POEMA
Pequenos versos sobre uma grande santa
Desposada por Jesus
E tendo-o por desposado,
Uniu-se à Sua Cruz
Para fazê-lo mais amado
Como vítima se ofertou,
Uma coisa só com o Cordeiro Adorado,
Sobre cuja Face o orvalho se espalhou
Deixando de martírio seu coração encharcado
Amante do sacrifício e da dor,
Revelava segredos da verdadeira alegria
Quanto mais ansiava pelos doces beijos do Senhor,
Mais em caridade e em louvor se consumia
Para o amado Céu alçava voo dia a dia
Abandonada nos braços de seu Bem-Amado,
Que em doce troca de amor era embalado
Em seu peito onde temor não existia
A seus amigos Teresa ensina
Como pela pequena via andar
Até chegar o dia que não termina
Quando o Bom Deus, sem véu, iremos amar
Andréia Bernardo
Missionária da Comunidade de Vida
DICAS
Para conhecer mais Santa Teresinha
Você já deve ter visto o filme de Santa Teresinha ou mesmo já deve ter lido o livro História de uma Alma. Por isso, reunimos três formas diferentes de conhecer mais sobre essa jovem santa e os segredos da sua Pequena Via.
- Só Tenho Hoje
O CD Só tenho hoje é uma obra musical construída sobre os mais belos poemas da jovem carmelita francesa. Tem como a intenção alimentar a vida espiritual dos ouvintes e devotos. São nove faixas que exigiram muita oração, dedicação e inspiração para o trabalho de composição. Depois foram criados os arranjos e a identidade musical pelas mãos de Jorge Bonini, consagrado da Comunidade de Vida Shalom, que assinou a produção musical do projeto. Na execução das músicas, destacam-se diversos intérpretes da Comunidade, como Suely Façanha, Keciane Silva, Laura Salvador, Rafael Morel e outros. Na direção artística do projeto está Nicodemos Costa, também compositor de algumas das canções desse disco.
- A Santa Revolucionária
Como é próprio dos revolucionários, Teresa causou uma forte mudança na forma de viver o amor e a santidade. Aos 24 anos, a carmelita francesa era uma das forças de renovação da Igreja. Santa Teresa de Lisieux, a quem Pio X considerava a grande santa dos tempos modernos, pode ser reconhecida como uma luz que a providência de Deus acendeu para todos.
- Documentário brasileiro sobre Santa Teresinha
“Teresinha" retrata a história de Thérèse de Lisieux, conhecida popularmente no Brasil como Santa Teresinha do menino Jesus. Uma freira carmelita descalça que passa seus últimos dezoito meses de vida mergulhada na chamada “noite escura da alma". Sua trajetória na terra é contada no seus manuscritos autobiográficos, onde se encontra uma radiografia do dilema do homem moderno - o conflito entre a razão e a fé. O documentário apresenta a dimensão humana dessa jovem santa, que no final do século XIX vivenciou as questões e contradições que marcariam a pós-modernidade.
TESTEMUNHO
4 lições da jovem carmelita
Toda caminhada começa com o se reconhecer, ou seja, conhecer novamente a si próprio, e essa foi a primeira lição que aprendi com Santa Teresinha, a reconhecer a minha fraqueza, minhas limitações e pequenez, que me indica por qual caminho devo seguir e me insere na verdade, no lugar certo que devo estar.
O segundo passo foi entender que a santidade é possível, afinal Deus não poderia nos inspirar desejos irrealizáveis. E por isso, hoje desejo uma felicidade que não passa e anseio pela eternidade; portanto não posso parar nas minhas imperfeições, mas aceitar como sou e me lançar nos braços misericordiosos do Pai.
Teresinha, ainda me ensinou que minhas feridas não são determinantes para o meu futuro, sendo essa a terceira lição, entendo o quanto sou amada por Deus, e Ele, como médico dos médicos, não só trata como ainda dá sentido a elas.
Minha quarta e última lição, não menos importante, me fez aprender o valor do tempo presente, como assim o chamamos, é um presente. É a única oportunidade para acertar, mas também parar corrigir e pedir perdão a Deus e aos irmãos, pelos erros cometidos até aqui.
Que Santa Teresa, com sua simplicidade, contemplação, vida de oração e exemplo, continue a nos ensinar lições com estas, as quais nos motivem e acreditar na certeza do céu, nessa aventura de viver de amar.
