de nada. Essa tempestade mostra o quanto somos frágeis, pequenos. Mas, sem dúvidas, há um bem maior que Deus, neste momento, deseja realizar na nossa família. Tivemos que mudar nosso planejamento familiar neste tempo, com horários de missas na TV, terços, beraká, vigília, filmes religiosos, noites em família, adoração e terço da misericórdia.
Não temos pressa para sair da mesa ao terminar nossos lanches, partilhamos de tantas coisas que confesso, não ouvia meus filhos como eles mereciam. O murmúrio que antes nos rodeava de como iria ser a vida escolar, trabalho, vida comunitária, nos fez agora conhecer um louvor, o verdadeiro louvor, que não depende das nossas circunstâncias, mas da nossa adesão à vontade de Deus. Quanto mais morremos para esse mundo, mais vida Deus tem para nós.
Ah, e a semana santa, a semana maior?
“É em tua casa que celebrarei a Páscoa com meus discípulos” (Mt 26, 18).
Deus nos fez entender, neste evangelho, que ele queria passar esses dias conosco, nas nossas famílias, arrumando primeiramente nosso interior e depois nossa igreja doméstica. Ele nos chama a viver de modo mais intenso esses dias, a nos descentralizarmos de nós mesmos e pensarmos mais em Deus e no outro, a oferta de vida fecunda!
Então, nada de preocupações como a de onde iríamos deixar as crianças para vivermos o retiro de Semana Santa que a Comunidade nos proporciona todos os anos, o que iríamos comprar para esses dias. Enfim, nosso orçamento deu outro rumo: fazer cestas básicas, diminuir nossa ceia, ajudar a quem Deus nos confiou, trocar os ovos da Páscoa pela alegria do Domingo de Páscoa. A Ressurreição é o verdadeiro valor desse dia. Estamos vendo que é possível encontrar Deus no meio dessa pandemia.
Distribuímos as atividades da decoração do espaço sagrado, na sexta-feira, por exemplo, a cruz artesanal ficou para o meu esposo, a frase desenhada para minha filha adolescente, as pedras e desenhos foi o meu filho de 9 anos quem se responsabilizou, já os galhos e folhas secas ficaram para o meu filho de 3 anos.
Vivemos na carne o que Jesus viveu, incluindo as crianças desde o lava-pés da quinta-feira santa – momento único de perdão e do abaixar-se para servir aos filhos e o esposo -, retiro online, porque na verdade Jesus queria que vivêssemos todos juntos os mistérios que Ele viveu. Ao vermos o filme “A Paixão de Cristo” juntos, eles já estavam vivendo e contemplando o que tínhamos desfrutado o dia todo através da celebração e retiro.
Nós não deixamos de viver nossa eucaristia
Enquanto a igreja está fechada, nós não deixamos de viver nossa eucaristia, pois o nosso lar, nossa igreja doméstica está sendo vivida todos esses dias. É Cristo que vive em nós aos nos doarmos, servirmos, nos abaixarmos para o outro e ao vivermos as dores e alegrias juntos.
As crianças nos ajudam a louvar todos os dias, pois elas confiam plenamente em nós e nós confiamos plenamente em Deus. Nós não sairemos os mesmos do meio de tudo isso, recriados. Deus nos deu um olhar Pascal, pois a nossa cruz, juntamente com a de cristo, tem um sentido, é real, acreditamos plenamente que nossa vida é Cruz e Ressurreição.
Nós fomos criados para isso. Fomos formados para viver esse mistério de amor em família. Um transbordar ao outro!
“Concluirei com eles uma aliança de paz, um tratado eterno. Eu os plantarei e os multiplicarei. Estabelecerei para sempre o meu santuário entre eles. Minha residência será no meio deles. Eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. E as nações saberão que sou eu, o Senhor, quem santifica Israel, quando o meu santuário se achar constituído para sempre no meio do meu povo.” (Ezequiel 37, 26-28)
Karine Sousa Teixeira Vasconcelos
Missionária da Comunidade de Aliança Shalom
Confira também
Horários da Santa Missa na TV e na Internet
10 conselhos para participar da missa transmitida pela TV ou pela Internet