De origem profundamente católica, o São João sempre foi uma data de celebração e memória de dois santos importantes para a história da igreja: São Pedro e São João Batista. No entanto, ao longo do tempo, observou-se uma banalização dessa data. Cada vez mais voltada para músicas seculares e comidas típicas, o caráter religioso da celebração foi se perdendo.
No meio desse movimento, surgem bandas católicas, que buscam unir forró com a religiosidade, trazendo de volta a tradição, e convidando o público a viver um momento de celebração, respeitando e seguindo a fé.
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Iniciada em 2005 a banda Brasa Viva tem como principal missão propor um retorno às tradições, sobretudo no período junino. “A gente entende que as tradições e as devoções existentes na nossa cultura são muito presentes e muito fortes. Então, o que a gente quer hoje, é fazer com que a tradição, a devoção, a fé e religiosidade sejam a nossa principal bandeira, mantendo o respeito aos elementos culturais, mas lembrando sempre quem é o Autor”, disse Daniel Renno, fundador e cantor do grupo.
Membro da comunidade aliança da Comunidade Católica Shalom, Daniel Renno conheceu a comunidade em 1995, e, desde o início, iniciou seu apostolado servindo no ministério de liturgia e, em seguida, no de música. “A ideia de criar a banda ocorreu de forma totalmente espontânea: o nosso coordenador apostólico fez um convite, como nós moramos numa capital que tem muita influência dos ritmos juninos, ele nos convidou a tocar na semana junina do Shalom, fazer uma brincadeira, e aí o que aconteceu foi quando eu cheguei no Shalom, olhei para o flanelógrafo e lá tinha as atrações da semana e tinha assim forró Brasa Viva, ‘poxa massa, arrumaram uma banda aqui para tocar na nossa semana junina’, eu perguntei ao coordenador quem era, ele disse ‘vocês, e aí eu tomei aquele susto. Nessa mesma época, a Emmir Nogueira, cofundadora da Comunidade Shalom, tinha lançado o livro Louvor Brasa Vida, e eu acreditei que com aquele nome nasceu também um desígnio de Deus dentro do nosso carisma, somos a primeira banda de forró dentro da comunidade católica. Aquela pequena brincadeira foi se tornando algo sério, e já no primeiro ano da existência Louvor Brasa Viva, a gente já era um grupo composto por mais de 14 pessoas, irmãos da comunidade, ministério, obra… Que se somaram na ideia de fazer a evangelização através do forró, e a maturidade disso foi chegando com o tempo”.
Para o cantor, a arte tem como missão salvar o mundo e, como um grupo musical do nordeste, o objetivo não seria diferente: “A gente sabe que a música, as expressões de arte, o cordel, a poesia, elas são muito fortes em acessar a vida das pessoas de forma corriqueira, meio que uma porta aberta no coração das pessoas e principalmente de nós nordestinos que crescemos com essa força de expressão. Então, levar a palavra de forma suave, propondo às pessoas, eu acho que é algo muito belo. Dando opção, propondo o evangelho, trazendo valores e tudo isso eu acho que casa muito bem com a proposta de falar de Deus e falar das pessoas e falar do forró. Realmente é uma combinação muito bem feita.”
Evangelização por meio da arte
Daniel coloca que o forró como música popular é capaz de conquistar vários tipos de pessoas, de diferentes idades, porém, a forma de colocar isso em prática é o que o transforma como um potente instrumento de evangelização. O cantor ainda complementa: “a estratégia que a gente tem é aquela estratégia de estar no mundo sem ser no mundo. Estar atento ao coração das pessoas. De forma geral, as pessoas têm um anseio de Deus e a gente compreende isso porque a necessidade de evangelizar, ela é contínua e sempre. Então, quando nós apresentamos o forró, é tido como uma surpresa. É sempre uma boa novidade e a gente escuta muito. ‘Nossa, eu não sabia que a igreja tinha um grupo assim’. É o lugar onde o padre, a freira, até o próprio irmão leigo consagrado não estaria. Mas o forró está. E aí é possível a gente anunciar essa novidade e ela é muito bem recebida como ela é proposta. Tudo isso eu acho que faz muita diferença para quem tem a oportunidade de nos escutar”.
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Daniel também aponta o forró, como forma de evangelização, não só como um forma de alcançar pessoas de fora, mas também como instrumento para acolher os próprios católicos, e mostrar como é possível gostar dos mesmos estilos de músicas, mas com letras que não ferem os valores pessoais. É o que conta em um dos testemunhos que presencial, nesses 15 anos de apostolado: “A gente tem um testemunho de uma irmã chamada Anny Rodrigues, que é da Comunidade de Vida. Ela partilhou que, antes de fazer a experiência de Deus, ela era muito apaixonada por forró, e quando ela fez essa experiência, ela entendeu de que precisava romper com esses laços e deixar de escutar música secular e ela sabia que isso seria um grande desafio na vida dela. Mas, quando entrou na comunidade, ela ganhou de presente um CD do Brasa Viva, e para ela foi uma resposta de que Deus também dava a ela uma opção de forró dentro de uma via de salvação, e para ela foi uma resposta muito concreta de Deus. Muitas vezes a gente não sabe aonde a nossa música chega, as pessoas que são alcançadas, mas que existe um propósito de fazermos essa missão acontecer, desempenhando isso com a nossa vida, com a nossa doação, e de que com certeza é resposta para muitas pessoas.”
Evangelização pessoa a pessoa
Moyzes Azevedo, fundador da Comunidade Católica Shalom, afirma que o processo de evangelização precisa ser sempre de pessoa a pessoa, ou seja: de forma pessoal, íntima, e única.
Daniel conta que, mesmo a banda se apresentando em shows, essa identidade ainda continua. “Para Deus não existe tempo e lugar, Deus ele faz em todo tempo e em todo lugar, então acredito que essa é a experiência e esse também é o nosso desejo, que nós sejamos instrumentos nas mãos do Senhor e de que a partir dali ele alcance aqueles que ele nos envia, muitas vezes não estamos pela multidão, estamos pela pessoa, isso é um pouco ilógico, porque o artista em si ele busca as multidões, ele busca o aplauso, mas nós sabemos que nós temos uma lógica inversa e que o nosso chamado é um chamado a nos levar a pessoas, então cada vez que nós fazemos um show nós temos essa consciência”.
Instagram da banda: @forrobrasaviva
Spotify: https://open.spotify.com/album/1H9uTrUiJSJgZ52GYgoRWs?si=mBM-MWwsSNmDYKo1Da95WA
Por Ana Beatriz Ribeiro