Rafaela Carneiro e Alex Borges
Missão Shalom São Paulo
TESTEMUNHO
Teresinha e o Sacerdote Shalom
Conheci a Comunidade Católica Shalom em 1998. Foi quando teve a fundação na cidade onde eu morava, em Mossoró. Um encontro providencial na época certa e da forma que Deus quis.
Alguns meses antes desse encontro, o relicário de Santa Teresinha passava na cidade, e eu fui com um amigo do colégio para vê-lo. Já tinha tido uma experiência com o Espírito Santo em um encontro de final de semana, mas fui deixando de lado o que tinha vivido.
Lembro-me que me chamou a atenção quando diziam que Santa Teresinha tinha descoberto a vocação aos 15 anos, pois era a minha idade naquela época. “Santa Terezinha, ajuda-me a descobrir a minha vocação”. Percebi bem depois que esta oração inspirada foi ouvida.
Tudo isso se fez dentro de mim sem nenhum planejamento anterior.
Naquele mesmo ano, conheci a Comunidade e comecei a participar de um grupo de jovens. Não imaginava, nessa época, que tinha encontrado a minha vocação. Simplesmente fui vivendo o que Deus me dava.
Depois de ter me afastado e depois retornado ao grupo, fiz a escola de líderes jovens e lá o Senhor começou a me “inquietar” em relação a deixar realmente tudo para segui-Lo como Comunidade de Vida.
Fiz o meu ano vocacional e me lembro dos domingos, dos encontros onde até o sol parecia brilhar de forma diferente. Era como um fogo que aumentava cada vez mais dentro de mim e me impulsionava a me dar a Deus, a responder ao seu chamado, a fazer Sua Vontade.
Minha juventude pela Igreja
Nesse ano, também me preparei para fazer vestibular e fiz para psicologia. Recebi o resultado no retiro vocacional, tinha passado na "federal" de João Pessoa. Nesse retiro, Deus me falou fortemente: “Quem enviarei Eu? Quem irá por Mim?” E, aos 17 anos, no grande jubileu do ano 2000, entrei na Comunidade, na alegria de dar os meus melhores perfumes para Deus, a minha juventude pela Igreja e pelos homens que sofrem por não conhecê-Lo.
Hoje sou sacerdote na Comunidade de Vida Shalom e sou verdadeira e profundamente feliz por ser Shalom, por ter sido escolhido, por ser vaso de argila, fraco, mas que porta o magnífico tesouro desse Carisma e de Sua Presença.
Não tenha medo, você também, de ouvir a Voz de Deus que te chama. Ele realmente não tira nada que faz a vida bela e nobre, mas só dá tudo: Ele mesmo, nossa Paz. Vale a pena ouvir e responder à voz de Deus. Vale a pena tudo entregar por ter encontrado este incomparável tesouro que é o Seu Coração, que é a Sua Santíssima Vontade!
Pe. Leonardo Donelles
Comunidade Católica Shalom
FORMAÇÃO
Santa Teresinha e as cordas do coração
Teresa de Lisieux é a grande teóloga do coração do homem. Para falar sobre ele, Santa Teresinha usa um símbolo riquíssimo, que é a lira e suas quatro cordas. A lira é um instrumento musical da antiguidade. Em uma de suas poesias, Teresa diz: “Tu, Jesus, faz vibrar as quatro cordas e essas cordas são meu coração”.
Talvez pensemos em outro instrumento de quatro cordas, como o violino, porque hoje não se usa mais a lira. Pensem no nosso coração, homens e mulheres, com quatro cordas como um violino. No coração da mulher, essas quatro cordas são o amor de esposa, mãe, filha e irmã. E no homem é de esposo, de pai, de filho e de irmão. Somos chamados a amar em todas essas dimensões, com essas quatro cordas. Essas dimensões são fundamentais porque são a imagem do Deus amor, no corpo e na alma do homem e da mulher. Essas cordas são indestrutíveis. Podem ser feridas pelo pecado, mas quando o homem se abre ao amor de Jesus, elas são salvas, são curadas e, podemos dizer, reafinadas. Todos os santos insistem muito, especialmente os santos carmelitas, na purificação do coração. Devemos dar todo o nosso coração a Jesus, que é o Esposo e o Salvador, e Ele, por meio do Espírito Santo, nos ensina a amar com todo o coração, em todas as suas dimensões.
