A dinâmica da vida missionária é orientada pela Voz de Deus que chama e envia. A missão não diz respeito apenas àqueles a quem somos enviados. Nela, também o missionário é forjado, amadurece nas provas e encontra o Senhor.
Eu me chamo Emanuel Nilo, sou missionário e membro da Comunidade de Aliança em Mossoró. Neste texto, dou testemunho da experiência de partir em missão na Semana Santa de 2024.
“Quem viaja aumenta sua sagacidade”
Faltando pouco tempo para a Semana Santa, aproveitei uma folga e fui visitar o Senhor na Matriz da Paróquia do Menino Jesus de Praga, onde meu coração tem raízes. Em adoração ao Santíssimo Sacramento, Deus me inspirou revisitar as anotações realizadas durante a Quaresma em meu caderno de oração. Ele queria me mostrar algo. Um trecho me saltou aos olhos:
“Quem não foi provado conhece poucas coisas, mas quem muito viaja aumenta sua sagacidade. Muitas coisas vi em minhas viagens, meu conhecimento é maior que muitas palavras”. (Eclo 34, 10-12).
A Palavra penetrou no meu coração com clareza. Compreendi imediatamente o que Deus queria me dizer com “viajar”. Naqueles dias, nossa Coordenadora Apostólica comunicou aos membros da Comunidade que havia demandas missionárias e motivou ainda que a procurassem os que tivessem disponibilidade e se sentissem chamados pelo Senhor a partir em missão na Semana Santa.
Lembrando disso, conclui minha oração e peguei meu celular para escrever-lhe uma mensagem. Para a minha surpresa, ela estava me escrevendo naquele exato momento:
– “Oi, Nilo. Boa tarde. Você tem disponibilidade de ir em missão?”.
Respondi sua mensagem compartilhando o que estava acontecendo. E disse:
– “Josiana, para onde você me enviar, eu irei”.
A Paróquia de Apodi/RN
Alguns dias depois, ela me comunicou o destino: a Paróquia de Apodi. O propósito era servir às comunidades rurais ligadas à Paróquia durante a Semana Santa. Éramos quatro irmãos: eu, Maclícia (CAL), Neidinha (CAL), e Olândia (CV).
Dirigimo-nos à cidade na Quinta-feira Santa. Ao chegarmos, Pe Chagas nos recebeu na Casa Paroquial, deu-nos algumas orientações e em seguida nos encaminhou em duplas para nossos destinos. Fomos enviados às comunidades precisamente para servir e animar onde o padre não poderia estar.
Eu e Maclícia passamos os dias de Páscoa servindo as comunidades do Sítio São Francisco, Portal da Chapada e Juazeiro da Diviza colaborando com a vivência das celebrações litúrgicas, a meditação da Palavra de Deus e a oração.
Quinta-feira Santa: “Francisco, reconstrói a minha Igreja”.
Na tarde de Quinta-feira, chegamos à comunidade São Francisco. Durante a noite, vivemos a Celebração do Lava-pés com pessoas de todas as idades, concluindo com uma Adoração comunitária ao Santíssimo Sacramento. Clamamos sobre eles o Espírito Santo e os servimos com os seus Carismas.
Uma das moções proclamadas foi relacionada ao chamado feito por Deus a São Francisco de Assis, padroeiro daquela comunidade: “Reconstrói a minha Igreja”. Com isso, o Senhor chamava as crianças, jovens, adultos e casais a se engajarem no serviço daquela capela e que anunciassem a outros o que vivenciaram naquela noite.
O Senhor operou curas, derramou a graça de unidade entre eles por meio da reconciliação e da oração uns pelos outros e falou por meio de profecias sobre o que realizaria naquela comunidade.
Testemunhando as graças que receberam na oração, eles diziam quase unânimes: “sinto-me mais leve”; ou ainda: “sinto uma grande paz”. A leitura que faço disto, é que naquela noite, o Senhor os introduzia no mistério de sua Paixão, como ouvimos na liturgia da Sexta-feira: “a punição a Ele imposta era o preço da nossa paz, e suas feridas, o preço da nossa cura” (Is 53, 5).
