A minha história começa bem antes de eu conhecer o Shalom. Antes de eu conhecer o Shalom eu era uma pessoa comum: uma pessoa que não rezava, que queria fazer as coisas ao bel prazer, tudo tinha que ser na minha hora, quando eu quisesse, do jeito que eu quisesse. Eu só ia para a missa aos domingos, e praticamente não me confessava, no máximo uma ou duas vezes por ano. No início de 2022 porém eu estava passando por momentos bem delicados na minha vida, e já estava começando até mesmo a ter ansiedade.
Até que o término de um relacionamento foi a gota d’água em tudo o que eu estava vivendo – mas também foi o pontapé do meu processo de conversão. Eu fiquei arrasado na época, mas hoje eu agradeço por isso ter acontecido, porque foi ali onde começou a minha trajetória. Eu fiquei realmente muito mal: todas as noites eu deitava a cabeça no travesseiro com pensamentos e sentimentos muito ruins. Porém Deus foi me sustentando nessa época. Eu comecei a, todas as noites, ouvir as pregações do Frei Gilson, músicas católicas, pregações do Geraldinho da Missão resgate (pregador aqui da região do Cariri), e tudo era muito reconfortante para mim.
Até que um dia eu resolvi sair de minha casa e procurar algum lugar onde eu “me encaixasse”. Já estávamos no final da pandemia, portanto já podíamos sair de casa e ter reuniões, então eu comecei a frequentar um grupo de uma paróquia. Só que eu não me encaixava naquele grupo porque eu era o mais velho dali: a maioria das pessoas tinha em média 12, no máximo 16 anos enquanto eu já tinha 19 – ou seja, eu era o único maior de idade entre os participantes.
O sentimento de pertença
Com o tempo eu deixei de frequentar esse grupo. Foi quando me falaram sobre o Shalom. Era maio de 2022 e procurei “shalom” no instagram: vi que havia uma missão aqui em Juazeiro do Norte, olhei os horários, e vi que no sábado tinha grupo de iniciantes. Só que naquele sábado em específico ia acontecer um Seminário de Vida, e eu não sabia disso. Então, na tarde naquele sábado, eu resolvi ir no Shalom.
“Eu tinha pensamentos e sentimentos muito ruins. Porém Deus foi me sustentando: todas as noites eu ouvia as pregações do Frei Gilson. Até que um dia me falaram sobre o Shalom e eu pesquisei sobre isso no Instagram. Aí vi que havia uma missão em Juazeiro do Norte”
Chegando lá, eu perguntei pelo grupo de iniciantes, se haveria reunião naquele dia, e me falaram que estava acontecendo um seminário. Confesso que fiquei desanimado, mas as pessoas que me atenderam perceberam minha expressão e me acolheram muito bem. Então eles resolveram me levar para participar, naquele dia, de um grupo que já estava fechado. Detalhe, a pastora desse grupo hoje é minha irmã de célula, Letícia,
Houve louvor, momento de fraternidade, clamor ao espírito e depois de tudo aquilo eu já estava me sentindo melhor. Em seguida veio a pregação, que era sobre o amor de Deus. Quem estava pregando era o Leandro Costa (que hoje é meu Formador Comunitário na célula dos postulantes). Ali, tudo o Espírito Santo inspirou ele a falar, eu fui acolhendo no meu coração, até ao ponto de chorar escondido. Ali foi uma experiência muito forte.
Após o grupo de oração, os pastores me convidaram para participar do aniversário do PJJ (Projeto Juventude para Jesus) que naquele ano estava completando 33 anos. Eu não queria participar porque eu estava envergonhado: eu não tinha contribuído em nada para a realização da festa e não queria me sentir um penetra. Mas eles insistiram então eu acabei indo, e gostei muito.
Depois disso, eles me convidaram para o mesmo seminário que estava acontecendo, que era um seminário off-line para universitários. Eu achava que no seminário iria ter palestras, com apresentações em slides e tal. Eu não era muito fã de palestras mas eu pensei, “eles foram tão acolhedores comigo, me acolheram com tanto amor, com tanto carinho” que eu acabei decidindo ir. Chegou ao ponto de, quando eu cheguei em casa, eu falar para minha mãe que eu tinha encontrado o meu lar, a minha casa – o meu lugar era ali.