É importantíssimo não ignorar e não negar nunca nenhuma dessas cordas, mas examinar o nosso próprio coração. Muitas vezes acontece que vivemos uma corda com mais facilidade e outra com mais dificuldade, por causa de uma experiência positiva ou negativa que vivemos. Também devemos confiar e entregar o nosso coração a Nossa Senhora, a mãe e educadora maravilhosa do coração de todos os seus filhos. Os santos nos ensinam a confiar totalmente o nosso coração, corpo e alma ao amor materno de Maria. Trata-se da nossa formação permanente, da formação do nosso coração, que dura por toda a vida.
Corda exclusiva e inclusiva
Em todos os santos é possível ver essas quatro cordas que vibram, mas com muita diversidade. Diversidade se é homem ou mulher, se é uma pessoa casada ou consagrada no celibato. A música é sempre bela, mas com um tom diverso. Santa Teresinha é uma mulher consagrada no celibato e na virgindade, mas é também uma doutora da Igreja que fala de uma verdade para toda a Igreja. E, nela, a corda dominante é a corda esponsal, a corda de esposa. Em Santa Catarina de Sena, a corda dominante é a corda materna, todas a chamam de mãe.
Vamos resumir o ensinamento de Santa Teresinha para essas quatro cordas a partir da sua experiência como esposa, mãe, filha e irmã. Primeiro, é preciso notar que entre a corda esponsal e todas as outras tem uma diferença essencial. A corda esponsal é exclusiva, enquanto as outras cordas são inclusivas. Ou seja, o amor esponsal é só para uma pessoa. Para a pessoa casada, é o esposo ou a esposa; para a pessoa consagrada, é Jesus.
As outras cordas, mãe, filha e irmã são inclusivas, incluem todas as outras pessoas. Somos filhos dos nossos pais, mas, primeiro de Deus, da Igreja e de Maria. Chamamos os nossos superiores de pai e mãe, chamamos o papa de Santo Padre, e também uma mãe pode ter muitos filhos. A mãe de Santa Catarina de Sena tinha 25 filhos, mas Catarina tinha centenas de filhos espirituais, mas um único esposo: Jesus. É claro que o amor fraterno se estende a todos os homens. Qualquer homem é um irmão pelo qual Cristo morreu. Essa distinção é importantíssima.
Matrimônio espiritual
Para entender a esponsalidade de Santa Teresinha também é necessário entender os outros santos. O matrimônio espiritual é um grande tema dos santos carmelitas. São João da cruz e Santa Teresa de Ávila falam do matrimônio espiritual como a plena união com Deus, a qual todos são chamados a essa vocação universal à santidade e a esse matrimônio espiritual, igualmente para as pessoas casadas como para as consagradas no celibato. São João da Cruz fala da igualdade da aliança de amor entre o esposo e a esposa. Vocês podem observar que o nosso amor por Jesus e o amor de Jesus por nós é o mesmo, é a comunhão do Espírito Santo. Se nos abrirmos a Jesus, abrirmos o nosso coração, podemos amá-lo como Ele nos ama. Esse símbolo do matrimônio é iluminador, porque a esposa deve amar o esposo como ela é amada por ele. O matrimônio espiritual é como a santidade.
São João da Cruz dá o grande fundamento teológico quando diz que na árvore da cruz o Filho de Deus desposou e redimiu a natureza humana e, por consequência, todas as almas. São Paulo dizia que cada homem é um irmão pelo qual Jesus morreu. São João da Cruz diz que cada homem é uma alma esposa de Jesus. Cada pessoa é chamada a corresponder ao amor de Jesus e isso é, exatamente, a santidade.
Santa Teresa de Lisieux tem um tom um pouco diferente sobre o matrimônio espiritual. Para ela, o matrimônio espiritual é a consagração do coração ao celibato; assim, ela vive sua consagração religiosa como um verdadeiro matrimônio com Jesus. Ela conta, na obra História de uma alma, com uma expressão muito bela, que fez a profissão de fé no dia 8 de setembro, na Natividade de Maria: “Que bela festa na Natividade de Maria se tornar a esposa de Jesus”.
Vejamos a oração de Teresa no dia da sua profissão: “Ó Jesus, meu divino esposo, que eu jamais perca a segunda veste do meu Batismo. Toma-me antes que eu cometa a mais leve falta voluntária. Que eu nunca procure e nunca encontre senão a ti somente; que as criaturas não sejam nada para mim e que eu nada seja para elas, mas que tu, Jesus, sejas tudo! Que as coisas da terra jamais consigam perturbar a minha alma, que ninguém perturbe a minha paz; Jesus, só te peço a paz, e também o amor, o amor infinito sem outro limite além de ti, o amor que já não seja eu, mas tu, meu Jesus. Jesus, que por ti eu morra mártir, o martírio do coração ou do corpo, ou antes os dois… Dá-me cumprir meus votos em toda a perfeição e faze-me entender o que deve ser uma esposa tua. Faze que eu nunca seja um encargo para a comunidade, mas que ninguém se ocupe de mim; que eu seja olhada, pisada com desprezo, esquecida como um grãozinho de areia para ti, Jesus. Que tua vontade seja feita em mim, perfeitamente; que eu chegue ao lugar que me deves ter preparado. Jesus, faz-me que eu salve muitas almas. Que hoje não haja uma só condenada e que todas as almas do purgatório sejam salvas. Jesus, perdoa-me se digo coisas que não se deve dizer. Só quero dar-te prazer e consolar-te.”
Esta oração é uma das expressões mais belas, mais puras do amor esponsal a Jesus, de uma pessoa consagrada ao celibato. Percebemos que o primeiro aspecto é que Teresa chama Jesus de meu esposo pela primeira vez. Antes o chamava de meu noivo. Para ela, o noviciado era um tempo de noivado. Como vimos, o primeiro aspecto é essa exclusividade ao amor esponsal de Jesus. A pessoa casada tem apenas um esposo ou uma esposa. Isso é muito importante: a fidelidade é o que caracteriza o amor esponsal.
Alma esposa de Cristo
Podemos perceber ainda como Teresa expressa o amor por Jesus, o amor infinito, que só é possível vivê-lo na pequenez, como o grão de areia. Este é um amor muito íntimo, muito pessoal apenas com Jesus, mas não é um fechamento egoísta, individualista. Podemos ver que, no final da oração, ela pede a salvação para todos os homens, sem nenhuma exceção. Nunca nenhum outro santo tinha falado dessa maneira tão forte. Ela, como esposa de Cristo, espera a salvação de todos os irmãos. Façam também dessa profissão de Santa Teresinha as suas palavras para Jesus. Sem o amor esponsal de Jesus a fidelidade é impossível, tanto no matrimônio como no celibato consagrado.
Termino essas considerações sobre o amor esponsal fazendo referência também a outros santos: São Francisco de Assis, Chiara Lubich, que não é ainda santa, mas com certeza acontecerá sua beatificação. Tantos nos escritos de Francisco como nos de Chiara, o amor esponsal de Jesus é alargado a todo o povo de Deus. Nos escritos de São Francisco, na carta a todos os fiéis, ele afirma que aqueles que vivem na caridade, homem ou mulher, casado ou consagrado, todos são esposos, irmãos e filhos de Jesus. Quem faz a vontade de Deus é, para mim, irmão, mãe e esposa.
Recentemente, Chiara Lubich também trouxe esse discurso. Ela era uma mulher consagrada, fez os votos na castidade, vivia o amor esponsal de Jesus no celibato. Sua irmã era noiva e se preparava para o matrimônio. Chiara escreve para ela: “Assim como eu, você também se casou com Jesus crucificado.” O fruto mais belo dessa espiritualidade é Chiara Luce Badano, a primeira beata do movimento dos Folcolares. Ela nunca encontrou Chiara Lubich pessoalmente, mas sempre a escrevia cartas, e ela as respondia. Tinha uma troca de cartas entre a grande e a pequena Chiara. Chiara Lubich ensinava para as crianças a serem enamoradas por Jesus e, assim, Chiara Luce, com 10 anos, escreveu dizendo que tomou Jesus como seu esposo. Ela nunca tinha pensado em ser consagrada, queria se casar, mas era enamorada por Jesus esposo e preparava-se para um futuro matrimônio.
Naquele período, tinha na Itália aquela falsa liberdade sexual entre os jovens, era frequente que eles tivessem relação sexual, mas a jovem Chiara queria permanecer virgem até o matrimônio, que é a verdade própria do Evangelho que a Igreja proclama, e que- ria viver essa pureza porque, justamente, era enamorada por Jesus. Quando veio a terrível doença do tumor nos ossos, aos 16 anos, ela foi capaz de viver essa prova como união com Jesus crucificado. Deu um testemunho belíssimo de alegria e entendeu que não poderia nunca se casar. Ela preparou sua morte como o casamento com Jesus, pedindo para ser vestida com vestido de noiva. Chiara Luce e Santa Teresinha são muito preciosas, especialmente para os jovens de hoje!
Padre François-Marie Lethel
Secretário da Pontifícia Academia de Teologia