Querido leitor,
Essa é uma carta para você que, assim como eu, não acredita mais no amor.
Bom, eu nasci em uma boa família, com suas dificuldades e realidades é claro, mas uma boa família. Eu cresci vendo meu pai sair de casa a cada dia para trabalhar e retornar cansado, tantas vezes esgotado, em cada noite, para nos garantir o conforto de um lar sem luxos, mas com a segurança de que teríamos o que comer no dia seguinte.
Quantas vezes vi meu pai frustrado por não conseguir nos dar aquilo que gostaria. Tantas foram as vezes em que a necessidade, o desemprego, a dor bateram em nossa porta e ele permaneceu de pé. Firme e confiante, lutou para cumprir o seu papel e ser para nós a segurança que precisávamos.
Nesse mesmo passo eu vi, e ainda vejo, minha mãe se dar a cada dia, sair de si mesma, e desempenhar funções das quais não gosta, apenas por amor. Ela superou o medo de uma gravidez de risco, enfrentou o temor de não ter como me alimentar por si mesma, abriu mão das suas seguranças profissionais.
Diante tudo isso, querido leitor, eu digo, com profunda sinceridade: EU NÃO ACREDITO NO AMOR.
Eu não acredito num amor que não se dá. Eu não acredito num amor que não espera. Eu não acredito num amor que não creia, contra toda esperança. Eu não acredito num amor baseado em expectativas irreais e idealizações de perfeição. Eu não acredito num amor que comece pelo “eu”. Eu não acredito num amor que fere e não cura. Eu não acredito num amor que não volta o olhar para cima, mas apenas para o próprio umbigo.
Mas eu acredito num amor que descobre, pacientemente, que amar é escolher amar a cada dia. Eu acredito num amor que é provado. Acredito num amor que acredita ser possível amar, apesar de toda dor. Amor que não projete no outro as dores e feridas de histórias e experiências anteriormente vividas.
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Acredito num amor restaurado, no vinho novo: como em Caná. Acredito no amor que prepara a festa e trás para ela, como oferta, a pobreza e o abaixar-se do seu vinho não tão bom. E que, trazendo esse vinho, convida Jesus e sua Mãe para prová-lo, para alegrarem-se com eles. Vinho da pequenez, vinho de quem assume a sua condição de anawim, de necessitado, vinho que clama o toque transformador de Jesus. Eu acredito no amor que, como em Caná, toma, prova, recolhe a oferta do vinho não tão bom e o transforma, oferecendo aos noivos um vinho muito melhor, o vinho novo, que trás vida em abundância àqueles e aos seus convivas. Eu creio no amor que se oferta, que se submete.
Mas querido leitor, eu só posso crer nesse amor, porque primeiro me questionei “ainda é possível acreditar no amor?” e assim descobri que a minha resposta estava na Cruz. Somente olhando para a Cruz eu posso acreditar que sim, é possível. É possível porque o Amor venceu. É possível porque todo amor parte d’Ele. É possível porque a cruz permanece, fixa, ainda que o mundo insista com suas voltas. É possível! É possível porque a cada dia essa mesma cruz me recorda que amar é deixar-se ferir pelo outro e no outro se derramar em misericórdia.
Querido leitor, “a cruz é o leito dos esponsais“, é nela e por ela que entenderemos e encarnaremos o amor que tudo crê.
Amanda Martins, discípula da Comunidade de Vida, na Missão de Natal