No Livro do Gênesis, aprendemos que, sobre a terra sem forma e vazia, Deus criou a luz e a separou das trevas e a chamou de Dia. A partir desta luz Deus criou e organizou todas as coisas, deixando que cada aurora precedesse cada nova criação. Quando tudo estava criado, na plenitude dia sétimo, Deus descansou, feliz.
> Leia aqui outros artigos de Emmir Nogueira na coluna Entrelinhas
Para o homem, que não tinha como ser feliz sozinho, Deus criou a mulher, tirada dele mesmo, igual a ele e ambos a imagem e semelhança de Deus e os entregou um ao outro, como auxiliares eficazes um do outro, em profunda relação de reciprocidade no amor.
O pecado do homem e da mulher, porém, traria de volta as trevas e a desordem sobre a terra. O coração do homem, cheio da luz e aconchego do relacionamento com Deus, encheu-se das profundas trevas do pecado.
Foi então que, mais uma vez em meio às trevas e à desordem, Deus anunciou a aurora que precederia a luz: Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. (Gen 1,15). Foi colocada, assim, na boca do próprio Deus, a primeira profecia sobre Maria, a Mulher. Embora ainda não criada, Maria, a Mulher, era, já, profecia, era, já, sonho lindo de Deus.
Nesta promessa da Luz do Mundo, que vencerá sobre o mal e será para ele a salvação, Deus já anuncia Maria, a Mulher, a Nova Eva, como aurora da luz que brilhará sobre as trevas do coração humano. A partir deste anúncio de Deus, Maria avança como a aurora, brilhante como o sol e como a lua (Cant.)
E assim, ao longo da caminhada dos patriarcas e profetas, Deus, como sábio pintor, vai colocando sobre o quadro da história da salvação, pinceladas do seu sonho, cores desta aurora que será a sua obra prima.
Como não ver Maria, grávida de Jesus, na sarça cheia de fogo que queima sem consumir? Como não ver, no rosto de Maria, grávida, o brilho deste fogo que é o próprio Deus, o próprio Eu sou?
Como não ver Maria, a aurora do Novo Sol, na coluna de fogo que guia o povo israelita pela escuridão do deserto até a terra prometida? E como olhar para Maria e não ver em seu interior o incêndio de amor causado pela presença de Deus em sua alma, em seu corpo, em sua feminilidade, em seu serviço, em seus atos de amor? Como não ver a coluna de fogo de amor e ternura em Maria de pé aos pés da cruz? Não queimava nela o mesmo amor que abrasava o coração de Jesus naquele momento, levando ambos à morte e morte de cruz?
Como não ver o mistério de Maria no carro de fogo no qual Deus se apresenta a Ezequiel? Assim como Ezequiel, por mais que tenha tentado, não conseguiu nos passar a imagem visual exata do carro de fogo, mas somente o que ele representava e transmitia, assim também nós e os poetas, e teólogos, santos e filósofos, não conseguimos mais que experimentar o que é esta Aurora, sendo-nos impossível descreve-la plenamente.
Como não ver Maria, mulher-louvor, na fornalha ardente, que ardia sem queimar e enchia de alegria e danças os três jovens e o anjo? Basta olhar Maria no Magnificat, com o coração, o corpo, a alma em chamas de amor e louvor, queimando sem se queimar porque, como disse D. Alberto, nada havia nela para ser queimado, para ser purificado.
Como não ver em Maria, Mãe das Dores, ao pé da cruz, o fogo que consome o sacrifico de Elias e derrota toda idolatria?
Como não ver Maria, mulher-porta do céu, no carro de fogo de Elias, que o arrebata aos céus com poder e rapidez impressionantes?
Como não ver Maria, a mulher-oração, no fogo perpétuo diante do Santo dos Santos no templo de Jerusalém?
Como não ver Maria, a mulher-acolhida, no fogo do lar sempre aceso na casa de Abraão e Sara, que recebem a visita de Deus nos três anjos, mulher judia que assa o pão, de Marta e Maria, que acolhem Jesus, na fogueira que o Filho acende para assar o peixe que alimenta os apóstolos?
Como não ver Maria, a mulher-do-sim, a obediente na fé, que brilha como estrela em Baruc, estrela que brilha em seu posto e se alegra; aquela a quem Deus chama e ela responde “Aqui estou” e, jubilosa, reflete para o seu Criador?
Como não ver e amar Maria, a mulher transfigurada, ao vê-la vestida de sol, mais brilhante do que a lua em que pisa e que as estrelas que a coroam em Apocalipse 12? Como não ver nesta mulher o brilho do amor total a Deus que a transfigura a partir de seu ventre, do seu coração, da sua alma?
