A esmola já é sinal de Páscoa no nosso coração, pois ela é a expressão da nossa conversão; a graça nos capacita a passar da paralisia egoísta para o encontro de amor. Essa passagem da morte para a vida através do amor aos irmãos e irmãs está no centro da existência cristã e prossegue para além do período da Quaresma.
Assim como a fé e a esperança, a caridade é uma virtude teologal. Desse modo, não podemos exercê-la como um mero assistencialismo (populismo assistencial), ou como os ricos do templo, que colocavam no cofre aquilo que lhes sobrava. Somos convidados a ser como a pobre viúva que colocou tudo o que lhe restava para sustento; sendo assim, ao darmos esmola, façamos como meio de santificação. Ao mesmo tempo, exerçamos o bem na terra; ajuntemos tesouros no céu.
Em toda história da Igreja, temos exemplos de santos e santas que chegaram aos altares exercendo a caridade por tamanho amor a Jesus. Mesmo quando não possuíam nada para saciar a fome ou a necessidade dos pedintes, davam seus pertences. O que levou essas pessoas a agirem desse modo? Todos eles compartilhavam o mesmo sentimento: Cristo está presente na pessoa do pobre, do faminto, do sedento, do peregrino, do despido, dos enfermos, do preso… É Ele mesmo que diz, “(…) todas as vezes que fizeste isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizeste (Mt 25,40).
Cabe aqui também relembrar sobre a enfermidade espiritual para a qual a esmola se torna remédio: a avareza. Ela é um dos vícios mais repugnantes e dos que mais desfiguram o homem. O avarento é odiado por todos e é tido na sociedade como uma sanguessuga. A falta de amor o torna egoísta, o embrutece; fá-lo incapaz de pensamentos nobres e elevados; curva-o para a terra; fá-lo esquecer o céu. Ele se torna cruel para com o próximo, espezinha as leis da justiça e da caridade, oprime os pobres e aspira enriquecer-se de qualquer maneira, justa ou injustamente. As moedas que ajunta na bolsa são muitas vezes à custa das lágrimas e das privações dos infelizes.
O avarento não só é cruel para com os outros, mas também para consigo mesmo. Trabalha de manhã até a noite; come mal, veste-se pobremente e priva-se do conforto para economizar o quanto puder. Quanto sacrifício para não gastar!
Muitas vezes, o avarento jejua como um anacoreta, veste-se como um pedinte. Suporta o frio e o calor com uma constância comparável à dos santos mais austeros; o ouro é a sua divindade, para a qual sacrifica a saúde, as comodidades e, às vezes, a própria vida. Os avarentos mais teimosos preferem a morte a gastarem dinheiro com médico e remédios… A paixão pelo dinheiro, longe de diminuir com a idade, aumenta. Aproximando-se a hora da morte, aquela em que se deve abandonar tudo, maior é o apego às riquezas. Que dor não há de sentir o avaro ao separar-se de seus tesouros!
Neste tempo de grande desafio na humanidade, nós precisamos reaprender a amar. Pior do que não amar é amar mal. A esmola é o remédio; é o ágape; é o amor que vem de Deus, onde Ele nos chama e nos leva a aprender de novo a amar os outros , com respeito e humildade.
Tennessee Mendes
Comunidade de Vida
Missão de Natal