Formação

Educar para as Virtudes: Caráter e Consciência

comshalom

Sabemos que o caráter é o eixo da educação. Por isso os pais têm o grave dever de formar nos filhos um caráter reto e uma vida honesta.Sêneca dizia que de “nada vale ensinar aos jovens o que é a linha reta, se não lhes ensinarmos o que é a retidão”. Spalding repetia que “as civilizações perecem não por falta de cultura, mas por falta de moral”. O caráter dá esplendor aos jovens e respeito aos velhos. Em todos os tempos, os homens de caráter firme foram as colunas da sociedade. Portanto, cultivando o caráter dos nossos filhos estaremos cultivando o solo sobre o qual crescerá a verdadeira civilização. A grandeza de uma nação ou de uma família não depende da extensão de suas terras, mas do caráter dos seus filhos.

No Talmud dos israelitas, há uma passagem que diz: “Onde melhor se conhece o caráter de um homem é em assuntos de dinheiro, à mesa, e nos momentos de ira”. Tudo pode se perder nesta vida, a fama, a popularidade, a riqueza, menos o caráter. Uma mostra de caráter vil é o emprego de servilismo com os grandes, e arrogância com os pequenos. Um caráter elevado se forma no cumprimento fiel e esmerado dos deveres. A sabedoria ensina que os pensamentos geram os atos, os atos geram os hábitos, o shábitos moldam o caráter, o caráter firma o destino do homem. A Bíblia afirma que: “o filho mal educado é a vergonha do seu pai” (Eclo 22,3). Os pais nãopodem deixar de corrigir os filhos, de imediato, diante de um ato de mau comportamento: roubo, mentira, desrespeito com os outros, desordens,perturbações, etc. Acima de tudo há que ensinar o filho a obedecer à voz sagrada da consciência, que é a própria voz de Deus. Nela Ele escreveu a Lei natural para guiar o homem. Santo Agostinho diz que o Senhor escreveu os Dez Mandamentos nas pedras, porque o homem já não conseguia lê-los em seu coração.O maior crime é fazer calar brutalmente a voz da consciência. E isto se dá quando não a obedecemos.

A maior lição que guardei de meu pai, um homem simplese piedoso, que criou nove filhos, foi esta: “Meu filho, não faça nada contra a sua consciência”. Jamais esqueci esta lição. Quanto mais eu vivo mais se agiganta essa lição paterna, e mais sinto que nada compensa ser feito se é contra a consciência. Violar a voz da consciência é o mesmo que violar a si mesmo; pois ali é o lugar sacros santo onde estamos a sós e com Deus. Ghandi dizia que o único tirano a que ele se submetia, sem restrições, era àquela suave voz que falava dentro dele.

Notamos, cada dia mais, que todas as formas de censura, mesmo as boas e necessárias, estão caindo; em breve a única censura será a consciência de cada um. E se esta não existir? E se os filhos não aprenderem a respeitá-la? É por isso que voltamos ao paganismo pré – cristão. São Paulo, ao falar aos romanos da necessidade de submissão às autoridades, por exemplo,dizia que “é necessário submeter- se, não somente por temor do castigo, mas por dever de consciência” (Rom 13,5). Eis aqui algo importante a ser ensinado aos filhos: fazer o bem, não por medo do castigo, mas por “dever de consciência”. A voz da consciência nos ensina permanentemente: “faça o bem, evita o mal”; mas ela precisa ser bem formada; e isto só pode ser feito pela Lei de Deus e seus mandamentos.

Em discurso aos Bispos do Brasil, em Roma, em 1995, o Papa JoãoPaulo II recomendou-lhes o uso do Catecismo da Igreja para bem formar a consciência dos fiéis. “Tende uma consciência reta a fim de que, mesmo naquilo em que dizem mal de vós, sejam confundidos os que desacreditam o vosso santo procedimento em Cristo” (1Pe 3,16). Precisamos ensinar a nossos filhos que aconsciência não pode ser vendida por nada: nem pelo poder, nem pelos prazeres deste mundo e, muito menos por causa do dinheiro. Aprendamos, mais uma vez, com a Sabedoria de Deus: “Vale mais o pouco com o temor do Senhor que um grande tesouro com a inquietação”. “Mais vale um prato de legumes com amizade que um boi cevado com ódio” (Prov 15,16-17).

