Todos os biblistas que comentam esta passagem da Carta aos Hebreus “Jesus Cristo ontem e hoje; ele o será também por todos os séculos” (Hb 13,8) mostram que o Apóstolo Paulo ensina que é necessária uma fé imutável no Filho de Deus. A mesma crença que nele temos dois mil anos depois de sua vinda a este mundo é a fé de ontem, de hoje e de amanhã. Daí o dever de cada um deve se precaver da versatilidade doutrinal. O coração deve ser alimentado com a graça divina e não com a superstição que de nada aproveita ou com doutrinas peregrinas que deturpam a verdade fundamental. A fé é, com feito, é a acolhida da revelação salvadora de Deus em Jesus Cristo. É um caminhar por uma vereda salvífica por Ele traçada a qual se conhece e se reconhece por meio desta virtude teologal basilar. É no ato de fé que se dá a conversão e se capta a redenção gratuita do Redentor. Ela é, portanto, altamente provocativa e supõe uma adesão total. Inclui uma decisão fatal, definitiva que conduz à adesão completa a Jesus. Este apresenta sua doutrina como única tábua de salvação e o acatar da mesma faz irromper na vida do batizado a força e o poder soberano do Ser Supremo. Não se trata de uma posse tranqüila de um tesouro celestial, pois esta virtude inclui uma trajetória que é um movimento ininterrupto na imersão nas verdades sobrenaturais. Daí o apelo registrado no Evangelho: “Senhor, aumenta-nos a fé” (Lc 17,5). É que a fé faz eclodir uma dimensão de maravilhosa compreensão do destino de Cristo enquanto única solução para todos os problemas humanos. O objeto essencial é Deus que se manifesta em Jesus Salvador o que supõe, por isto mesmo, a rejeição de todos os outros poderes redentores e o afastamento de qualquer ídolo (Rm 5,2). Esta via salvadora é aberta a todos os seres racionais (Gl 2,15 ss) e tende à transformação no mesmo Cristo, desde que haja abertura para os planos divinos. É um acatamento do novo Adão, uma passagem do não-ser para o Ser Subsistente por meio do Pontífice que liga a criatura ao Criador, o finito, o tempo à Eternidade. O tornar-se crente (1 Ts 1,8) significa, portanto, uma responsabilidade enorme, pois quem trai o Cristo no qual se diz crer leva à desfiguração do mesmo Senhor. Daí a insistência do Apóstolo Paulo no permanecer na fé (1 Cor 16,13), pois Jesus é o mesmo sempre e não pode ser mostrado ao mundo diferentemente. Tudo isto inclui o recusar cada cristão sua maneira individual ou deturpada de contemplar Jesus e sua obra redentora, forcejando por ajustá-la a seus moldes mesquinhos. É que acatar a palavra revelada supõe obediência (Rm 10,16) e renúncia ao modo individual de interpretar as realidades visíveis e invisíveis. O saber da fé e o manifestar deste conhecimento vem a ser uma autocompreensão do homem, mas, isto sim, na ótica do Criador, não da criatura. É por isto que a fé demonstra para o crente que ele será salvo não pelas suas obras, mas pelos méritos infinitos de Jesus, que entretanto exige uma aceitação completa de sua doutrina com a qual o fiel deve se conformar, sob pena de não se envolver nesta redenção que Ele oferece. É que a fé determina, dá forma à existência do batizado que vive de acordo como que ele crê. Trata-se de um comportamento ético delineado pela fé (Tg 2, 14-26). Em conseqüência esta virtude leva à luz, como mostra João: “Aquele que pratica a verdade chega-se para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas; porque são feitas segundo Deus” (Jo 3,21). De tudo isto se pode concluir que a fé não leva nunca a um esquema teórico, mas visa o modo de ser do cristão, dando-lhe características que o distinguem onde quer que ele esteja. É o que acontecia no início do cristianismo quando os pagãos maravilhados exclamavam referindo-se aos primeiros epígonos de Jesus: “Vejam como eles se amam”! A grande questão para todos que têm fé é perseverar na mesma e esta era a grande preocupação do Apóstolo Paulo que continuamente advertia sob a necessidade de não se afastar da verdade. São João também demonstra que cumpre abjurar ao “pai da mentira” que é satanás (Jo 8,4-47). Apenas assim, de fato, Jesus será para cada um de seus seguidores, ontem, hoje, amanhã e sempre o único Salvador!
Fonte: Catolicanet