Formação

É hora de proclamar que Deus é felicidade

comshalom

Alegrai-vos, o Senhor está perto

Mateus 11, 2-11

Comecemos,em nossa reflexão, pela frase com a qual Jesus, no Evangelho,tranqüiliza os discípulos de João Batista acerca do própriomessianismo: "anuncia-se aos pobres a Boa Nova". O Evangelho é umamensagem de alegria: a liturgia do terceiro domingo do Advento proclamaisso e, é pelas palavras de Paulo na antífona de entrada que tomou onome de domingo "Gaudete", "estai sempre alegres", ou seja, domingo daalegria: "Que o deserto e o terreno seco se alegrem… Eles sealegrarão com gozo e alegria… na cabeça, alegria perpétua;seguindo-os, gozo e alegria. Pena e aflição se afastarão".

Todosquerem ser felizes. Se pudéssemos representar visivelmente toda ahumanidade, em seu movimento mais profundo, veríamos uma imensamultidão erguer-se em torno de uma árvore frutífera sobre a ponta dospés e estender desesperadamente as mãos, no esforço de tomar um frutoque, no entanto, escapa de suas mãos. A felicidade, disse Dante, é essedoce fruto que o homem busca entre os ramos da vida.

Mas setodos nós buscamos a felicidade, por que tão poucos são verdadeiramentefelizes e até os que o são permanecem assim por tempo tão escasso?Creio que a razão principal é que, na escalada ao cume da felicidade,erramos de vertente; escolhemos o que não leva ao cume. A revelaçãodiz: "Deus é amor"; o homem creu que pode dar a volta à frase e dizer:"O amor é Deus!" (a afirmação é de Feuerbach). A revelação diz: "Deus éfelicidade"; o homem inverte de novo a ordem e diz: "a felicidade éDeus!". E o que acontece aí? Não conhecemos na terra a felicidade emestado puro, como não conhecemos o amor absoluto; conhecemos sófragmentos de felicidade que reduzem com freqüência à embriaguezpassageira dos sentidos.

Por isso, quando dizemos "afelicidade é Deus!", divinizamos nossas pequenas experiências; chamamos"Deus" à obra de nossas mãos ou de nossa mente. Fazemos da felicidadeum ídolo. Isso explica por que quem busca Deus encontra sempre aalegria, enquanto quem busca a alegria nem sempre encontra a Deus. Ohomem se reduz a buscar a felicidade por motivo de quantidade: seguindoprazeres e emoções cada vez mais intensos, ou acrescentando prazer aprazer. Como o dependente químico que precisa de doses cada vez maiorespara conseguir o mesmo grau de prazer.

Só Deus é feliz e nos fazfelizes. Por isso um salmo exorta: "Tem tua alegria no Senhor eescutará o que peça teu coração" (Sal 37, 4). Com ele também os gozosda vida presente conservam seu doce sabor e não se transformam emangústias. Não só os gozos espirituais, mas toda alegria humanahonesta: a alegria de ver crescer os próprios filhos, do trabalhofelizmente levado a término, da amizade, da saúde recuperada, dacriatividade, da arte, do lazer em contato com a natureza. Só Deus pôdearrancar dos lábios de um santo o grito: "Basta, Senhor, de alegria;meu coração já não pode conter mais!". Em Deus se encontra tudo o que ohomem costuma associar à palavra felicidade e infinitamente mais, pois"nem olho viu, nem ouvido ouviu, nem ao coração do homem chegou, o queDeus preparou para quem que o ama" (1 Co 2, 9).

É hora decomeçar a proclamar com mais valor a "Boa Nova" de que Deus éfelicidade, que a felicidade – não o sofrimento, a privação, a cruz –terá a última palavra. Que o sofrimento só serve para tirar o obstáculoda alegria, para dilatar a alma, para que um dia possa acolher a maiormedida possível.


Comentários

Aviso: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião da Comunidade Shalom. É proibido inserir comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem os direitos dos outros. Os editores podem retirar sem aviso prévio os comentários que não cumprirem os critérios estabelecidos neste aviso ou que estejam fora do tema.

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *.

O seu endereço de e-mail não será publicado.