Apesar das tensões históricas e doutrinárias, o diálogo e comunhão da Igreja Católica com fiéis cristãos de origem ortodoxa ou protestante é um pouco mais simples, pois temos uma referência doutrinal de base comum, ou seja, as Escrituras Sagradas e a fé em Cristo. Mesmo o diálogo com Judeus pode ser bem promissor, pois acreditamos nos Mandamentos e numa instância última (Deus), causa eficiente e geradora de tudo o que existe, eles chamam de “Yahweh” e nós chamamos de “Pai”. Leia:
“Aqueles que ainda não receberam o Evangelho estão também, de uma ou de outra forma, ordenados ao povo de Deus: A relação da Igreja com o Povo Judaico. A Igreja, povo de Deus na nova Aliança, ao perscrutar o seu próprio mistério, descobre o laço que a une ao povo judaico, «a quem Deus falou primeiro. Ao invés das outras religiões não cristãs, a fé judaica é já uma resposta à revelação de Deus na antiga Aliança. É ao povo judaico que ‘pertencem a adoção filial, a glória, as alianças, a legislação, o culto, as promessas […] e os patriarcas; desse povo Cristo nasceu segundo a carne’ (Rm 9,4-5); porque ‘os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis’ (Rm 11,29)” (CIC 839).
A Igreja Católica, confiante num Deus-amor, além dos fiéis de outras denominações cristãs e com o povo judeu, vê com otimismo os princípios básicos e comuns, mesmo com muçulmanos: “O desígnio de salvação envolve igualmente os que reconhecem o Criador, entre os quais, em primeiro lugar, os muçulmanos que declarando guardar a fé de Abraão, conosco adoram o Deus único e misericordioso que há de julgar os homens no último dia” (CIC 841).
“A Igreja reconhece nas outras religiões a busca, «ainda nas sombras e sob imagens», do Deus desconhecido, mas próximo, pois é Ele quem a todos dá vida, respiração e todas as coisas e quer que todos os homens se salvem. Assim, a Igreja considera tudo quanto nas outras religiões pode encontrar-se de bom e verdadeiro, «como uma preparação evangélica e um dom d’Aquele que ilumina todo o homem, para que, finalmente, tenha a vida” (CIC 843).
Porém, não raramente se ouve em certos discursos: “Fora da Igreja não há salvação!” Como afirmar uma coisa, sem negar outra? O Catecismo explica:
“Formulada de modo positivo, significa que toda a salvação vem de Cristo-Cabeça pela Igreja que é o seu Corpo: O santo Concílio «ensina, apoiado na Sagrada Escritura e na Tradição que esta Igreja, peregrina na terra, é necessária à salvação. De fato, só Cristo é mediador e caminho de salvação. Ora, Ele torna-se-nos presente no seu Corpo, que é a Igreja. Ao afirmar-nos expressamente a necessidade da fé e do Batismo, Cristo confirma-nos, ao mesmo tempo, a necessidade da própria Igreja, na qual os homens entram pela porta do Baptismo. É por isso que não se podem salvar aqueles que, não ignorando que Deus, por Jesus Cristo, fundou a Igreja Católica como necessária, se recusam a entrar nela ou a nela perseverar” (CIC 846).
Resumindo, é diferente quem não está em plena comunhão de fé com a Igreja por ignorância, de alguém que embora tenha mergulhado nos tesouros doutrinais da fé, a renega por obstinação. “Esta afirmação não visa aqueles que, sem culpa da sua parte, ignoram Cristo e a sua igreja: ‘Com efeito, também podem conseguir a salvação eterna aqueles que, ignorando sem culpa o Evangelho de Cristo e a sua Igreja, no entanto procuram Deus com um coração sincero e se esforçam, sob o influxo da graça, por cumprir a sua vontade conhecida através do que a consciência lhes dita’” (CIC 847).
Atualmente, temos inimigos muito mais ameaçadores do que as eventuais diferenças doutrinárias entre nós, cristãos. Além disso, Deus tem sua própria estratégia de ação. A Igreja, sem dúvida, é o caminho formal escolhido por Ele. Porém, reduzir Seu poder e capacidade de feitos às ações da Igreja, não seria o mais sábio. “Deus pode, por caminhos dele conhecidos, levar à fé todos os homens que sem culpa própria ignoram o Evangelho. Pois ‘sem a fé é impossível agradar-lhe’. Mesmo assim, cabe à Igreja o dever e também o direito sagrado de evangelizar todos os homens” (CIC 848). O diálogo e fidelidade na vivência da própria fé são o maior combate a heresias no seio da Igreja.
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