Meu nome é Emanuela, sou postulante da Comunidade Católica Shalom como Comunidade de Aliança, na Missão Petrolina (PE). Sou enfermeira especialista em obstetrícia e saúde da criança. Trabalho em um hospital de referência materno-infantil e há dois meses minha rotina profissional e pessoal, como a da maioria das pessoas, mudou completamente.
Atuando em sala de parto, tinha a graça de assistir o momento carregado de significados que acredito ser um dos mais marcantes da vida de uma mulher, o momento em que ela tem o privilégio de fazer parte do plano perfeito de amor de Deus para o mundo: dar a luz a um novo ser.
Ali eu me sentia bem, cômoda e feliz! Mas eis que o Senhor faz sempre novas todas as coisas e o novo que o Senhor quer fazer em mim hoje passa por tocar a dor mais atual da humanidade causada por algo invisível chamado coronavírus.
O chamado para compor a equipe da linha de frente do novo setor do hospital que recebe crianças e mulheres suspeitas ou confirmadas pela covid 19 chegou carregado de medo, questionamentos e mudanças.
A necessidade de intensificar o isolamento indo morar sozinha, o maior distanciamento da minha família, a tensão de lidar diretamente com algo que a própria Medicina ainda desconhece e que vem causando milhares de mortes no mundo, inclusive de colegas de profissão, me fizeram questionar ao Senhor: “por que eu?”.
Imediatamente, Ele me respondeu ao me fazer recordar da música “Oferta”, que foi a primeira música da Comunidade que aprendi, mesmo antes de conhecer a vocação. Eis o momento de viver na minha carne o: “quero ofertar minha vida, gastar os meus dias, minha juventude, por amor, porque o meu perfume não se espalhará, se não se derramar, por amor a Deus”.
Entendi, então, que a minha profissão é hoje um perfume precioso que o Senhor me deu, o qual não posso reter: preciso derramá-lo quando necessito calar o meu medo e as minhas inseguranças para ir ao encontro dos meus pacientes ou colegas de trabalho, também temerosos e inseguros, e sorrir com os olhos, porque apenas estes podem ser vistos por trás de tantos equipamentos de proteção, sendo assim sinal de paz e esperança.
Quando em meio a um procedimento difícil e doloroso, rezo silenciosamente uma Ave Maria para que Ela interceda pelo alívio das dores provocadas ou interceda pelo sucesso, em vista de amenizar os sofrimentos daquele paciente; quando preciso vencer o cansaço de horas dentro de um setor fechado, com uma máscara que sufoca, machuca o rosto, uma roupa quente, a vontade de ir ao banheiro ou mesmo beber um pouco de água…
E pensar que esse sacrifício não chega nem perto da dor de apenas um dos pregos cravados nas mãos de Nosso Senhor Jesus Cristo na Cruz, que redimiu os meus pecados.
Sigo esperançosa de que a misericórdia de Deus não nos faltará e que mesmo de um mal Ele nos proporcionará um bem maior.
Quando tudo isso passar, estaremos mais fortes, mais virtuosos, mais compassivos, teremos reaprendido, com a nossa solidão, a nos relacionarmos conosco mesmos, com os outros e com o próprio Deus; na necessidade de ficar em casa, a sermos mais família; na saudade da aglomeração, a valorizarmos as conversas, os sorrisos, o “olho no olho”, outrora substituídos por telas frias.
Para esse tempo, conto também com o auxílio e a amizade de Santa Teresinha do Menino Jesus: “Jesus não nos pede grandes ações, somente o abandono e a gratidão”.
Obrigada, Jesus, por me dar a graça de poder ofertar os meus simples perfumes em vista desse tempo!
Shalom!
Manu, você é fonte de vida e esperança!!! Parabéns pelo zelo com as palavras e amor a Deus!!! Sou grata por poder ouví-la!!
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