Sexta-feira Santa: beijo a tua Cruz
A Sexta-feira amanhece silenciosa no sítio. Aproveitamos para rezar e meditar a Paixão do Senhor. Depois compartilhamos nossos testemunhos pessoais com os nossos anfitriões, Seu Hélio e dona Wilma. Na mesa, enquanto comíamos os pães em jejum, os corações se enchiam de louvor pelas obras de Deus na vida uns dos outros. O povo simples do campo tem uma fé poderosa e viva. À tarde, vivenciamos a Celebração do Beijo da Cruz na Capela de São Francisco e nos despedimos deles.
Estrada de barro vermelho, cheiro de campo, zona rural, coração ardente: “Vamos aos povoados vizinhos, para que eu pregue também lá” (Mc 1, 38). Tínhamos um novo destino: Portal da Chapada. Chegando ao destino, celebramos também com eles o Beijo da Cruz.
Após a celebração, fomos acolhidos na casa de Seu Luís, Dona Júlia e Juliana, filha deles. Quando a noite caiu, rezamos com a família o Santo Terço contemplando os Mistérios Dolorosos. Aproveitamos para ministrar a oração sobre eles. Depois trocamos testemunhos até a hora de dormir.
Sábado Santo: uma chama acesa.
Na manhã do Sábado, unidos a família que nos recebera, fomos visitar algumas casas. Trazíamos conosco a chama da fé de Nossa Senhora. Unidos a ela, espalhamos a esperança da Ressurreição às famílias que visitamos, rezando com elas e ouvindo os testemunhos. A presença de Maria era muito forte em todas as visitas. Não à toa, aquela comunidade pertence a ela: a capela tem como Padroeira Nossa Senhora de Aparecida.
Ao fim da tarde, dirigimo-nos a Juazeiro da Diviza. Lá celebramos a Vigília Pascal com simplicidade e muita fé na Ressurreição de Cristo. Convivemos durante toda a noite na casa de seu José, nosso anfitrião, unidos a sua família.
Domingo de Páscoa: “somos testemunhas de tudo o que Jesus fez”
Pela manhã, ainda em Juazeiro da Divisa, vivemos a Celebração do Domingo de Páscoa finalizando com uma oração carismática coordenada por Maclícia. Ouvindo os testemunhos, vimos nesta Comunidade um povo de muita fé e esperança em Deus e em Nossa Senhora.
Passamos ainda mais uma vez em Portal da Chapada para viver a Celebração do Domingo de Páscoa com eles também. Fizemos uma breve adoração comunitária com eles. Depois nos despedimos da comunidade.
Nestas duas celebrações vividas pela manhã, tive a oportunidade de pregar a Ressurreição do Senhor dando meu testemunho de vida, “de tudo o que Jesus fez” (At 10,39).
“Ele se manifestou enquanto caminhavam para o campo” (Mc 16, 12).
Sem dúvida, foi uma experiência enriquecedora, uma Páscoa diferente. Com efeito, “ele se manifestou de outra forma a dois deles, enquanto caminhavam para o campo” (Mc 16, 12). Provavelmente, esses dois discípulos dos quais narra São Marcos em seu Evangelho sejam os mesmos discípulos de Emaús, trazidos por São Lucas. Estes fazem a experiência com o Cristo Ressuscitado e imediatamente vão anunciar. Enquanto narravam aos outros “os acontecimentos do caminho”, “o próprio Senhor se apresentou no meio deles” (Lc 24, 35.36). Eles o veem novamente enquanto o anunciavam.
Assim também eu e Maclícia podemos dizer: nós o vimos no caminho! Em cada comunidade que passamos, enquanto meditávamos com eles as Escrituras e contávamos nossos testemunhos nas celebrações e visitas, os nossos corações ardiam e vimos o Senhor mais uma vez.
O que tenho a dizer não cabe nesse texto. Não obstante digo-o com a Palavra mencionada no inicio: “Muitas coisas vi em minhas viagens. Meu conhecimento é maior que muitas palavras” (Eclo 34, 10-12).
Meu agradecimento às famílias das Comunidades de São Francisco, Portal da Chapada e Juazeiro da Divisa que nos acolheram e nos ajudaram a viver tão bem e de uma maneira nova a Páscoa do Senhor.
“Ressuscitou, como havia dito!” (Mt 28, 6)
Shalom!
Emanuel Nilo da Silva Aires
Comunidade Católica Shalom – Missão Mossoró (RN)