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Fake News e Pós Verdade: meios de discernimento cristão

Importância de um bom discernimento, analisando-se com sabedoria tudo o que se ouve, vê ou mesmo se lê em veículos de comunicação

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O termo “Pós Verdade”, assim como a expressão Fake News, têm sido amplamente relacionados à atividade dos meios de comunicação que veiculam notícias, gerando frequentes dificuldades entre seus receptores para se discernir entre situações reais e imaginárias que são apresentados por meio da mídia e se propagam nas relações sociais.

Neste sentido, torna-se importante para os cristãos estarem cientes da influência que estas questões podem ter na sua vida cristã e encontrar formas de discernir suas decisões cotidianas analisando com sabedoria tudo o que ouve, vê ou lê nos diversos veículos de comunicação.

Conforme o Compendio de Doutrina Social da Igreja, no item 16, diante dos desafios postos “pela compreensão e pela gestão do pluralismo e das diferenças em todos os níveis de pensamento, de opção moral, de cultura, de adesão religiosa, de filosofia do progresso humano e social”, o cristão é chamado a “agir segundo as exigências ditadas pela prudência: é esta a virtude que dispõe a discernir em cada circunstância o verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para cumpri-lo”, tomando decisões coerentes, com realismo e senso de responsabilidade acerca das consequências das suas ações.

A Doutrina Social da Igreja, fundada na verdade revelada por meio das Sagradas Escrituras e da tradição dos primeiros cristãos, apresenta critérios, diretrizes e valores por meio dos quais “entende oferecer um contributo de verdade à questão do lugar do homem na natureza e na sociedade, afrontada pelas civilizações e culturas em que se manifesta a sabedoria da humanidade.”

Surge assim a necessidade de estar atento ao que hoje se intitula como “Pós Verdade” e Fake News. O primeiro termo vem sendo compreendido como uma corrente de pensamento que defende a postura de acreditar naquilo que corresponde às próprias emoções, ideologias, extrato cultural e crenças pessoais em detrimento de fatos objetivos, sem nenhum compromisso em apurar sua relação com a realidade.

Esta constitui uma indiferença à realidade contundente, uma vez que elimina a existência de fatos, deixando somente a interpretação de cada um para cada acontecimento. Assim, a verdade de cada um fica dependente da capacidade de convencimento daquele com o qual convive, especialmente dos meios de comunicação, com suas notícias, comentários ou previsões.

Por sua vez, as Fake News – ou falsas notícias – têm constituído um fenômeno crescente nos meios de comunicação social e consiste na divulgação de fatos, opiniões e ações reportadas pela mídia como verdadeiras, as quais são posteriormente negadas, ficando mais adiante comprovado serem sem consistência, em razão de conter informações parcialmente ou totalmente diversas da realidade.

Desde a antiguidade o ataque a reputações, realizado com objetivos competitivos, bem como previsões e divulgações de feitos com objetivo de espalhar terror, confusão e discórdia tem sido produzido pelo ser humano das mais diversas formas, de modo que a novidade das Fake News consiste na facilidade de meios pelos quais são produzidas e divulgadas.

Observa-se, portanto, que as duas temáticas estão relacionadas e têm em comum uma quebra no compromisso de pessoas, grupos e meios de comunicação na investigação e propagação da verdade, podendo gerar uma influência na opinião pública de longo alcance no espaço e no tempo, como também decisões irrefletidas por parte daqueles que detém autoridade pública.

Meios de discernimento cristão nestes tempos de “Fake News” e “Pós Verdade”

A Doutrina Social da Igreja, sobrepondo à denúncia dos males deste tempo o anúncio da verdade, convida o cristão a um humanismo integral e solidário conduzido por Aquele que é o Caminho, a Verdade e Vida, Jesus Cristo (Jo 14, 6) o Filho de Deus. Portanto, para a fé cristã, a Verdade é uma Pessoa, da qual provém toda sabedoria e Graça que o ser humano pode obter.

A Igreja enxerga o ser humano como pessoa considerada na sua unidade e na sua totalidade, corpo e alma, coração e consciência, pensamento e vontade, de modo que o sentido da sua existência, a verdade sobre o seu lugar na natureza e na sociedade solicitam o exercício da sua inteligência e da sua vontade e pode ser livremente buscado .

Assim, para discernir a verdade, é preciso examinar aquilo que favorece a comunhão e promove o bem e aquilo que, ao invés, tende a isolar, dividir e contrapor. Por isso, a verdade não se alcança autenticamente quando é imposta como algo de extrínseco e impessoal; mas brota de relações livres entre as pessoas, na escuta recíproca.

O Papa Francisco lembra que o melhor antídoto contra falsidades não são as estratégias, mas as pessoas: pessoas que, livres da ambição, estão prontas a ouvir e, através da fadiga dum diálogo sincero, deixam emergir a verdade; pessoas que, atraídas pelo bem, se mostram responsáveis no uso da linguagem. Informar é formar, é lidar com a vida das pessoas. Por isso, a precisão das fontes e a custódia da comunicação são verdadeiros e próprios processos de desenvolvimento do bem, que geram confiança e abrem vias de comunhão e de paz.

Postura do cristão diante de fatos noticiados nos mais diversos meios de comunicação

Faz-se necessário lidar corretamente com fontes e verificar notícias online sobretudo para que seus pensamentos não fiquem perturbados ou sejam acirradas as próprias concupiscências. Deve ser verificado se as imagens ou vídeos retirados das redes sociais não foram alterados; identificar e, em seguida, buscara a fonte original do conteúdo encontrado nas redes sociais, a fim de confirmar de onde o conteúdo veio de e se realmente está transmitindo a realidade, com a objetividade necessária.

Uma das vias destacadas pela Pontificia Academia de Ciências Sociais do Vaticano para combater a propagação da Pós-Verdade é uma educação ética e científica que cultive habilidades de busca da verdade. Para tanto, faz-se necessário “garantir o acesso universal a uma sólida formação crítica científica, humanística e ética desde a infância”, que renove a seriedade na busca da verdade, construa a sabedoria e o caráter, sinal de uma democracia saudável e florescente.

O documento produzido pela citada Academia acerca da relação entre verdade e pós verdade na comunicação, mídia e sociedade aponta para dois tipos de analfabetismo naqueles que propagam distorções da realidade: o analfabetismo científico e o analfabetismo ético. Para reduzir estes dois analfabetismos faz-se necessário um maior diálogo público entre fé e razão, tendo em vista fomentar a confiança social e criar condições mais férteis para dizer a verdade.

A Carta a Timóteo aponta com sabedoria as Sagradas Escrituras como inspiração divina para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, evitando estar sempre aprendendo sem jamais chegar ao conhecimento da verdade. Para o cristão, a verdade sobre cada coisa existe sim, e existe no singular e, embora ainda a veja “confusamente, como em um espelho” , aqueles que permanecerem firmes na Palavra, (I Cor 13,12) “conhecerão a verdade, e a verdade os libertará” (Jo 8,32).

Ana Carla Coelho Bessa
Membro da Comunidade Católica Shalom.
Doutora e Mestre em Direito Constitucional.

 

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