Quando levo turistas a centro artesanal costumo deixá-los à vontade e ficar observando o trabalho das rendeiras do Ceará. É impressionante a rapidez e destreza com que puxam as linhas e dão nós, trocam de cor mais rápido que meus olhos podem acompanhar e, a colocar espinhos para lá e para cá a fim de segurar as linhas, vão tecendo o desenho que trazem na imaginação. Para mim, são nós e espinhos, linhas puxadas e emendadas, rapidez, destreza e paciência, muita paciência. Para elas, a concretização de um desenho que trazem no coração.
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“Ói, Dona Maria, fiz prá sinhora!”, disse-me uma delas, certa vez, estendendo-me um paninho de bandeja. “Nossa! Nem vi você fazer isso!”. “Marrera isso qui eu tava fazenu u tempo todo!”, disse era, rindo com a mão sobre a boca a cobrir os dentes que faltavam.
Acho que isso me faz entender o Papa Francisco quando diz que o amor de Deus é um amor de artesão. Em primeiro lugar, Deus sabe bem o que faz. É especialista em amar, pois é puro amor e todo amor vem dele. Deus não é um iniciante que nos usa como cobaias. Ele, de fato, sabe o que faz. Enrola os cordões de nossa vida, faz os nós no momento certo para segurar as linhas que se entrançam, muda as cores no instante adequado, puxa, estica da forma mais correta para fazer de nós o belíssimo desenho que tem no coração.
Além disso, Ele é muito, muito paciente. Não se apressa em nada. Não joga fora o trabalho já feito, pois não erra nunca. Quando os espinhos caem, quando as linhas “ganham vida” e se metem a tecer por conta própria, ele simplesmente as deixa fazer o que quiserem, entretecer-se e se combinarem segundo elas próprias, pois, como diz Santo Agostinho, porque Deus é amor, ele nos deu a plena liberdade, inclusive para ofendê-lo e não crer nele. Entretanto, negou a si mesmo a liberdade de não nos perdoar quando nos arrependemos.
Portanto, quando nossas linhas se enrolam segundo nossa cabeça e distorcem o plano de amor inicial que ele tinha para conosco, aproveita tudo o que fizemos, mesmo o feio e mal feito e o transforma em bem feito em beleza, em alegria.
Deus é expert em amar. É paciente para esperar nosso tempo. Deixa-nos livres e, quando erramos e voltamos a Ele, tira do mal um bem. Seus dedos – codinome do Espírito Santo desde a Igreja primitiva – trabalham sempre agilmente com os nossos, ensinando-nos o artesanato do amor que tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
Shalom.
Eu gostaria de enviar um testemunho de como identifiquei-me com o carisma shalom. Este relato de vida é para mim muito especial e interessante por que diz respeito de como esta vocação é única e viva.
Tem haver com a voz de Maria e a voz da querida Emmir. Que para mim sempre foi uma referência.
Eu sou a Dani Martins e fui da comunidade de aliança por 10 anos e estou longe da comunidade há 11 anos. Eu me afastei da vocação, mas a vocação nunca se afastou de mim.
Olá, Daniela, Shalom!
Caso deseje enviar seu testemunho, envie para o e-mail portal@comshalom.org.
Deus te abençoe!