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Frei Patrício: Liberdade é caminhar segundo a voz do Espírito Santo

Quando nos fechamos em nós mesmos ou somos escravos dos nossos egoísmos manifestos ou escondidos, não temos a felicidade, a paz. Sentimo-nos como que esmagados debaixo do peso dos nossos instintos.

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Todos buscamos o caminho da liberdade, mas, muitas vezes, não só não o encontramos, como tomamos caminhos errados, e temos na cabeça uma ideia também errada de liberdade. Eu, inclusive, não sei o que é a liberdade, mas sei que a busco com todo interesse e com todo empenho.

Sei que ser livre não significa viver sem leis e, com isso, de manhã, levantarmo-nos achando que somos os senhores do mundo, onde podemos passar por todas as ruas, correr à velocidade que quisermos, colocar o preço que acharmos convenientes e pagar se acharmos bom ou não, ir aonde quisermos, e dizer o que nos vem à cabeça, sem respeito aos que vivem ao nosso lado. Esta sei que não é liberdade, mas sim libertinagem e uma anarquia, que vai criar uma confusão tal na qual ninguém sabe quem é quem é.

Mas sei que também há uma liberdade interior na que ninguém pode nos impedir de crer, de rezar, e de comandar. No nosso templo, esta liberdade ninguém pode matar. A beleza da liberdade deve ser conquistada. Gostaria de colocar em evidência o que diz muito decididamente o místico João da Cruz.

Ele, sem dúvida, nos ensina que podemos ser livres mesmo numa cadeia, para onde ele mesmo foi quando era prisioneiro em Toledo, não permitindo que lhe fosse tirada a liberdade interior. Ele diz que um passarinho, seja amarrado com uma corda ou com um mais tênue fio, até que o rompa não poderá voar. Na nossa vida, há escravidões que nos impedem de ser livres no espírito, mesmo que exteriormente cantemos o hino da liberdade.

A pior escravidão que eu tenho experimentado é a do pecado, que muitas vezes me tem oprimido e impedido de ser capaz de gostar da beleza da vida. Hoje, temos a servidão dos meios de comunicação, que nem sempre sabemos usar para comunicar as coisas boas.

Recordo que uma pessoa perdeu o avião uma vez, porque quis voltar para pegar o telefone celular que tinha esquecido. Deixemos que o Senhor penetre na nossa vida e nos faça livres. Livres de nós mesmos. Livres dos outros. Livres das coisas. Mas nunca livres de Deus. Ele nos dá a liberdade da verdade, do amor e da paz, na medida em que nos colocamos ao Seu serviço.

É tempo de levantar a bandeira da liberdade por onde formos, e ajudar todos a serem livres para viver o amor de Deus, que nunca escraviza, mas sempre nos dá a alegria da verdadeira e única liberdade.

O Profeta Elias, o cantor da liberdade

Como carmelita, amo muito o profeta Elias, que, para nós, é símbolo de quem busca a Deus, que passa por todos os desertos e pelas noites, que sabe lutar contra os falsos profetas, que durante as dificuldades desanima e que morrer, mas que é reanimado por Deus para que continue o seu caminho. O profeta que, no silêncio da gruta do Horeb, escuta a voz do Senhor dizendo “que fazes tu aqui, Elias”, responde “Estou na presença de Deus, queimo pelo Deus vivo”.

Elias compreende que sozinho não poderá levar à frente a sua missão. Cria, então, ao seu redor, um grupo dos profetas, entre os que escolhe o jovem Eliseu, que, abandonando tudo, o segue, o acompanha e se faz seu discípulo. Eliseu, que provavelmente era rico, se despede, então, dos seus e volta, dá um grande churrasco de despedida aos amigos e depois segue o profeta, levantando-se e se pondo ao seu serviço.

É belo poder compreender que o Senhor, quando nos chama, nos dá a liberdade e a coragem de desfazer-nos de tudo, para sermos somente Dele e estarmos ao Seu serviço.

O caminho da liberdade é Jesus

É muito difícil que em um curso de espiritualidade ou em um dia de retiro eu não cite este texto do Apóstolo Paulo aos Gálatas. Por que tenho tanto amor por esse texto? Porque nos fala do caminho da verdadeira liberdade, que só é possível em Jesus, que nos resgatou da nossa escravidão, pagando Ele mesmo com a Sua morte na Cruz.

Quando nos fechamos em nós mesmos ou somos escravos dos nossos egoísmos manifestos ou escondidos, não temos a felicidade, a paz. Sentimo-nos como que esmagados debaixo do peso dos nossos instintos.

Paulo, especialmente com humorismo e com verdade, nos diz que não somos livres enquanto não criamos um relacionamento de caridade, de fraternidade, de amor com os nossos irmãos e irmãs, que vivem conosco.

Liberdade é caminhar segundo a voz do Espírito Santo. Escravidão é caminhar segundo a voz do diabo. A nós a escolha

Seguir Jesus, a verdadeira liberdade

Se você segue alguém que é livre, será livre; se seguir alguém que é escravo, será escravo. “Diz-me com quem andas e te direi quem és”, diz o provérbio. O Evangelho que temos diante de nós nos fala como Jesus nos chama a segui-Lo na absoluta pobreza e no mais absoluto desapego de tudo: das pessoas, das coisas, dos nossos projetos e maneira de pensar, com absoluta liberdade interior.

Ele nos chama, mas a nós cabe a resposta. Ele nos dá um tempo para pensar, para nos desfazermos de tudo e depois decidirmo-nos se queremos ou não viver como Ele. Hoje em dia, com as palavras, somos todos leões, mártires, profetas, santos; mas quando chega a luta ou se opera diante de nós a cruz, temos medo e fugimos ou nos escondemos.

Ser discípulo de Jesus não significa ser conhecedor da Palavra de Deus intelectualmente, mas assumi-la na nossa vida e tomar parte intimamente de toda a vida de Jesus. Paixão, morte, Ressurreição: seguir Jesus é correr o risco de não sermos recebidos e, talvez, por isso, querer, como quiseram os discípulos, destruir as cidades e os que não acolheram. Entretanto, esta maneira de pensar do Antigo Testamento não tem mais espaço na dinâmica do amor que Jesus quer que vivamos.

O Evangelho de hoje nos obriga a um exame de consciência, a rever nossa maneira de ser discípulos de Jesus, de ser cristãos. Façamos as seguintes perguntas a nós mesmos e respondamos: Sou feliz com o meu estilo de vida? O meu seguir Jesus corresponde ao modelo do Evangelho?

Escola de oração

“Somos livres, com a liberdade de Jesus, mas Ele chama-nos a examinar o que há dentro de nós – desejos, angústias, temores, expectativas – e o que acontece fora de nós – os ‘sinais dos tempos’ –, para reconhecer os caminhos da liberdade plena: ‘examinai tudo, guardai o que é bom’ (1Ts 5,21)” (Gaudete et Exsultate, 168). É necessário que compreendamos que Jesus nos dirige um chamado e não uma imposição. O que nosso coração deseja? “Como a corça bramindo por águas correntes, assim minha alma brame por ti, ó meu Deus!” (Sl 42/43,1).


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