Formação

Educar os filhos para a sexualidade: Quem está pronto?

comshalom

Andréia Gripp

Pesquisas divulgadas pelo Ministério da Saúde do Brasil e pela Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional – USAID – mostram dados alarmantes sobre o comportamento dos adolescentes. No tocante à precocidade das relações sexuais, em 10 anos dobrou o número de jovens que tiveram sua primeira relação sexual entre os 15 e os 19 anos. No Brasil, o parto é a primeira causa de internação de adolescentes no sistema público de saúde. Em 1998, cerca de um milhão de partos foram realizados entre garotas de 10 a 24 anos. Sendo 700 mil, apenas no Sistema Único de Saúde. Outro dado alarmante do Ministério da Saúde: no ano 2000, 23 mil adolescentes (entre 10 e 24 anos) estavam infectados pelo vírus da Aids. A maioria das gestantes descobriu ser soropositiva durante a gravidez. Hoje mais de 30 mil crianças são órfãs de pais HIV positivo, em todo o País.

A que se deve tudo isso? Com certeza à falta dos modelos tradicionais na sociedade que valorizassem a dignidade humana e a moral, deixando os filhos privados de indicações positivas com relação à sexualidade, enquanto os pais se acham despreparados para dar as respostas adequadas.

Tenho um filho de oito anos. Eu e meu marido temos conversado mundo sobre como iremos educá-lo neste mundo hedonista e percebemos, por experiência própria, que entre as dificuldades que os pais encontram hoje na formação de seus filhos está, certamente, a de poder oferecer uma adequada preparação para a vida adulta, em particular no que se refere ao verdadeiro significado da sexualidade. Perdidos, os pais muitas vezes se omitem e transferem essa missão à escola, que se restringe a dar uma “orientação” sobre reprodução humana, limitando-se apenas a vincular a sexualidade às diversas moléstias infecciosas e, conseqüentemente, aos inúmeros riscos decorrentes da prática sexual. Nessa linha de trabalho, a camisinha assume o posto de redentora dos que se lançam aos prazeres desconhecidos. “Usem camisinha”, alertam os educadores.

Como trabalho no Jornal O Testemunho de Fé, da Arquidiocese do Rio de Janeiro, tive a oportunidade de conversar sobre o assunto com o Frei franciscano Anselmo Fracasso, do Convento de Santo Antônio, no Centro do Rio, que me concedeu uma entrevista, publicada no início deste ano naquele semanário arquidiocesano e que agora partilho com todos os amigos da Shalom Maná. Ao final da entrevista, o sacerdote indicou aos pais, a leitura do documento Sexualidade Humana – Verdade e Significado, do Pontifício Conselho para as Famílias, lançado em 1995. Nele, um ponto principal é abordado: a educação para a castidade, que não é, em nenhum momento, associada a uma educação para a simples proibição do sexo, mas, sim, para a descoberta do seu valor humano e divino. Confira a entrevista:

Em sua experiência como sacerdote, qual é, a seu ver, a maior dificuldade dos pais com relação à educação para a sexualidade?
Frei Anselmo: Entender o sentido da sexualidade, dentro dos preceitos cristãos. Deus criou o homem e a mulher para criar uma comunidade de amor, e lhes confiou o milagre da vida. Então, o sexo tem por finalidade, primeiramente, expressar o amor do homem e da mulher, que é afetivo e espiritual: dois corpos que se entregam um ao outro, e, quando essa relação sexual é fruto espontâneo da dupla união de alma e de coração, é uma união bela, santa e meritória. É a mais bela e pura expressão externa do amor interno, o complemento físico do amor espiritual e afetivo.

Neste sentido, o que os pais devem ensinar primeiramente aos filhos?
Os pais devem transmitir claramente aos filhos que o sacramento do matrimônio é que dá direito e santifica o uso do sexo. Fazer sexo fora do matrimônio é usar um direito que nós não temos. É como querer receber um salário sem trabalhar. Então, namorados que praticam o sexo antes do casamento usam um direito que não têm. Além disso, há de se considerar o aspecto psicológico, porque, quando se pratica sexo antes do casamento, se vulgariza e banaliza o sexo, fazendo com que ele perca a sua beleza. Os jovens, assim, queimam uma etapa da vida que é a lua-de-mel, que psicologicamente é uma etapa muito importante para o ajustamento conjugal e sexual. Nela, através do carinho e da ternura, os noivos devem se iniciar sexualmente. Isso é fundamental para o êxito do matrimônio. Quando isso não é respeitado e o sexo é banalizado, acontece a frustração da mulher, que, muitas vezes, se sente como objeto da satisfação sexual do marido.

