<!– /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";}@page Section1 {size:595.3pt 841.9pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:35.4pt; mso-footer-margin:35.4pt; mso-paper-source:0;}div.Section1 {page:Section1;}–>Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Um dos princípios basilares da Doutrina Social da Igreja é oda destinação universal dos bens criados. Em linguagem religiosa significa queDeus criou o universo para o bem dos seres humanos, de todos eles. Esseprincípio é a explicitação da dignidade inviolável da pessoa humana, criada àimagem e semelhança de Deus A pessoa não pode ser instrumentalizada para nenhumfim. A ordem social deve ser tal que cada pessoa humana tenha reconhecida, naprática, sua dignidade e possa desenvolver-se até chegar a plenitude de suahumanidade.
A pessoa deve ser, por isso, ela mesma, o sujeito doprocesso de seu desenvolvimento e não pode ser substituída por outra instânciano que diz respeito às decisões sobre si e sobre seu destino. É que não hárealização da pessoa humana sem a liberdade. Liberdade é, antes de tudo, opoder de decidir sobre si e sobre a própria vida. O fato de a humanidade serformada por uma multidão de pessoas coloca, entretanto, um limite para aliberdade de um indivíduo: o “outro” que ele mesmo.
O outro é pessoa. Daí surgiram duas regras fundamentais decomportamento: a) não faças ao outro o que não queres que o outro te faça; b)deves fazer ao outro tudo o que desejas que o outro te faça. Kant, na mesmalinha, sentenciou: “age apenas segundo uma máxima tal que possas querer que setorne uma lei universal”. Na revelação do Antigo Testamento assim aparece estaregra de ouro: “ama o próximo como a ti mesmo”. O outro, portanto, não é, emprimeiro lugar, um obstáculo para a minha liberdade, é seu destino. Ele põe,sim, um limite a meu desejo de onipotência, lembra-me que não sou a totalidadedo real. Mas o outro é sobretudo apelo a que eu cuide nele da humanidade daqual também ele participa. Jesus deu como lei suprema para seus discípulos ummandamento novo: “amai-vos uns aos outros”. Se todos cuidassem de todos o mundoseria, sem dúvida, o paraíso: um lugar de imensa paz. Precisamente porque estemundo pode ser o paraíso é que temos do paraíso saudades. Jesus não só ensinou,Ele fez. Por isso pôde acrescentar: “como eu vos amei”.
Do outro não posso tirar a vida, mesmo que ainda esteja emseu mais remoto começo – embrião ou feto -, mas ao outro posso e devo doar avida. Não posso matar o outro, mas posso morrer por ele. Esta é a grande liçãodo cristianismo que nós estamos longe de por em prática. Uma vez quea vida depende do pão de cada dia, Jesus ensinou-nos a rezar: “o pão nosso de cada dia nos dai hoje”.Tira-se a vida não só quando se mata em ação direta – como se faz nosabortamentos e similares -, mas também quando se rouba o pão do irmão. Tambémquando não se sabe repartir. Esse problema é o problema maior da humanidade. OEvangelho não nos deixa mentir. Escute, leitor, o que ensinou Jesus: “vinde,benditos de meu Pai, recebei por herança o reino que vos está preparado desde afundação do mundo. Porque tive fome e me destes de comer…” E disse também:“apartai-vos de mim malditos para o fogo eterno preparado para o diabo e seusanjos. Porque tive fome e não me deste de comer…” (cf Mt 25,31-46). Ora, se avida econômica da sociedade se organiza de tal forma que os bens – “pão”significa todos os bens necessários para uma vida digna – deste mundo seconcentram nas mãos de uma parte da humanidade em detrimento da outra, estamosdiante de uma situação de injustiça, embutida na ordem econômica.
Ora, o momento que vivemos está a nos dizer da necessidadede ordem econômica mais justa. É curioso e sintomático que, para enfrentar apresente crise, o presidente Bush reúna os oito grandes e que,subseqüentemente, queira reunir os vinte emergentes. E as outras nações? Elasnão têm nada a dizer da atual (des)ordem econômica internacional? Em 2004 o Compêndio daDoutrina Social da Igreja advertia: “nos organismos internacionais devem serequitativamente representados os interesses da grande família humana; énecessário que estas instituições, ao avaliarem as conseqüências das suasdecisões, tenham em devida conta aqueles povos e países que têm escasso peso nomercado internacional, mas em si concentram as necessidades mais graves edolorosas, e necessitam de maior apoio para o seu desenvolvimento”(n. 371).
João Paulo II ensinava em uma de suas encíclicas sociais: “Asolidariedade ajuda-nos a ver o outro — pessoa, povo ou nação — não como uminstrumento qualquer, do qual se explora, a baixo preço, a capacidade detrabalho e a resistência física, para o abandonar quando já não serve; mas sim,como um nosso semelhante, um auxílio (cf. Gén 2, 18. 20), que deverá se tornarparticipante, como nós, no banquete da vida, para o qual todos os homens sãoigualmente convidados por Deus. Donde a importância de despertar a consciênciareligiosa dos homens e dos povos”. Na mesa da humanidade devem poder seassentar todos os seres humanos.