Neste tempo, contemplamos uma das mais belas faces do Amor. Face essa celebrada no Natal. Natal que não é um mero dia de presentes e de estar com aqueles que amamos, com parentes, amigos etc. Isso deveria ser o ordinário da vida. No Natal, celebramos o nascimento de Jesus, o Deus Eterno que escolheu fazer-se menino para nos salvar e nos dar a Paz; celebramos o Amor que se abaixou e, continuamente, segue a se abaixar até nós para nos enriquecer consigo mesmo.
No Natal, tocamos a lógica divina que muito difere da nossa e sem a qual não conseguimos ser felizes, não encontramos a Paz. Vamos nesse texto meditar um pouco sobre isso…
Neste doce abaixar-se de Deus até nós, temos tanto a contemplar, a aprender e a assimilar para nossas vidas. Imaginemos, contemplemos o presépio. Nele vemos o que a Sagrada Escritura nos diz. Encontramos o menino Deus que se encarnou e nasceu em um estábulo, numa manjedoura, cercado por anjos, seus pais, animais, pastores e reis. Ali Deus quis nascer. Sim, Ele quis!
1 – Deus quer nascer
Isso é a primeira coisa que precisamos compreender. Deus quer nascer! Ele nasce num tempo, num dado momento, a “plenitude dos tempos”, como diz S. Paulo. Ele nasce por que quer e quando quer. Ele nasce, Ele vem até nós, Ele cresce em nós. O movimento é basicamente dEle. Não somos nós que o trazemos à vida ou para nós. Ele vem, por iniciativa e vontade própria, no tempo que quer. Ele é o príncipe da Paz.
Neste movimento, Ele nasce numa manjedoura em um estábulo. A manjedoura e o estábulo não são locais limpos, dignos para qualquer nascimento. São locais sujos, cheios de animais, com alimento e esterco espalhados. Sim, um lugar indigno para um parto e ainda mais para o nascimento de Deus. Mas ali Ele quis nascer, ali Ele – novamente – fez uso da sua liberdade que quebra todo paradigma a que nos impomos.
2 – O cenário da Paz
Tantas vezes pedimos que Deus venha ao nosso coração, suplicamos que Ele nos salve e daí buscamos desmedidamente a nossa conversão. Ou melhor, buscamos a nossa perfeição. Deixamos de compreender que Deus não quer nascer em locais limpos, buscamos como fez José e Maria um lugar digno para esse momento. Mas não acolhemos que Ele não vai esperar por esse lugar digno, Ele quer nascer neste local sujo e indigno, cheio de animais e vermes, que é o nosso coração. Este é o cenário da Paz.
3 – Coadjuvantes da Paz
Aqui precisamos também nos assemelhar a José e Maria que acolheram o que Deus quis e não impediram o acontecimento do Mistério, ainda que em uma situação que aos seus olhos não era à devida. Eles buscaram, mesmo na situação desfavorável, torná-la a mais digna possível, sem rejeitá-la, permitindo que o Mistério acontecesse do jeito que Ele quis e que foi possível. Esses são os coadjuvantes da Paz.
4 – Convidados da Paz
Indigente, já nascendo num local indigno o menino Deus logo se fez atrair pelo outros. Logo atraiu os pastores do local. Esses são os marginalizados, esses já sabiam quem eram, já conheciam a Verdade de suas vidas. Já sabiam que eram pobres e frágeis nesse mundo, simples diante de tantas “complexidades”. Esses são aqueles a quem o próprio anjo quis convidar para o mistério. São os convidados da Paz.
5 – Atraídos pela Paz
Com eles, chega também o trio de reis vindo de reinos distantes. Reis que não era judeus, mas homens de boa vontade que estavam atentos à Vida que nos envolve, atentos à Verdade do coração do homem. Guiados pela estrela eles chegam para encontrar o Amor, sem precisar de convites. Encontrando, o contemplam e dão presentes. Reconhecem que ali está o tesouro da humanidade, o maior de todos eles. Estes são aqueles que são atraídos pela Paz.
6 – A Paz é fruto da Verdade
Desta noite esplendorosa só um não participou. Aquele que não conseguia olhar a vida com Verdade, que não conseguia compreender que a vida não é pra si e assim tantas vezes queria ser o centro da vida. Herodes, o que não encontrou a Paz.
Que nesta noite celebrada pela iniciativa de Deus que vem nos dar Sua Paz, não queiramos outra coisa. Celebremos tomados de boa vontade e esperança de sermos felizes e felicitarmos os outros. A Paz é fruto da Verdade. Verdade essa de quem somos, como estamos, onde estamos e com quem estamos. Verdade que nos reconcilia com Deus que docemente vem até nós. Nos reconcilia com nós mesmos, fracos e pequenos, insuficientes. E nos reconcilia com a vida, a criação que nos revela na Verdade de cada coração e criatura o Amor Eterno de Deus.
Que tenhamos a nossa esperança e alegria renovadas, pois o Amor nasceu e nasce em nós. Ele escolhe livremente nos visitar. Ele vem até nós sem merecermos. Ele é a nossa Paz!
João Rafael
Missionário da Comunidade Shalom