Estamos caminhando com passos rápidos para a Páscoa do Senhor. É Quaresma, tempo de conversão, tempo do perdão de Deus para nós e do nosso perdão para os outros.
O caminho traçado pela Igreja é de jejum, esmola e oração.
Sem isto, ficamos no meio da estrada e não conseguimos vencer as tentações da vida.
Não ignorar os que sofrem
A Campanha da Fraternidade deste ano, nos ajuda a compreender que não podemos passar rapidamente pelos que sofrem, mas, como bons samaritanos, devemos parar, ter compaixão e ajudar a todos os que necessitam.
Devemos fazê-lo sem olhar se são católicos ou não, pois são pessoas humanas, são nossos irmãos e irmãs, nos quais devemos saber reconhecer o rosto sofrido de Jesus, que se faz carne e vida em todos, sem fazer distinção de pessoas.
O Papa Francisco é um alarme constante que nos acorda da nossa indiferença, do nosso egoísmo e que nos chama a ser cristãos em saída pelas ruas do mundo, para estender as mãos, para sermos profetas que gritam um “não” forte e corajoso contra todo tipo de guerra, com ou sem armas, que atenta contra a vida humana, que deve ser defendida com todo o amor.
Mas não é suficiente defender a vida, é preciso defender o ambiente que favoreça o desenvolvimento dela, como a natureza e o clima. É necessário também que se defenda o direito de que todos tenham o alimento necessário para uma vida digna.
Sair do sono do egoísmo
O egoísmo que está entrando cada vez mais no nosso coração não se vence com as palavras, mas, sim, com gestos concretos de solidariedade e de amor.
Viver a Páscoa do Senhor é saber reconhecer que Ele continua a passar no nosso meio para nos libertar das novas e velhas escravidões. No entanto, nós somos chamados a ajudar a Deus a libertar o povo que sofre.
Ele sozinho poderia fazê-lo, mas decidiu que o faria por meio de nós. Deus, que é amor, quer sempre nos envolver esta luta contra o mal. Vencemos juntos.
Às vezes, há pessoas ao nosso lado, na nossa família, no nosso prédio, que sofrem e não fazemos nada, a não ser dizer “rezarei”, meneando a cabeça. Este é um pecado de omissão do qual deveremos dar conta a Deus. Arregacemos, pois, as mangas e façamos algo, mesmo que seja um sorriso, uma palavra, um aperto de mão.
Deus suscita mulheres santas
“A propósito de tais formas distintas, quero assinalar que também o ‘gênio feminino’ se manifesta em estilos femininos de santidade, indispensáveis para refletir a santidade de Deus neste mundo.
E precisamente em períodos nos quais as mulheres estiveram mais excluídas, o Espírito Santo suscitou santas, cujo fascínio provocou novos dinamismos espirituais e reformas importantes na Igreja.
Podemos citar Santa Hildegarda de Bingen, Santa Brígida, Santa Catarina de Sena, Santa Teresa de Ávila ou Santa Teresa de Lisieux; mas interessa-me sobretudo lembrar tantas mulheres desconhecidas ou esquecidas que sustentaram e transformaram, cada uma a seu modo, famílias e comunidades com a força do seu testemunho.” (Gaudete et Exsultate, 12)
O caminho da santidade não é igual para todos nós. Somos santos como pessoas humanas, com o nosso ser; quem é homem, com seus sentimentos, caráter, sensibilidade masculina; quem é mulher, com sua afetividade e gênio femininos.
Este número da exortação apostólica é interessantíssimo, por colocar em evidência o nome de algumas santas que são amadas e conhecidas por todos nós: são as doutoras da Igreja.
A primeira que abriu o caminho foi proclamada pelo Papa Paulo VI, Teresa d’Ávila. A última, Santa Brígida, foi proclamada doutora pelo Papa Bento XVI.
Mas por quê doutoras?
Por ter ensinado um caminho seguro e novo para a santidade. Quem sabe, entre todas, seja mais conhecida Santa Teresa do Menino Jesus, que nos indicou, com uma criatividade toda especial, o caminho da infância espiritual, o qual cada pessoa pode percorrer sem muito esforço, um caminho novo, reto e fácil.
Peçamos ao Senhor, então, a graça de não ficarmos de braços cruzados, mas que saibamos buscar o nosso caminho para amar a Deus e amar os nossos irmãos.
Deus sempre escolhe os pequenos
Deus escolheu, como rei do seu povo, a Davi, que era menino e não tinha nada que chamasse atenção. Apesar de tudo, os olhos de Deus se tinham pousado sobre ele para realizar grandes coisas em favor do povo de Israel que estava passando por momentos difíceis, em que uma idolatria estava destruindo a presença de Deus no coração das pessoas.
Davi foi frágil, errou, pecou, mas sempre teve, no seu coração, o desejo de lutar em favor de Deus, sendo, assim, perdoado.
Ele será o símbolo mais belo de Jesus, o novo rei sem pecado, que oferece a Sua vida para a Salvação de toda a humanidade.
Deus não nos escolhe pelas aparências, pelas qualidades humanas, mas pela disponibilidade do nosso coração.
Quando Deus nos escolhe, Ele nos capacita para grandes coisas. Confiemos em Deus, que tem chamado a cada um de nós a realizar maravilhas em Seu nome. Deixemo-nos amar e seremos felizes.
O Salmo responsorial é um dos mais bonitos, é o do Bom Pastor. Fala de um caminho de confiança em Deus, que não nos abandona, mas que sempre nos sustenta em todos os momentos de nossa vida.
Acordemo-nos do sono do pecado
Sabemos como o apóstolo Paulo ama a comunidade dos Efésios, uma comunidade viva.
Entre eles, no entanto, havia um bom número, como sempre, de pecadores, que estava bem adormecido no sono da indiferença, do pecado, que não percebia que era tempo de se converter e de mudar de vida.
Precisamos, para nos acordar, da voz profética de alguém que nos chame a atenção, para que assumamos a nossa vocação à santidade, ao nosso testemunho de seguidores de Jesus.
A Igreja, no seu conjunto, é voz profética através do Papa, dos Bispos, dos sacerdotes, mas também através de todas as pessoas que, muitas vezes, nem acreditam, mas nos chamam a atenção.
Nós devemos saber escutá-las também.
A voz de Deus pode chegar até nós através dos maiores pecadores, o que importa é escutar a todos os que nos chamam a fazer o bem.
Acordemos, nós que dormimos entre os mortos. Cristo nos ressuscitará!
Escutemos o cego que agora vê e crê
Nunca me canso de ler e meditar este texto do Evangelho de João e confesso que todas as vezes encontro algo novo. Este cego é curioso, é uma pessoa meio ambígua.
Ele é cego. Tenta estar do lado dos judeus, que querem prender Jesus, mas, de repente, muda de opinião e se coloca do lado de Jesus, acusando os mesmos judeus de serem cegos por não verem o milagre que Jesus operou nele.
É alguém que luta contra si mesmo e no final parece que volta de novo a não crer. Porém, no fim, faz a sua bela profissão de fé e crê no Senhor que lhe deu a visão…
Essa é a nossa história. Muitas vezes somos cegos e não queremos ver. O que importa é nunca deixar de buscar a verdade.
Meditar com carinho a Liturgia de hoje
Aconselho a todos a relerem várias vezes, em atitude de oração, este texto do Evangelho de João.
É um pouco longo, mas não desanimemos e quem sabe os nossos olhos se abrirão à luz, que é Jesus.