Cristo Ressuscitou, aleluia! Sim, verdadeiramente Ressuscitou, aleluia!
Nós estamos nessa Terça-feira de Páscoa, das Oitavas. As Oitavas são o mesmo dia com o Domingo da Ressurreição. Por isso, celebramos com a mesma intensidade, com o mesmo louvor, com a mesma fé, e podemos ser resgatados com a mesma força com o qual o Senhor resgatou Seus discípulos no Domingo de Páscoa. Por isso, nós estamos meditando os Evangelhos, e queremos meditar o desta Terça-feira.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém. Espírito Santo de Deus, força divina, venha sobre nós para que nossa mente se abra e acolhamos o anúncio da Ressurreição, e assim vivamos uma vida nova. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre, amém.
+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São João 20,11-18 – Naquele tempo, Maria estava do lado de fora do túmulo, chorando. Enquanto chorava, inclinou-se e olhou para dentro do túmulo. Viu, então, dois anjos vestidos de branco, sentados onde tinha sido posto o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. Os anjos perguntaram: ‘Mulher, por que choras?’ Ela respondeu: ‘Levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram’. Tendo dito isto, Maria voltou-se para trás e viu Jesus, de pé. Mas não sabia que era Jesus. Jesus perguntou-lhe: ‘Mulher, por que choras? A quem procuras?’ Pensando que era o jardineiro, Maria disse: ‘Senhor, se foste tu que o levaste dize-me onde o colocaste, e eu o irei buscar’. Então Jesus disse: ‘Maria!’ Ela voltou-se e exclamou, em hebraico: ‘Rabuni’ (que quer dizer: Mestre). Jesus disse: ‘Não me segures. Ainda não subi para junto do Pai. Mas vai dizer aos meus irmãos: subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus’. Então Maria Madalena foi anunciar aos discípulos: ‘Eu vi o Senhor!’, e contou o que Jesus lhe tinha dito. Palavra da Salvação.
O sepulcro vazio
Nós temos aqui Jesus após a Sua Ressurreição, e o momento em que Pedro e João vão ao sepulcro e constatam o sepulcro vazio. Maria Madalena vai lá também, e ela chora pela ausência do seu Senhor, o que é inteiramente compreensível, mas acontece algo muito importante!
Ela, quando se inclina para o interior do sepulcro para ver aquele lugar vazio, como a querer de algum modo uma proximidade com o seu Senhor, que não sabe onde está, mas ao menos se sabe que Ele esteve ali, aquele lugar é um memorial da presença de Cristo para ela. Por isso ela se inclina para o interior do sepulcro, e ela vê dois anjos vestidos de banco, sentados no lugar onde o corpo de Jesus fora colocado, um a cabeceira e o outro aos pés.
Para muitos biblistas, exegetas, compreendem aqui a visão da Arca da Aliança, particularmente o Propiciatório, a tampa da Arca da Aliança, que continha um anjo de um lado e um anjo do outro. A Arca da Aliança, no Propiciatório, nesta tampa era ali que o sacerdote aspergia o sangue que servia para a purificação. Era sobre a Arca que era aspergido este sangue. Deste modo, com a imagem de dois anjos, um na extremidade e o outro na outra extremidade, nós temos ali como testemunho de que o corpo de Jesus é o lugar do Propiciatório.
Há algo novo acontecendo
É ali, é este corpo onde cujo sangue traz a expiação dos pecados, mas há algo a mais dentro dessa temática! Porque são anjos e estão ali como tiveram sempre os anjos na vida de Jesus, de maneira muito particular no nascimento – e isso é atestado por Mateus, por Lucas, particularmente, em Mateus quando acompanha o nascimento, acompanha José no caminho para a compreensão daquilo que está acontecendo-, e também no anúncio da Ressurreição.
Os dois momentos também, vamos dizer assim, extremos da vida de Jesus, extremos no sentido de que é o momento inicial da vida humana de Jesus e da vida final, do momento final, da Sua Ressurreição, da Sua presença nesta terra. Os anjos estão ali também, nesses dois momentos, a indicar que toda a vida de Jesus é como esse Propiciatório, esse lugar de expiação, mas agora eles vêm anunciar mais: que essa expiação foi realizada. Há algo novo acontecendo.
“Os anjos perguntaram: ‘Mulher, por que choras?’”. Nas Sagradas Escrituras a pergunta, sobretudo a pergunta feita por Deus, é como que a introdução de um diálogo. É um modo de Deus como que penetrar o coração duro de uma pessoa. Assim, por exemplo, Deus se dirigiu a Adão depois do pecado: “Onde estás?”[1], Deus se dirigiu a Caim, quando matou Abel: “Onde está o teu irmão?[2]”. É como dando uma oportunidade de dialogar, de entrar neste mundo divino e compreender, ser admitido neste mistério para receber a vida que vem deste mistério.