 As palavras e a verdade

 Os santos diziam que “se não é possível falar bem de uma pessoa, então, é melhor que não se diga nada”. Um dos pontos mais importantesna educação é ensinar aos filhos a fidelidade à verdade e o bom uso daspalavras. O domínio da língua será sempre sinal de maturidade e de equilíbrio.São Tiago chega a dizer que: “Se alguém não cair por palavra, este é um homem perfeito, capaz de refrear todo o seu corpo” (Tg 3,2). O Apóstolo compara o domínio da língua ao freio que se põe na boca dos cavalos e ao controle de imenso navio pelo pequeno leme. Assim como um pequeno palito de fósforo aceso incendeia toda uma imensa floresta, da mesma forma uma má palavra, gera imensas brigas, complicações, discórdias e divisões. “Não acostumes tua boca a uma linguagem grosseira, pois aí sempre haverá pecado” (Eclo 23,17). “Não sejas precipitado em palavras e (ao mesmo tempo) covarde e negligente em tuas ações”(Eclo 4,34). “A palavra manifesta o que vai no coração do homem” (Eclo 27,7).

É preciso ensinar os filhos a serem moderados com as palavras, proibindo-lhes falar palavrões, se intrometerem nas conversas alheias, etc; e mais dados ao uvir e a aprender, do que a falar. As palavras são como as moedas, às vezes uma só vale por muitas outras. Quanto mais fortes forem os nossos argumentos,mais baixa pode ser a nossa voz. Vitor Hugo dizia que: “palavras fortes e amargas indicam uma causa fraca”. “Escuta com doçura o que te dizem a fim de compreenderes, dará então uma resposta sábia e apropriada. Se tiveres inteligência, responde a outrem, senão, põe a mão sobre a tua boca, para que não sejas surpreendido a dizer uma palavra indiscreta, e venhas a te envergonhar dela” (Eclo 5,13-15).

Muitas são as recomendações da Palavra de Deus, para a moderação da língua. E há um provérbio que diz que “o peixe morre pela boca e o homem pela língua”. “O homem de conversa imprudente torna-se odioso” (Eclo9,25). Não se pode permitir também que os filhos critiquem a todos e a tudo sem reflexão; e, para isto, é preciso que os pais não falem mal dos outros,especialmente diante dos filhos. “Não censures ninguém antes de estares bem informado; e quando te tiveres informado, repreende com equidade. Não indagues das coisas que não te dizem respeito; não te assentes com os maus para julgar”(Eclo 11,8-9). Há pessoas que falam antes de pensar; suas palavras são irrefletidas, e suas consequências são nefastas: “O coração dos insensatos está na boca; a boca dos sábios está no coração” (Eclo 21,29). “Uma palavra inoportuna é como a música em dia de luto” (Eclo 22,6).

A educação para a verdade é fundamental para formar bem o caráter do homem. Muitos são dados à mentira. É preciso mostrar aos filhos que ela tem “pernas curtas”; e que tão logo descoberta causará vergonha e desrespeito ao mentiroso. Jesus apresentou-se como “a Verdade” (Jo 14,6) e ensinou-nos que o demônio é “o paida mentira”(Jo 8,44). Basta isto para mostrar a importância da verdade e a periculosidade da mentira. “A mentira é no homem uma vergonhosa mancha, não deixa os lábios das pessoas mal educadas” (Eclo 20,26). A verdade santifica e nos faz semelhantes a Deus, pois nos purifica de toda impureza da alma.

