Formação

Família: um serviço de amor à vida

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Andréia Gripp
Missionária da Comunidade Católica Shalom
Entrevista Shalom Maná

 

Estamos no mês de maio, tradicionalmente conhecidocomo o mês das noivas, das mães, de Maria. Três motivos que envolvem a famíliae o matrimônio, assuntos que têm preocupado a Igreja nos últimos anos.

Basta olhar criticamente para a sociedadecontemporânea para ver que, paradoxalmente, o modernismo trouxe o homem aocentro da história e o esvaziou de sentido. Grandes questões que sempre acompanhamo ser humano, como o sentido da vida, o porquê do sofrimento, a inevitabilidadeda morte, entre outros, são tratadas com superficialidade. Por esse motivo, ohomem e a mulher contemporâneos experimentam uma sensação generalizada deinsegurança, de tensões, de agressividade, de desconfiança, de solidão, desofrimento, de revolta com a vida, de ceticismo.

Neste contexto, é inegável que as sociedades modernae a pós-moderna (ou ultra-moderna, como tem sido classificada atualmente), como seu secularismo e o seu individualismo, levaram o matrimônio à crise. Ossinais dessa crise são a proliferação dos divórcios e das uniões irregulares, odesrespeito às leis da vida, a perda do sentido cristão do amor conjugal, daprocriação e da educação dos filhos.

Como é a célula básica da sociedade, a crise dafamília leva à crise da própria sociedade. Afinal, como afirmou João Paulo II,na Exortação Apostólica “Familiaris Consortio”, no número 42: (a família)“possui vínculos vitais e orgânicos com a sociedade e constitui o seufundamento: da família saem, de fato, os cidadãos e na família encontram aprimeira escola daquelas virtudes sociais, que são a alma da vida e dodesenvolvimento da mesma sociedade”.

Para esclarecer algumas questões acerca da doutrinada Igreja com relação à família, entrevistamos o Bispo de Nova Friburgo epresidente do Instituto Pró-Família, Dom Rafael Llano Cifuentes, que durantemuitos anos foi o bispo animador da Pastoral da Família na Arquidiocese do Rioe presidente da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da CNBB.

O que é matrimônio?

Dom RafaelCifuentes – O matrimônio é umaaliança ou um contrato pelo qual o homem e a mulher aderem a uma instituiçãonatural que representa a comunhão da vida toda.

O quesignifica dizer que o matrimônio é um sacramento?

Jesus Cristo elevou à dignidade de sacramento ainstituição natural do matrimônio. Portanto, não o fez como aos outros, porcompleto, na sua raiz, mas se apoiou na base do matrimônio natural jáexistente, criado por Deus desde o início da humanidade.

Queconseqüências traz essa afirmação?

Em primeiro lugar, que não pode haver sacramento semque exista um contrato matrimonial válido. Em segundo, que os ministros dosacramento são os nubentes, e não o sacerdote. Em terceiro, que por isso podedispensar-se, em alguns casos, a cerimônia litúrgica e a presença do ministro,mas nunca a prestação do consentimento que é o que constitui o contrato. Porúltimo, que os pagãos, unidos em matrimônio de acordo com as normas do DireitoNatural, estão casados validamente, e, ao serem batizados, recebemautomaticamente o sacramento do matrimônio.

Então, qualo papel então do sacerdote na celebração do matrimônio?

O sacerdote não é, como dito antes, o ministro. Ele éapenas a “testemunha qualificada”.

Quais sãoas finalidades do matrimônio?

A procriação e educação dos filhos, o bem doscônjuges que compreende o amor, a satisfação sexual, a complementação daspersonalidades, a ajuda mútua, entre outras coisas.

Essasfinalidades estão separadas?

Não. Essas finalidades estão unidas. Deus deu aohomem a atração sexual para que realizasse a relação conjugal que, por sua vez,deve estar aberta à possibilidade da procriação, deixando a natureza atuar porsi própria. Por isso podemos dizer que os esposos “cooperam” com Deus natransmissão da vida e por isso se denomina “procriação” a geração dos filhos etambém, “ato procriador” o ato sexual.

Queimportância tem para o matrimônio o namoro e o noivado?

