Quando pensamos na promessa de felicidade feita por Jesus, logo recordamos: “Se compreenderdes isso e o praticardes, sereis felizes” (Jo 13,17). Não seria incorreto pensar que “isso” se refira a ‘lavar os pés uns dos outros’, pois este foi o gesto de Jesus naquele momento. E realmente, quando buscamos a felicidade do outro, somos felizes: “há mais alegria em dar do que em receber” (At 20,35).
Ao mesmo tempo, não se pode ignorar que, apesar de ter-lhe sido prometido cem vezes mais ainda nesta terra, Pedro foi perseguido durante toda a sua vida missionária até morrer crucificado de cabeça para baixo em Roma. Como então compreender a felicidade prometida pelo Senhor àqueles que a Ele se confiam?
Analisando novamente a passagem do Lava-pés e fazendo uma leitura mais ampla do versículo já citado, encontramos algo mais:
“O servo não é maior do que o seu senhor,
nem o enviado maior do que aquele que o enviou.
Se compreenderdes isso e o praticardes, sereis felizes.”
(Jo 13,16-17)
A felicidade é confiar no Senhor, confiar nos planos Daquele que é maior do que nós.
À vidente de Lourdes, Santa Bernadete Soubirous, Nossa Senhora prometeu: “Não te prometo fazer-te feliz neste mundo, mas sim no próximo”. Na verdade, o final feliz almejado por todo ser humano não está nesta terra. Nem poderíamos comprovar isto diante de tantos exemplos de homens e mulheres inocentes que vivem sofrimentos atrozes durante toda a sua vida. A felicidade que podemos encontrar aqui, a realização pessoal, os sonhos, as esperanças, as curas, as conquistas, nada se compara à felicidade prometida por Jesus. De fato, se compreendemos e confiamos que Deus é maior do que nossos projetos de vida nesta terra, então sim podemos ser verdadeiramente felizes, mesmo em meio a enormes sofrimentos.
E a Divina Providência?
Deus Pai é um ser pessoal, dotado de vontade e liberdade. Sim, Deus é livre e Ele pode fazer o que quiser. Pode atender a nossas preces, realizar nossos sonhos, pois nada é impossível a Ele. Mas sim, ele é livre para não realizar nossos projetos, para não atender a nossas preces. Pelo menos não da forma como esperamos, mas certamente de uma maneira melhor, pois Deus é perfeitamente justo e misericordioso e quer nossa felicidade eterna.
“Felizes os que habitam vossa casa.” (Sl 83)
Quando confiamos na vida eterna, quando nossa esperança não está mais reclusa nas coisas deste tempo, então podemos compreender a Divina Providência. O Catecismo diz: ”a Divina Providência consiste nas disposições pelas quais Deus conduz, com sabedoria e amor, todas as criaturas até seu fim último” (cf. CIC 321). Neste sentido, compreendemos o que nos diz Jesus: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e Sua Justiça, e todas as coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6,33). Compreendemos também porque afirma Santa Teresa d’Ávila:
Nada te perturbe, nada te espante.
Tudo passa, Deus não muda.
A paciência tudo alcança.
Quem a Deus tem, nada lhe falta: só Deus basta.
Eleva o pensamento, ao céu sobe.
Por nada te angusties, nada te perturbe.
A Jesus Cristo segue, com grande entrega.
E, venha o que vier, nada te espante.
Vês a glória do mundo? É glória vã. Nada tem de estável, tudo passa.
Deseje as coisas celestes que sempre duram.
Fiel e rico em promessas, Deus não muda.
Ama-o como merece, Bondade Imensa.
Quem a Deus tem, mesmo que passe por momentos difíceis,
sendo Deus o seu tesouro, nada lhe falta. Só Deus basta!