Nesta semana em que, em homenagem ao Ronaldo Pereira, nosso irmão querido, hoje habitante do céu, levamos a você um pouco do que F. Guibert pesquisou sobre o ícone a Porta do Céu com relação à devoção russa e canadense à “Porteira”. Esta história e os episódios inexplicáveis que a acompanham ajudam-nos a compreender que, em seu zelo materno, a “Portaïtissa” quer ser não somente a porta entre o Céu e a Terra, mas também entre Oriente e Ocidente. Cumpre, assim, sua missão de promotora da unidade entre Céu e Terra, entre Deus e o homem, entre homem e homem.
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A devoção russa à “portaïtissa”
O ícone da Portaïtissa (a “Vratarnista”, em russo) foi cercado, ao longo dos séculos, de uma grande devoção da parte do povo russo. Sua veneração compara-se à da famosa Virgem de Smolensk.
Desde o século XI, os peregrinos russos, tendo passado pelo Monte Athos, trouxeram consigo reproduções do ícone da PortaItissa de Iviron. Centenas entre eles tinham sido, segundo o Patriarcado de Moscou – que possui ainda uma destas cópias – miraculosos, particularmente com relação a muitas curas.
Em 1613 um movimento nacional colocou no trono Michel Romanov, vindo de uma linhagem iniciada pelo casamento de Ivan, o Terrível, com Anastásia Romanov. E Aléxis, seu filho, sucedeu-lhe com tzar.
Aléxis Romanov pediu, com o apoio do arquimandrita Nikon, futuro patriarca de todas as Rússias, uma cópia do ícone venerado pelos iconografistas da “santa montanha”. Este ícone foi recebido com grandes pompas em Moscou, no dia 13 de outubro de 1648 (13 de outubro, o dia no qual se produziria, em 1917, o grande milagre do sol, em Fátima).
Em 1669 o ícone foi solenemente instalado em uma capela edificada no centro da cidade, erigida entre as duas passagens pelas quais se entrava na Praça Vermelha.
Os peregrinos afluíam a esta capela dia e noite, uma vez que era permanentemente acessível. Não se fechava a capela onde se encontrava a Virgem.
Eram principalmente ortodoxos (já se havia dado a ruptura entre o Oriente e o Ocidente, após o lastimável conflito que opôs o patriarca de Constantinopla e o Papa, que residia em Roma) mas também cristãos de outras confissões e mesmo do Islã através dos mulçumanos do Cáucaso. E durante mais de dois séculos, precisamente 260 anos, a capela atraiu as multidões de Moscou, que se acotovelavam para colocar-se sob a pretação da Vratarnista: operários e camponeses, artistas e sábios, intelectuais e membros da alta sociedade.
Os próprios tzares se mostravam muito aficionados a este culto de seu povo. Faziam questão, por exemplo, de fazer sua entrada no Kremlin por estas “portas da Ressurreição” entre as quais tinha sido construído o pequeno santuário mariano.
Nicolas II, especialmente, quando residia em Moscou jamais deixava de vir recolher-se diante da Vratarnista.
Alexandra Feodorovna, sua esposa, passou ali a noite que antecedia seu coroamento como imperatriz.
Este fervor só cessaria com a chegada, em 1917, dos novos senhores da Rússia que promoveram em tantos locais a profanação dos santuários e a profanação de inumeráveis igrejas. Surpreendentemente, mesmo tendo a “Praça Vermelha” se tornado o espaço onde se desenrolavam as grandes paradas revolucionárias, o pequeno santuário não foi destruído…
Na noite do dia 29 de julho de 1929, a capela foi posta por terra e o ícone escondido, sendo reencontrado bem mais tarde na igreja de Sokolniki com provas seguras de sua autenticidade.
O sacrilégio provocou o supor da Rússia cristã e não impediu que os fiéis continuassem a vir recolher-se, mesmo com risco de vida, no local da capela destruída. Atualmente, procede-se à reconstrução desta capela na Praça Vermelha.
François-Xavier Guibert
Em L´Icône de Toulouse, Maria, Porte du Ciel, p. 25
Ed. Independente
Acabamos de apresentar a você o que aconteceu no Oriente. Veja também como esta Porteira que deseja estar sempre à porta, não se conteve em ficar no Oriente e fez sua passagem para o Ocidente: