Já faz mais de um ano que eu estive em Chaves – PA e vivi a experiência mais incrível da minha vida, da qual colho frutos até hoje. É como uma árvore que não cansa de dar frutos, e nos momentos que parecem mais secos, ela deixa cair uma fruta madura e doce, em um gesto delicado de amor de Deus.
Na época, me pediram para escrever sobre a missão, mas não conseguia colocar em palavras tudo que vivi. Foram tantas coisas que Deus fez em mim através daquela viagem, desde a decisão de ir. Chaves mudou muito em mim começando por todo o processo que Deus fez me conduzindo até lá.
Deus sempre falou muito comigo através do pobre, sempre foi um meio de Ele me tocar e há algum tempo eu conversava com minha acompanhadora sobre isso, foi então que ela me falou sobre a missão de Chaves, me deixando inquieta quanto ao desejo de ir em missão.
Em oração, pedia que o Senhor fosse claro comigo através da Palavra. E Ele foi muito claro. Me pedia para ofertar meus “cinco pães e dois peixinhos”, ofertar o pouco que eu tinha que Ele faria muito mais do que eu poderia imaginar.
Superando medos
Chaves mudou minha forma de ver o mundo, revelou minha vocação, o amor de Deus por mim. Na minha ida a Chaves me deparei com muitos medos. Morro de medo de barco e por conta disso, na minha mente controladora, tinha planejado toda minha viagem da forma mais rápida que encontrei na internet.
Pesquisando pela internet tinha planejado uma viagem prática e rápida, mas não sabia que essa forma era acesso apenas para a parte turística da Ilha do Marajó. Na realidade eu teria que viajar 7h deitada na rede de um barco. Isso mesmo, 7h juntando o balanço do barco com a rede. Para mim, que tenho tanto medo de barco, essa notícia quase levou a desisti. Mas em oração Deus falava muito claramente o Seu chamado.
Quanto mais próximo maior era o medo. Eu não conseguia dormir, era tomada por um temor enorme da viagem de barco, e com o tempo, as coisas só pareciam piorar, a previsão do tempo era de fortes chuvas. Mas tudo isso foi obra de Deus para vencer com Ele meus medos e ser presenteada com tudo que vivi, com tudo que envolve aquele lugar. A beleza da natureza, o amor das pessoas, a pobreza, a alegria na pobreza, o cuidado, a vontade das pessoas em acolher da melhor maneira possível, dar o melhor, a vida comunitária.
A missão
Estava no Marajó no período da peregrinação de Santo Antônio, padroeiro da cidade. Visitei várias casas levando a imagem do santo. Em cada casa demonstrações de fé, de acolhimento, de alegria em receber nossa visita. Vivi várias partes do Evangelho andando pelas ruas (grande parte feitas de “pontes” de madeira), levando sol e chuva, andando em lama e terra seca.
Senti as dificuldades da vida missionária, senti a sede das pessoas de receber Jesus, mas principalmente o quanto de Deus eles tinham a dar. Em meio as dificuldades de suas vidas em um ambiente tão pobre, passavam tanto amor. Provei do amor de Deus em cada detalhe, a cada minuto. Assisti, constrangida, diante de mim a “oferta da viúva”, como que ouvindo a narração de Jesus aos meus ouvidos. Vi o amor das famílias em meio às dificuldades financeiras, pais que se dedicavam aos filhos doentes. Amor, quanto amor há em Chaves.
As graças
Voltei renovada. Comemorei quando soube que atrasaria um dia de viagem por conta da maré. Sim, a maré controla a entrada e saída da Ilha, e era mais uma obra de Deus para mostrar que não controlo nada. Ganhei mais um dia em Chaves. Na ida, chorei várias vezes de medo, mas na volta chorava de alegria, de saudade, vontade de passar mais tempo naquelas terras, tão belas, que pretendo voltar o quanto antes. Sou eternamente grata a Deus e a Comunidade Shalom por me proporcionar ir em missão e conhecer esse lugar.
Mariane Klein, 29 anos, postulante da Comunidade de Aliança
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Esse testemunho da Mariane sobre Chaves, me dá medo tbm em questão a barco e tudo mais, mas tbm me dá mais desejo de participar desta expedição em Chaves!