Eles perguntam: “Por que choras?”. Ela olha tudo ainda com um olhar humano, e isso não é uma interpretação minha. De fato, na leitura do texto grego nós temos três modos no Evangelho de João, mas aqui dois modos com o qual se expressa o verbo olhar.
O primeiro é o verbo theoreo (θεωρεω / θεωρέω), de onde vem teoria. De fato, Maria vê esses dois anjos, mas é um ver físico que não acrescenta nada a nível de fé. Há outro modo de olhar, que é o verbo horao (οραω / ὁράω). João o coloca como especifico daquele ver que é físico, mas que é acompanhado da fé. É uma temática riquíssima dentro de todo o Evangelho de João! E de fato ela olha os anjos, mas ainda não consegue compreender o que está acontecendo.
“Levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram’. Tendo dito isto, Maria voltou-se para trás e viu Jesus, de pé”. A posição do Ressuscitado, de pé! Ela vê Jesus, theoreo, é o ver físico, sensorial. “Mas não sabia que era Jesus.
Jesus perguntou-lhe: ‘Mulher, por que choras?’”. Mais uma pergunta. Deus, neste tempo da Ressurreição, também nos dirige perguntas, para que o nosso coração entre em sintonia com o coração Dele e com a vida Dele.
“A quem procuras?”. Mais uma pergunta. “Pensando que era o jardineiro, Maria disse: ‘Senhor, se foste tu que o levaste dize-me onde o colocaste, e eu o irei buscar’”. Que palavras belas! Ela não está nem um pouco interessada nesse jardineiro, que ela pensava ser o jardineiro. Ela não está nem um pouco interessada.
O coração e todas as intenções delas estão voltados para o Senhor. Se foste tu que o levaste, eu não quero outra coisa, só diz-me, onde o colocastes, que eu o irei buscar! Maria quer buscar um corpo morto. Maria quer encontrar Jesus na fatalidade da morte. Jesus não se encontra mais nesse campo. Por isso ela não pode reconhecê-lo. É necessário despertar a fé em Maria, para que ela reconheça Jesus. É isso o que o Senhor vai fazer.
A palavra de Cristo comunicada
Como o Senhor vai fazer? O Senhor fala. “Então Jesus disse: ‘Maria!’”. A palavra de Deus, a palavra de Cristo comunicada, escutada, e o terreno fértil do coração de Maria, porque um terreno que busca incessantemente a Deus, deseja a Ele, busca a Ele, este terreno fértil pode acolher a semente da palavra. E o que essa palavra diz? O nome, a identidade de Maria. “Maria!”.
O texto é interessante, porque diz: “Voltando-se ela lhe diz, em hebraico: ‘Rabuni’”. Voltando-se! É a conversão, é o verbo da conversão. Ela se volta, por quê? É verdade que ela ama Jesus? Sim. É verdade que ela o busca de todo o coração? Sim. Mas é necessário mais do que isso. Para viver a conversão é necessária a fé, e quem desperta a fé em nossos corações é Deus, Seu Filho Jesus Cristo.
A fé é um dom teologal. Não é fruto de crenças e nem somente de concepções. A fé é um dom infundido por Cristo. Por isso, apesar de amar Jesus, ela precisou ser despertada na fé e, sobretudo, neste novo modo de fé, na fé em Cristo Ressuscitado. Não mais Cristo que permaneceria com eles como fora até então, mas nesta nova modalidade, neste novo modo de Cristo. A palavra de Cristo desperta a fé e a conversão, convoca Maria para a fé.
“Voltando-se ela lhe diz, em hebraico: ‘Rabuni’”, ou seja, Mestre, meu Mestre. “Jesus lhe diz: ‘Não me toques’”. Este versículo 17 está entre os mais debatidos dentro desse relato da Ressurreição em João. Jesus lhe diz: “Não me toques”. De fato, se nós formos olhar, temos o verbo áptesthai (ἅπτεσθαι), é um verbo ápto (ἅπτω), mas na sua forma médio-passiva. Esse verbo indica sim o tocar, mas indica também o segurar, o manter Jesus ali. “Não me toques, pois ainda não subi ao Pai”. Essas duas coisas estão relacionadas dentro da temática, mas são duas coisas que não são fáceis de compreender.
