Esses dias, reencontrei um colega, o Hamilton, que trabalha como motorista de ônibus. Ele tem um filhinho de quase 3 anos, o João. Infelizmente, Hamilton e a esposa perderam o primeiro filho em decorrência de um aborto espontâneo.
Quando João nasceu, Hamilton não conseguiu folgar mais do que três dias e logo precisou retornar à linha Interior-Capital. No primeiro dia de volta ao trabalho, ele estava diferente. Brilho no olhar, sorriso no rosto, bom dia a todos que embarcavam. Sua alegria era genuína, transbordava do coração. Ele sentia a necessidade de compartilhá-la com todos.
Após um tempo de dor, oração e espera, ele podia dizer como o Salmista: “Mudaste o meu pranto em dança, tiraste a minha veste de lamento e me vestiste de alegria, para que o meu ser cante louvores a ti e não se cale” (Salmo 30).
Naquele dia, Hamilton irradiava a alegria de Deus e a compartilhou com todos os passageiros. Ao parar no semáforo, ele avistou um senhor que vendia geladinhos e perguntou:
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— Quanto é a caixa de dindin?
— Cinquenta — respondeu o vendedor.
— Cinquenta? Vou levar tudo! — disse Hamilton.
Sinal verde. O coletivo prosseguiu. De repente, um grito:
— Quem quer geladinho? — disse o motorista.
Os passageiros se entreolharam. Os mais tímidos levantaram a mão, e outros disseram em coro:
— Eu!
Hamilton pediu que um voluntário distribuísse a sobremesa gelada entre os passageiros. O ônibus não estava lotado, todos repetiram e ainda sobrou.
Lembrei-me então de algo que ouvi em uma homilia: é nos momentos de maior desesperança que a graça de Deus prorrompe, como um rio impetuoso, capaz de tudo transformar, mudando o luto em dança e ensinando-nos a encontrar a alegria genuína, mesmo diante das dificuldades e decepções que tentam nos abalar.