A sociedade não dificulta essa tarefa?
Certamente, porque hoje, infelizmente, nós vivemos numa época de obsessão sexual. Os meios de comunicação vulgarizam o sexo. É, portanto, importante que os pais eduquem seus filhos no sentido verdadeiro da família como comunidade de amor. A família deve ensinar o jovem a pensar antes de agir. Deve, também, cuidar de suas fantasias, evitar que os jovens vejam filmes, revistas e sites eróticos, porque somos frutos do que pensamos. Os jovens não devem, portanto, cultivar pensamentos eróticos, mas sim alimentar os pensamentos bons, sadios. Se alimentarem pensamentos eróticos, vão viver o erotismo e não vão se controlar, porque o sexo é um instinto forte em nossa humanidade.

Que princípios devem nortear os pais?
A verdade. Desde cedo o pai e a mãe devem passar para os filhos o valor do sexo, o respeito para o sexo, o sentido do sexo. De acordo com a idade da criança, ensinar o que é a sexualidade. Não é preciso contar logo a princípio toda a verdade para uma criança, mas, de acordo com a idade, dizer sempre a verdade. Deve-se respeitar o desenvolvimento psicológico dos filhos, sem omitir a verdade. Devem orientar a menina sobre a menstruação, o menino sobre a questão do sexo, da responsabilidade do sexo, sem esconder nada, mostrando a importância de se respeitar o corpo do outro. O maior problema hoje em dia é que se perdeu a auto-estima, principalmente entre as mulheres. Deve-se orientar a menina a não ser objeto; orientar o menino a respeitar o corpo de suas namoradas como se fosse o corpo de sua própria irmã ou de sua própria mãe. A mulher deve ter a consciência de sua auto-estima. Infelizmente, em nome de uma emancipação, ela tem se tornado objeto do homem. A mulher deve saber que ela é a força ética, espiritual e moral do mundo.

Como os pais poderão evitar que seus filhos iniciem a vida sexual precocemente?
Ensinando, desde cedo, que fazer sexo sem amor é prostituição. O sexo só faz bem quando o homem e a mulher percebem que a doação mútua dos corpos é conseqüência da dupla doação do amor afetivo e espiritual. O sexo deve ser sempre fruto do amor e os pais devem educar os filhos para essa realidade e, conforme eles vão crescendo, ensinar que o casamento, o amor não é buscar para si a felicidade, mas construir para o outro a felicidade. O homem e a mulher não se casam para serem felizes, mas para fazer seus esposos felizes e, os fazendo felizes, serão felizes. Um faz o outro feliz e ambos serão felizes, juntamente com os seus filhos. O amor dos esposos um para com o outro e de ambos para com os filhos é a maior riqueza do lar.

Neste contexto, o exemplo do lar é importantíssimo?
Sim. É vendo o pai e mãe se amando que os filhos aprendem o que é amor; vendo o pai e a mãe falando a verdade que os filhos aprendem o que é sinceridade; vendo o pai e a mãe sendo generosos que aprendem o que é generosidade; vendo o pai e a mãe sendo misericordiosos que aprendem o que é perdão, e assim por diante. É do testemunho do pai e da mãe que se amam que os filhos aprendem o verdadeiro sentido da vida. A verdadeira educação acontece no lar. O pai e a mãe é que devem dar aos filhos a educação religiosa, social e sexual. Não devem, nunca, transferir para a escola essa missão. A escola dá instrução, transfere conhecimento, mas não educa. Quem educa é o pai e a mãe.

Fonte: Revista Shalom Maná


Comentários

Aviso: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião da Comunidade Shalom. É proibido inserir comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem os direitos dos outros. Os editores podem retirar sem aviso prévio os comentários que não cumprirem os critérios estabelecidos neste aviso ou que estejam fora do tema.

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *.

O seu endereço de e-mail não será publicado.