Tem muita importância. Quando são apressados e superficiais,essas duas etapas anteriores propiciam a imprevidência e o desconhecimento doparceiro, o que leva a uma decisão imatura e por isso perigosa. Quando, porém,é longo e profundo, ajuda a conhecer melhor a personalidade do outro e aponderar as circunstâncias para decidir quando, como e onde o casamento deveser realizado.

Eesse aprendizado do amor tem algumas condições?

Sim. Exige tempo e paciência. O amor amadurecido seatinge ao longo do tempo e seu aprendizado dura a vida toda.

Quais são osprincipais aspectos desse amor?

O respeito, a compreensão, o perdão, a paciência, aajuda mútua, a prestatividade sorridente, o espírito de serviço e desacrifício.

Dentreesses aspectos há algum mais importante?

Sim: o espírito de sacrifício, porque sacrificando oegoísmo, o comodismo, a impaciência, a irritabilidade e o mau humor saberemosviver os demais aspectos.

Em queconsiste a castidade conjugal?

A castidade conjugal não é uma repressão, mas o modohumano e profundo de amar o outro cônjuge. Consiste, portanto, em secomportarem mutuamente os cônjuges de acordo com as leis naturais e osdesígnios de Deus. Esta castidade comporta alguns aspectos, tais como:abster-se das desvirtuações do amor e dos abusos sexuais; moderar o uso doinstinto sexual como se modera, por exemplo, o instinto alimentar; respeitar asleis da vida sem separar a relação conjugal do seu caráter naturalmentefecundo, isto é, evitar os meios antinaturais para o controle da natalidade;viver a fidelidade conjugal, e fomentar um profundo amor mútuo que é o que dásentido verdadeiro à castidade matrimonial e à fidelidade.

O casalpode determinar, à sua vontade, as finalidades e a duração do matrimônio?

Não, porque o matrimônio é uma instituição naturalcriada por Deus e tem o seu conteúdo, finalidade e duração estabelecidas pelopróprio Deus.

O queacontece, então, quando o casal utiliza métodos artificiais para impossibilitara geração de um filho?

Acontece que se está frustrando a própria natureza ecom ela o ato criador de Deus através do qual nasce a vida humana. E esse atocriador se dá na relação sexual que une o homem e a mulher, por meio da qual seopera a fecundação.

Queacontece se os cônjuges determinam antes do casamento não ter filhos?

O fato seria tão grave que o Direito Canônicoconsideraria o matrimônio inválido ou nulo.

O que devefazer o casal se for necessário evitar filhos ou espaçar o seu nascimento?

Deve respeitar as leis da vida e servir-se delas deuma maneira natural, ou seja, tendo relações sexuais apenas nos períodosfecundos. Por outras palavras, utilizando o que se chama de métodos naturais.

… Métodosnaturais?

Sim. Chamamosde métodos naturais os diferentes procedimentos encaminhados a determinar omomento da ovulação para que, uma vez conhecido, os esposos possam, se quiseremespaçar as gravidezes, saber quando, por justa causa, devem abster-se do atoconjugal durante os dias férteis; ou, se desejarem a gravidez, saber quandofazer uso desses períodos férteis. São eles: Método Billings, Método Ogino-Knaus(“tabela”), Método da Temperatura e Método da Visualização da Saliva aoMicroscópio.

A Igrejarecomenda o uso dos métodos naturais?

Não, a Igreja não recomenda o uso dos métodosnaturais, simplesmente permite utilizá-los quando existam motivos que osjustifiquem.

Qual ocritério para tomar uma decisão verdadeiramente cristã?

Os esposos deverão ponderar, na presença de Deus, agravidade objetiva destas razões, implorando a luz do Espírito Santo paraenxergarem com claridade, como também aconselhar-se com um sacerdote que sejafiel ao Magistério da Igreja.

Acontinência periódica não tem um caráter negativo ou repressivo?

Não. Pelo contrário, representa o domínio de uminstinto e a prática de uma virtude que é válida, tanto para os cristãos quantopara os não cristãos. Com efeito, a continência deve ser vivida em muitascircunstâncias, como podem ser a ausência ou a doença de um dos cônjuges queimpede a relação conjugal, o resguardo necessário que há de viver a mãe antes edepois do parto, etc.. Quem não vive a continência não poderá ser fiel. Aliás,a Encíclica “Humanae Vitae” e outros muitos documentos do Magistério de JoãoPaulo II dizem que a continência, longe de prejudicar o casal, torna mais ricoe profundo o amor conjugal.


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