Conversão – o momento da virada
No dia seguinte, eu fui ao Seminário e participei das pregações, dos momentos de oração e adoração. E aí eis que chega o grande momento de todo Seminário de Vida, que é a efusão. Quando a pessoa que estava conduzindo o seminário de vida estava proclamando, ela ia falando tudo o que eu estava passando, tudo aquilo que eu tinha sofrido. E naquele instante eu senti algo tão grande no meu coração, algo queimando tão forte que hoje eu sei que era o Espírito Santo que estava agindo.
Todas as vezes que eu penso no momento da minha efusão logo me vem aquela cena do Canto das Írias, em que a Verdade está tirando toda aquela selvageria, as feridas do Homem. Eu só acreditei que era mesmo Deus agindo naquele momento porque eu não conhecia ninguém dali. A pregadora começou a falar coisas que só eu sabia, coisas que eu não tinha comentado com ninguém – naquele momento eu experimentei de um amor único que foi o amor de Deus.
Alguns dias antes eu estava pensando que tudo estava acabado para mim, mas ali eu percebi que minha vida estava apenas começando. Fui para o reencontro do Seminário de Vida, e os mesmos pastores que me acolheram se tornaram meus pastores no grupo de oração fechado que se formou após o Seminário. O nome do grupo era Fanuel, que significa face de Deus. Eu comecei a frequentar, a ser acompanhado e fui sendo fiel na minha participação. Eu fui vendo tudo aquilo que Deus me proporcionava.
O chamado à vocação Shalom
No ano seguinte eu ingressei no Vocacional 2023. Eu sentia que Deus queria algo de mim e então eu fui vivendo a experiência da providência e fui saindo de mim mesmo para poder viver aquilo que Ele queria que vivesse, que era fazer a vontade Dele. Eu tive experiências muito fortes no meu retiro de aprofundamento, e também quando estava fazendo experiência na Célula Comunitária, mas o ápice foi no Retiro Final quando eu e alguns irmãos de Juazeiro do Norte-CE fomos fazer o retiro final em Petrolina-PE.
Eu fui rezando com tudo aquilo que Deus me falava na oração, fui vivendo já como um membro da Comunidade no meu trabalho e na família. Deus foi me inspirando até o último momento, antes de receber a resposta final. Até então, eu não achava que eu iria ingressar: eu não me achava digno do Carisma porque eu me via uma pessoa imperfeita para um carisma tão belo. Porém Deus não quer os melhores, as peças de porcelana – ele quer os piores, os vasos de argila, porque Ele quer nos moldar.
“Uma coisa que eu pensava que seria o meu fim foi o início de tudo: o início de uma oferta de amor pelos jovens, pela Igreja, pelos homens.”
No dia que eu recebi a resposta (que foi em um sábado, dia de grupo de oração) o meu grupo estava fazendo uma adoração comunitária e, como eu disse, até o último instante eu não achava que fosse ingressar. Até que Deus, no momento da adoração, me fez lembrar de uma parte dos Escritos “Obra Nova”, que dizia que “esse é um caminho de e para a felicidade”. Ali eu fui me abandonando na vontade de Deus.
Logo depois eu fui receber minha resposta. A Secretaria Vocacional me chamou e, após rezar uma Ave Maria, logo de cara ela disse que a Comunidade tinha sido favorável ao meu pedido de ingresso e que o meu discernimento tinha sido bem tranquilo. Naquele momento eu tive a renovação da certeza de que eu sou amado por Deus e que Ele faz novas todas as coisas.
Hoje eu estou recebendo os Estatutos e me tornando um postulante de 1º ano como Comunidade de Aliança da Comunidade Católica Shalom. Uma coisa que eu pensava que seria o meu fim foi o início de tudo: o início de uma oferta de amor pelos jovens, pela Igreja, pelos homens. Desde o início o desejo de Deus era que eu ofertasse a minha, que eu fizesse a vontade dele e hoje eu sou muito feliz por cumprir isso. Eu sou muito feliz por ter irmãos que me amam e pela Comunidade como um todo. Enfim, é uma oferta que vale a pena.
Kauê Davidson, neo-postulante da Comunidade Shalom como Comunidade de Aliança