A primeira: “Não me entretenha aqui”. O “pois” não é necessário nesta tradução. É uma constatação de Jesus: “Ainda não subi para junto do Pai. Mas vai dizer aos meus irmãos: subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus’”. O que significa? Temos de pegar o versículo todo para buscar uma compreensão.
Jesus, desde João 13, fala da Sua passagem ao Pai. Ele fala de maneira muito clara, e inclusive fazendo uma relação entre a Páscoa, que significa passagem, e a Sua passagem para o Pai. A Sua passagem para o Pai se dá na Cruz e Ressurreição, mas a partir do capítulo 13, nos discursos de adeus, Jesus vai começar a prometer aos discípulos muitas coisas. Dentro de todo o Seu ensinamento Ele vai prometer a alegria, o Espírito, o Seu retorno, Ele vai prometer que os discípulos O verão novamente, que a tristeza dos discípulos vai se transformar em alegria, e vai prometer a paz.
Jesus cumpre todas essas promessas
De fato, Jesus cumpre todas essas promessas, mas ainda não as cumpriu, porque ainda não encontrou os Seus discípulos. Jesus, ao dizer: “Não me toques, pois ainda não subi ao Pai”, não está querendo dizer que Ele ainda não está em comunhão com o Pai, ou não foi visitar o Pai quase que geograficamente, fisicamente subiu e desceu. Ele já havia dito muitas vezes no Evangelho de João que Ele e o Pai são um, e de fato O são.
Por isso, o que se está querendo dizer aqui é muito mais profundo. Se está querendo dizer: “Eu ainda não cumpri as promessas relativas à minha Ressurreição, a esta subida”. Ou seja, para os discípulos ainda não está realizado. “Apesar de já estar Ressuscitado e de já poder realizar todas as promessas que lhes fiz, isso ainda não se deu. Por isso, não me entretenhas, vá logo! Eu tenho desejo de cumprir essas promessas!”.
Toda a temática dos discursos de adeus vai se dar na partida de Jesus para o Pai, que, repito, é a Sua Morte e Ressurreição, essa partida que realiza todas as promessas. Jesus diz: “É do vosso interesse que Eu vá para o Pai. Se eu não for, o Espírito não virá”[3]. Jesus ainda não cumpriu todas as promessas. Por isso, ele pede para Maria: “Não me entretenha aqui. Vai e dize aos meus irmãos”.
Mais uma vez: irmãos. Até esse momento Jesus nunca havia chamado os discípulos de irmãos. Mas eis que, pela graça deste novo dia da Ressurreição, de fato os discípulos se tornam participantes da dignidade do Filho de Deus. Não só os discípulos, mas todos aqueles que creem em Cristo, porque o prólogo falou: “Lhes deu o poder de se tornarem Filhos de Deus, todos aqueles que crerem Nele”[4].
Eu vi o Senhor
De fato, Jesus disse: “O que se deve dizer aos discípulos? Subo ao meu pai e vosso Pai, a meu Deus e vosso Deus”. O subir recorda aos discípulos todas as promessas da passagem de Cristo ao Pai, que serão realizadas justamente a partir do versículo 19, e Cristo vai cumprir todas as promessas que fizera em Seu Evangelho: a paz, o Espírito, a alegria. Todas as promessas são realizadas.
“Então Maria Madalena foi anunciar aos discípulos: ‘Eu vi o Senhor!’, e contou o que Jesus lhe tinha dito”. Vi o Senhor! Não mais o theoreo, o ver físico, mas agora o horao, este ver acompanhado da fé, este ver que nós também desejamos.
Por isso, Senhor, nós Te suplicamos que neste dia de Ressurreição Tu nos faças ver, ver a Tua Ressurreição, ver a grandeza de Tua vida em nós. E como aos discípulos, Senhor, venha também cumprir as Tuas promessas em nós: O Teu Espírito infundido em nossas vidas, que nos dará alegria, a Tua paz que vence o medo em nós. Ver-te de novo, que nos trará um profundo temor e o desejo de Te amar. Senhor, nós Te suplicamos: como fizestes aos Teus discípulos, faze-o também a nós.
Virgem Mãe, nós suplicamos que isso se realize por Tua intercessão. Sede em nosso favor, Virgem soberana, livrai-nos do inimigo com vosso valor. Glória seja ao Pai, ao Filho e ao Amor também, que é um só Deus, em pessoas três, agora e sempre e sem fim. Amém!
Cristo Ressuscitou, aleluia! Sim, verdadeiramente Ressuscitou, aleluia!
[1] Gênesis 3.
[2] Gênesis 4.
[3] João 16.
[4] João 1.
Formação Elton Alves
Transcrição Irlanda Aguiar
Ótimo estudo
Lindo estudo