O mandamento do amor jamais deixará de ser vivido pelos cristãos porque é uma exigência do Evangelho. O próprio Jesus disse: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros.” (Jo 13,34) São Paulo confirma o caráter duradouro da caridade que se revela na caminhada temporal dos cristãos e se plenifica na posse eterna do amor de Deus: “O amor jamais acabará.” (1Cor 13,8) A vivência do amor compreende as relações interpessoais, familiares e sociais.
Estas interfaces da caridade sempre estarão articuladas de modo que ninguém será totalmente bom como indivíduo se não o for na convivência com seus semelhantes; não será uma pessoa exemplar na vida familiar se não o for no testemunho social,não praticará, efetivamente, a caridade social e não conseguir relacionar-se, respeitosamente, com os indivíduos. Alguém poderá enganar-se nessa matéria e poderá até mascarar sua conduta no relacionamento com os outros; porém, se não viver a caridade nessa tríplice dimensão do eu, da família e da sociedade, não experimentará o amor na sua relação com Deus. Em cada destas expressões,necessariamente, deve evidenciar-se a verdade do amor nas palavras, nos sentimentos e nos gestos das pessoas. A caridade na vida pessoal é um dom de inestimável valor que leva a uma prática da caridade social que,por sua vez, não se efetivará senão mediante a observância da justiça.
Em nossos dias, há exemplos admiráveis de caridade social pela via institucional, quando membros de determinadas entidades assumem o compromisso do serviço misericordioso aos irmãos necessitados. A Igreja desenvolve trabalhos nessa direção, desde os primórdios, mediante o carisma de ordens, congregações e institutos religiosos, colocando-se,solidariamente, ao lado de pessoas e grupos humanos, desassistidos familiar e socialmente. É evidente que a caridade não é praticada somente nos meios religiosos. Há também pessoas que, tocadas por um edificante senso de humanismo, agindo de forma silenciosa e oculta, se dedicam à causa de seus semelhantes, qualquer que seja o gênero de suas necessidades, uma vez que são movidas pelo desejo de fazer-lhes o bem.Nessa linha, graças à versatilidade da Internet, é admirável e louvável a prática do “trabalho voluntário online”, em franca difusão, por parte de profissionais com qualificação específica e de pessoas comuns que apoiam, solidariamente, a causa dos necessitados, em situações muito variadas.
A Carta Apostólica do Papa João Paulo II “No Início do Novo Milênio” fala de uma “fantasia da caridade”, como iniciativa solidária em relação às pessoas necessitadas. “E o cenário da pobreza poderá ampliar-se indefinidamente, se às antigas pobrezas acrescentarmos as novas que frequentemente atingem mesmo os ambientes e categorias dotados de recursos econômicos, mas sujeitos ao desespero da falta de sentido, à tentação da droga, à solidão na velhice ou na doença, à marginalização ou à discriminação social. O cristão, que se debruça sobre este cenário, deve aprender a fazer o seu ato de fé em Cristo, decifrando o apelo que Ele lança a partir deste mundo da pobreza. Trata-se de dar continuidade a uma tradição de caridade, que já teve inumeráveis manifestações nos dois milênios passados, mas que hoje requer, talvez,ainda maior capacidade inventiva.É hora duma nova ‘fantasia da caridade’, que se manifeste não só nem sobretudo na eficácia dos socorros prestados, mas na capacidade de pensar e ser solidário com quem sofre, de tal modo que o gesto de ajuda seja sentido, não como esmola humilhante, mas como partilha fraterna.”
O campo do serviço solidário, em face das múltiplas necessidades humanas,sempre suscitará generosas e criativas formas de se praticar a caridade.
Dom Genival Saraiva de França