Como não ver em seu rosto o êstase da mulher-esposa-do-Espírito, o refulgir interior que se une às línguas de fogo daquele dia de colheita?
Como não ver em seus olhos de mulher-assunta-ao-céu, o brilho do Cordeiro que tudo ilumina e faz desneessária a luz?
Como não vê-la nas velas que se consomem no sacrifício da missa e na chama que queima diante do tabernáculo?
Como não vê-la em cada homem e mulher cujo rosto se enche de luz ao tocar fogo na terra?
Como não vê-la em cada mulher, cuja extraordinária dignidade é manifestada na plenitude dos tempos, em Maria elevada de forma sobrenatural à união com Deus pela união entre mãe e filho que só a mulher tem como viver? (MD,4)
Como, em Maria, brilha este fogo?
-
- Como shekiná, de dentro para fora – o rosto de Moisés brilhava porque via a Deus face a face, era queimado pela presença exterior de Deus que, ainda assim, o colocava na fenda da rocha para fazer passar sobre ele a sua glória, a sua face. O rosto de Maria brilha e brilha sempre, mesmo depois do nascimento, porque o amor habitou em seu seio e tomou a sua carne. A carne de Maria fez-se amor. A carne de Maria foi feita Deus. João Paulo II – Maria alcança assim uma tal união com Deus que supera todas as expectativas do ser humano.(MD,3). É a imagem da sarça ardente.
- Como oração – Maria não reza. Ela é oração. Ela é vigília. O unir-se a Jesus em todo o seu ser dá a Maria os mesmos sentimentos de Cristo, a mesma mente de Cristo. Isto, porém, não é um processo de osmose, mas de participação, de diálogo, de história. É a imagem do fogo diante do Santo dos Santos, da vela e do tabernáculo,
- Como serviço – sobre isso, vou falar no ponto III.
- Como Igreja – a Mãe da Igreja, é Igreja. Maria, esposa do Espírito, que o acolhe sem reservas,brilha como fogo de amor na Igreja e a Igreja brilha como fogo de amor em Maria, sua Mãe.
- Como Estrela da Nova Evangelização –
- Como Intercessora e medianeira de todas as graças– Maria não é intercessora porque fica rezando sem prar, mas porque é o que é, porque cumpre perfeitamente a vontade do Pai. É a imagem do carro de fogo em que Elias é arrebatado.
Como, em Maria, se expressa este fogo?
1- Como serviço –
Um dia perguntaram a um grande mestre:
Quando é que o amor é verdadeiro?
Quando é fiel.
E quando é profundo?
Quando sofre.
E que língua fala o amor?
O amor não fala. O amor ama.
2- Como acolhida –
-
- Ubi amor, ibi oculos (lnde reina o amor, ali se encontram olhos que sabem ver – S. Tomás de Aquino). Os olhos do coração vêm antes que os olhos da mente. Isto é eminentemente feminino.
- Confiança, segurança – ler 139
- Cair nos braços um do outro Ler 129
3- Na força do humilde amor –
(palavras do monge russo Statrets Zosima no livro Irmãos Karamazov) Irmãos, não temais o pecado dos homens. Amai os homens mesmo em seu pecado, porque esta imagem do amor de Deus é também o cume do amor sobre a terra.Amai toda a criação divina em seu conjunto e em cada grão de areia. Amai toda névoa e todo raio de sol. Amai os animais, amai as plantas, amai todas as coisas! Se amares todas as coisas colherás aí o mistério de Deus. Começareis a amar todo o mundo com um amor total e universal… Amai particularmente as crianças, pois são como anjos, nao tem pecado e existem para nos ensinar a ternura, para purificar os nossos corações, e são para nós como uma profecia. Ai de quem escandalizar estes pequeninos… Alguns pensamentos, especialmente quando te vês diante do pecado do mundo, te deixam perplexo e tu te perguntas: “Devo recorrer à força ou ao humilde amor?” Decide sempre: “Recorrerei ao humilde amor.”Se tomares esta decisão de uma vez por todas, poderás elevar o mundo inteiro. O amor humilde é uma força formidável, a maior de todas, incomparável a qualquer outra força”. (Dostoievisky – Irmãos Karamazov)
4- Como amizade –
-
- amizade entre N. Sra e Jesus
- Vendi minha Ilha
- Alegra-te! Tenho um amigo! – Ler 124
- Sta Teresa, amor de amigo, amor esponsal
5- Como ternura – chamado do homem e da mulher!!! Deus é ternura e fomos criados à imagem e semelhança de Deus.
Uma palavra aos homens e as mulheres – também em maria deus veio trazer o fogo à terra
-
- ternura
- preconceito e piadas
- homem chamado ao dom no acolhimento
- mulher chamada ao acolhimento no dom