Os pais precisam ser exemplos de verdade e de autenticidade aos filhos, sem falsidades e dissimulações. Jesus disse que veio ao mundo para “dar testemunho da verdade”(Jo 18,37) e que “a verdade nos liberta”(Jo 8,32). O Apóstolo São Joãoo apresenta como “cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14). Sobretudo é necessário conduzir os filhos à verdade ensinada pela Igreja, recebida de Cristo. É por isso que São Paulo afirma a Timóteo que “a Igreja é a coluna e o sustentáculo da verdade”(1Tm 3,15). Precisamos ensinar nossos filhos a amar e viver tudo o que a Igreja ensina, “sem contestações”. Sabemos que o Magistérioda Igreja recebeu de Cristo o dom da infalibilidade para nos ensinar a doutrina(fé e moral). Esta certeza está no fato de Jesus estar com a Igreja sempre: “Eis que estarei convosco todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28,18). E, na última Ceia, o Senhor prometeu: ´o Espírito Santo ficará eternamente convosco” (Jo14,16) e “ensinar´vos´á toda as coisas” (Jo 14,26), e “toda a verdade” (Jo16,12). Por ser assistida e guiada permanentemente pelo Espírito da Verdade, a Igreja não erra ao apontar-nos o caminho da salvação. Esta é uma certeza que os pais cristãos precisam ensinar aos filhos para que sejam felizes e sejam bem guiados por toda a vida. A Igreja nos deu o novo Catecismo para que conheçamos com clareza a verdade da fé. Cabe aos pais conhecer este Catecismo para poder tirar as dúvidas dos filhos e ensinar-lhes o que a Igreja manda.

 Adversidades e Sofrimentos

 Já vivemos o suficiente para saber que a vida não é um mar de rosas, como diz o povo; aliás, é mais “um vale de lágrimas”, ensina a Igreja, por causa do pecado. Mas é possível enfrentar o sofrimento sem desespero e sem desânimo; e esta é uma lição que os pais têm que ensinar aos filhos. Pela fé e pela paciência, ou resignação, vencer a dor. E, sobretudo fazer-lhes entender que todo o sofrimento deste mundo, qualquer que seja, tem sempre a sua raiz última no pecado. “O salário do pecado é a morte”(Rom 6,23).Esta frase do Apóstolo diz tudo; explica a razão de toda a miséria humana.

É preciso mostrar aos filhos que também nas adversidades podemos crescer. Elas nos dão a oportunidade de olhar o mundo com mais profundidade e fazem nascer em nós a coragem, indispensável para a vida. Shakespeare disse que “não é digno de saborear o mel aquele que se afasta da colmeia com medo das picadas dasabelhas”. A adversidade se vence com a fé e com a paciência, portanto,precisamos ensinar os jovens a cultivá-las. Um provérbio chinês diz que “o homem que removeu a montanha, começou por carregar pequenas pedras”. O jovem é naturalmente apressado e impaciente; cabe aos pais ir mostrando-lhe, passo a passo, a importância da paciência e da perseverança para vencer os obstáculos difíceis. A Imitação de Cristo diz que “aquilo que o homem não pode emendar em si mesmo ou nos demais, deve ele tolerar com paciência até que Deus disponha de outro modo”. Como são belas as palavras do Eclesiástico: “Aceita tudo o que te acontecer; na dor permanece firme; na humilhação tem paciência. Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus pelocadinho da humilhação”( Eclo 2,4-6).

Se de um lado, o egoísmo leva à morte, o sacrifício, por outro lado, leva à vida. Antes do tempo chegar à primavera, tem que passar pelo inverno. Por isso, temos que ensinar aos filhos a importância do sacrifício. É salutar para todos nós fazer, propositadamente, aquilo que não gostamos. Desta forma, o corpo vai sendo submetido ao espírito, e nos tornamos cada vez mais homens.

Formação /2010


Comentários

Aviso: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião da Comunidade Shalom. É proibido inserir comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem os direitos dos outros. Os editores podem retirar sem aviso prévio os comentários que não cumprirem os critérios estabelecidos neste aviso ou que estejam fora do tema.

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *.

O seu endereço de e-mail não será publicado.