Não é sempre que o dia 2 de fevereiro cai em um domingo, mas, quando isto acontece, celebramos esta festa tão bonita que faz parte da nossa memória bíblica, em que recordamos a Virgem Maria, que vai ao Templo junto de Jesus para oferecer o menino ao Pai, como canto de ação de graças pelo dom recebido.
Esta festa também tem o nome, na devoção popular, de festa das velas, “Candelária”, na qual se abençoam as velas e se começa o caminho para a grande festa da Páscoa. Já passaram 40 dias do Natal, é tempo, então, de contemplar já o futuro, em que tudo se realiza com a vinda de Jesus.
Tudo em nós é dom
Essa é também chamada de festa da “purificação”, na qual Javé, com sua força de misericórdia e de amor, nos purifica de todos os nossos pecados. São João Paulo II quis fazer desta festa o dia da vida consagrada, dia em que cada religioso se oferece a Deus para realizar na sua vida o que ainda falta do mistério da Paixão de Jesus (cf. Cl 1,24). Tudo em nós é dom.
A vida religiosa é uma vida de profecia, de forma que, purificando-nos dos pecados e do egoísmo, nos tornamos luzes que devem iluminar o mundo que caminha nas trevas do pecado. Celebremos, com alegria, esta festa que nos relembra também a família unida que se oferece totalmente ao Senhor.
Já não vamos a Jerusalém, mas ao novo templo do nosso coração, no qual se realiza o encontro mais profundo entre Deus e nós.
Os santos carregam conosco o peso do dia
“Os santos, que já chegaram à presença de Deus, mantêm conosco laços de amor e comunhão. Atesta-o o livro do Apocalipse, quando fala dos mártires intercessores: Vi debaixo do altar as almas dos que tinham sido mortos, por causa da Palavra de Deus e por causa do testemunho que deram. E clamavam em alta voz: Tu, que és o Poderoso, o Santo, o Verdadeiro! Até quando esperarás para julgar? (6,9-10). Podemos dizer que ‘estamos circundados, conduzidos e guiados pelos amigos de Deus. (…) Não devo carregar sozinho o que, na realidade, nunca poderia carregar sozinho. Os numerosos santos de Deus protegem-me, amparam-me e guiam-me’”. (Gaudete et Exsultate, 4)
O caminho não é solitário
Ninguém caminha sozinho nem Deus, porque Ele caminha conosco e sempre em comunhão trinitária: as três divinas Pessoas caminham juntas para realizar o projeto da Salvação da humanidade. Nós não podemos fazê-lo sozinhos, mas como povo de Deus, de mãos dadas, procurando fazer o bem, levantado quem cai pelo peso da cruz.
Temos necessidade uns dos outros. No caminho da vida, somos circundados pela multidão de santos e santas, que, tendo vivido antes de nós, nos sustentam e nos animam a não parar diante das nossa quedas.
Um convite à coragem
O sangue dos mártires fecunda a terra, a ciência dos doutores ilumina as trevas do nosso tempo; a bondade dos santos da misericórdia nos anima a fazer o bem aos que sofrem; os santos que amaram os pobres nos recordam que Jesus se esconde na vida de cada pessoa que, às vezes, por causa do egoísmo, é excluída da convivência humana. Ler a vida dos santos nos anima a caminhar sempre com passo rápido para a meta em que os santos que chegaram antes de nós nos esperam.
A força de Deus nos purifica
O profeta Malaquias escreveu pouco, mas a sua palavra é forte e por onde passa deixa o sinal de uma purificação. A comparação que o profeta faz com “barrelas dos lavadeiros”, substância que tira manchas de qualquer tecido sujo, mostra que, assim, a força de Deus, como um fogo, nos purifica de todos os nossos pecados e nos torna prontos para receber a novidade do mistério de Deus, que nos visita com a vinda do seu filho Jesus.
Este é um texto messiânico. Jesus veio não para deixar as coisas como estavam, mas para modificá-las; não veio para deixar as pessoas tranquilas na própria situação de mediocridade, mas para nos despertar do nosso sono e nos dar uma nova vida.
Somente se formos purificados, poderemos oferecer as nossas ofertas a Deus e elas serão agradáveis diante Dele, como foi agradável a oferta que Maria e José fizeram no Templo: a oferta dos pobres, um par de pombas. Simplicidade dada por amor. Tudo é grande quando se dá por amor. No Salmo 24, temos as portas do Templo que se abrem a quem se mostra pobre de coisas e pleno de sentimento de oração e de obras de vida, de misericórdia e de caridade.
A importância de uma vida encarnada
Amo muitíssimo este capítulo da Carta aos Hebreus, porque me apresenta a Pessoa de Jesus como sacerdote que oferece a Si mesmo para a salvação da humanidade. Jesus não veio para salvar os anjos, mas para salvar os homens que estavam nas mãos do diabo. O diabo é, então, derrotado para sempre pela vinda de Jesus sacerdote, que purifica, que salva e que redime.
Jesus se fez em tudo como nós, menos no pecado (cf. CIC 470), porque o pecado não faz parte da criação de Deus, mas sim da maldade humana e da tentação do demônio. A humanidade de Jesus assume o sofrimento da cruz como meio privilegiado para salvar a todos.
Quando eu penso nisto, percebo como a vontade de Deus, através da Encarnação de Jesus, quer que todos sejam salvos, mas nem Deus pode salvar se alguém se nega a aceitar o amor do Senhor. O amor não se pode impor, ele se oferece; pois é deixada intacta a nossa liberdade de aceitá-lo. Logo, Jesus vem em socorro de quem necessita de ajuda.
Templo: um local de encontro
Quando estou desanimado ou quando tenho pouca fé, procuro voltar a ler este texto do Evangelho de Lucas, porque é fonte de esperança para quem caminha nas noites, sendo sempre iluminado pela esperança que nunca pode ser pequena.
Neste texto, vejo e contemplo o encontro dos três momentos da história da Salvação: o ontem, pelo velho Simeão e pela profetisa Ana; o hoje, por meio de Maria, José e Jesus, que vão ao Templo, para oferecer o fruto do amor de Deus e de Maria; e o futuro, que é profecia do velho Simeão de que a Pessoa de Jesus será pedra de escândalo e de salvação para tantas pessoas. Este é um compêndio histórico maravilhoso que nos anima e encoraja em todas as situações.
Quebrar os muros do egoísmo
Não podemos jamais fechar-nos na torre do egoísmo; devemos, sim, cada vez mais estar com as portas abertas, para que o vento do Espírito nos dê uma força nova. A vida religiosa é um constante pentecostes de esperança para a Igreja e para o mundo. Sem a vida religiosa, sem pessoas que se consagrarem a Deus, teríamos, sem dúvida, mais pessimismo. Onde há vida religiosa, há alegria e esperança. Quem encontra a sua força em Deus, fonte perene de alegria, não morre.