O dia 31 de dezembro de 2022 foi diferente de todos os outros anos, pois além de vivê-lo em um seminário de vida para jovens aqui na missão de Roma, nesse mesmo dia recebemos, logo cedo, a notícia da páscoa do Papa Emérito Bento XVI. Ali tive a certeza de sua intercessão na vida daqueles jovens e porquê não na minha vida?!
No dia 03 de janeiro, estando já em Roma no recesso pós seminário, uma irmã da Comunidade de Aliança, sabendo das minhas limitações no joelho e coluna, ofereceu para me levar na Basílica de São Pedro e rezar diante do Papa Bento. Acompanhado por ela fiquei ao lado do corpo do Papa uns 40 minutos em oração e as primeiras palavras que surgiram em meu coração foram:
“Papa Bento, eu nunca pensei em ter a oportunidade de falar pessoalmente com um Papa, mas agora que o senhor está no céu creio que pode me escutar em audiência privada“.
Após dizer isso me veio a memória o santo que me escolheu no dia 31 de dezembro (seguindo a tradição da Comunidade de escolher um Santo amigo): “San Benedetto” e entendia que o Senhor estava me dando não somente São Bento, padroeiro da Europa, mas também Bento XVI, o humilde servo da vinha do Senhor.
Outra grande graça foi participar da missa de exéquias, no dia 5 de janeiro na praça de São Pedro, com toda aquela multidão que unida em oração rendia graças a Deus pela sua vida consumida até o fim por amor a Cristo e a sua Igreja. Como membros da Comunidade conseguíamos ouvir o eco das suas palavras pronunciadas naquela mesma praça em 2012 na aprovação definitiva dos nossos Estatutos: “Obrigado pela vossa presença! Acompanho-vos com a minha oração e minha benção, para que possam ser instrumentos alegres do amor e da misericórdia de Deus para todos aquele que vós encontrardes no vosso empenho missionário.” Essas palavras se atualizam no hoje da minha vida e tenho certeza que sua oração e benção me acompanharão agora mais de perto no cumprimento da vontade de Deus.
Rafael César,
Consagrado Comunidade de Vida, Seminarista
Missão Roma
Um grande marco
Encontrei pelo menos duas vezes o Cardeal Ratzinger quando era seminarista em Roma. Uma, diante do seu apartamento. Me apresentei, falei que era seminarista da Comunidade Shalom, de Fortaleza. Ele foi extremamente receptivo, amável, gentil. Demonstrou interesse, fez perguntas. Depois, após Santa Teresinha ser declarada Doutora da Igreja e Edith Stein ser canonizada, ele fez uma conferência muito bela sobre as duas na Pontifícia Universidade S. Tomás, onde eu estudava teologia. Marcou-me profundamente sua frase sobre os paradoxos de Deus que faz da santa uma doutora e da doutora uma santa.
Quando ele foi eleito Papa estive junto com o Moysés e a Emmir na audiência logo após a aprovação pontifícia dos estatutos da Comunidade. Eu segurava o ícone que nossa irmã Guadalupe fez para aquela ocasião, representando o ministério petrino e mariano na Igreja. Foi bonita a sua reação ao ver o ícone, expressão de admiração seguida da frase: Que bonito!.
Bento foi o Papa que tanto pregou a beleza do ser cristãos e a alegria de comunicá-lo. Apesar desses encontros, não posso dizer que ele me conheceu. Viu-me, mas não me conheceu, num sentido mais profundo. Logo após a sua “páscoa” aproveitando a graça da comunhão dos santos, tive uma boa conversa com ele, também no momento do velório, junto ao seu féretro. Pude enfim apresentar-me de maneira mais específica, agradecer todo o seu serviço à Igreja e encomendar às suas orações minhas intenções, as da Comunidade e de tantos que me são confiados.
Pe. João Wilkes
Consagrado Comunidade de Vida
Missão Roma