Formação

Frei Patrício: o mês de outubro é rico de Deus

Todos os meses são ricos de Deus, que nos fala de muitas maneiras e nos chama sempre à santidade, mas este mês é bastante especial.

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Foto: Wallace Freitas

Às vezes, ficamos mergulhados em tantas preocupações da vida, como em questões econômicas ou de saúde, como se deu, por exemplo, no caso do coronavírus; ficamos preocupados com a nossa máscara humana, que devemos ter sempre em dia, para não parecermos piores do que somos. Mas o Senhor não deixa passar a oportunidade de fazer com que deixemos tudo de lado e tentemos estar no mais íntimo do nosso coração.

O mês de outubro se inicia com a festa de Santa Teresinha do Menino Jesus, que na Terra ficou escondida no silêncio do Carmelo. Na vida monótona, cotidiana, ela tinha uma mensagem forte para cada um dos missionários e evangelizadores.

Sem a oração, somos címbalos e sinos que tocam no vazio e não despertam os corações adormecidos.

No dia 4, celebramos a festa do santo mais amado em todos os continentes e por todas as pessoas, independentemente da religião e da cultura: São Francisco de Assis, que com sua  vida pessoal nos convida a mudar de vida, assim como ele mudou. Francisco era rico, bon vivant, feliz por gastar muito do dinheiro que tinha em festas, sonhando em um dia ser  cavalheiro e ter o peito decorado por muitas medalhas. Jesus, no entanto, lhe deu medalhas particulares, que foram as instigantes feridas – os estigmas – no peito, nas mãos e nos pés, a fim de manifestar a Paixão de Cristo, que salva e liberta.

No dia 7, celebramos a festa de Nossa Senhora do Rosário. O Rosário é uma oração que nos permite estar sempre em comunhão com Deus – como esteve a Virgem Maria – e perfuma as nossas jornadas com pétalas de rosas. Que a Virgem Maria, pela sua intercessão, nos proteja no nosso caminho de cada dia.

Dia 15 celebramos a festa de Santa Teresa d’Ávila, mestra da vida espiritual e da oração, que nos ensina a sair de nós mesmos e a entrar no castelo interior, onde está Sua Majestade, o Rei, que nos ama e nos espera para dialogar conosco. Os seus livros são, mesmo depois de tantos séculos, doutrina segura para chegar a Deus.

No dia 18, temos a festa de São Lucas evangelista, protetor dos médicos. Ele, com sua fina sensibilidade, nos transmite os segredos mais belos do coração de Maria e do menino Jesus.

Podemos continuar esta nossa caminhada para ver como Deus nos envia toques de amor, a fim de que possamos nos converter. Penso também que não podemos esquecer da Jornada Mundial Missionária, na qual a Igreja toma consciência da sua vocação do Batismo e  do envio, recebida de Jesus, que disse: “Ide, pregai e batizai.” São todos imperativos que exigem de nós uma resposta; precisamos, pois, deixar por onde passarmos novos cristãos, novos convertidos pela Palavra e pelo exemplo de santidade.

O Evangelho não é um tesouro que podemos colocar no cofre do coração e fechar bem, mas um tesouro que devemos colocar no varal da vida, para que todos possam ver, e vendo se convertam e vivam.

Teologia e Santidade sempre andam juntas

“Só de forma muito pobre, chegamos a compreender a verdade que recebemos do Senhor. E, ainda com maior dificuldade, conseguimos expressá-la. Por isso, não podemos pretender que o nosso modo de a entender nos autorize a exercer um controlo rigoroso sobre a vida dos outros. Quero lembrar que, na Igreja, convivem legitimamente diferentes maneiras de interpretar muitos aspectos da doutrina e da vida cristã, que, na sua variedade, ‘ajudam a explicitar melhor o tesouro riquíssimo da Palavra.

[Certamente,] a quantos sonham com uma doutrina monolítica defendida sem nuances por todos, isto poderá parecer uma dispersão imperfeita’. Por isso mesmo, algumas correntes gnósticas desprezaram a simplicidade tão concreta do Evangelho e tentaram substituir o Deus trinitário e encarnado por uma Unidade superior onde desaparecia a rica multiplicidade da nossa história.

Na realidade, a doutrina, ou melhor, a nossa compreensão e expressão dela, ‘não é um sistema fechado, privado de dinâmicas próprias capazes de gerar perguntas, dúvidas, questões (…); e as perguntas do nosso povo, as suas angústias, batalhas, sonhos e preocupações possuem um valor hermenêutico que não podemos ignorar, se quisermos deveras levar a sério o princípio da encarnação. As suas perguntas ajudam-nos a questionar-nos, as suas questões interrogam-nos’.” (Gaudete et Exsultate, 43-44)

Pus estes dois números juntos porque me parecem inseparáveis, de modo que, soltos, não se podem compreender bem. Antes de tudo, nunca devemos nos considerar mais importantes que os outros nem devemos nos considerar superiores se conhecemos mais a Deus. 

São João Paulo II nos alerta sobre isso com uma frase bem pequena, porém muito importante: “Teologia e santidade andam juntas”. Ou seja, não pode existir santidade sem teologia, se por teologia entendemos busca de Deus, compreensão da Palavra de Deus. E não pode existir santidade sem esforço para conhecer mais e mais ao Senhor. Teologia,  conhecimento e santidade prática do que sabemos andam sempre juntos.

Você cuida da vinha do Senhor?

O profeta Isaías narra a bondade de Deus e o amor com que o Senhor cuida da Sua vinha, que é o Seu povo, que, por sua vez, é cada um de nós. Mas, uma vez que Deus nos planta como Sua videira escolhida, cabe a cada um ter cuidado consigo mesmo. Entretanto, os vinhateiros, que são os responsáveis pela vinha, devem ter o máximo cuidado para que ela possa produzir frutos e que estes sejam abundantes. 

Deus nos avisa que se não tivermos cuidado com a nossa vinha e com a do nosso vizinho, a vinha será devastada. O Senhor é sempre amor, mas exige a nossa cooperação em tudo.

Muitas vezes criticamos a Deus e a Igreja, porque “não cuidam” de nós, mas, na verdade, nenhum medicamento produz efeitos se a pessoa doente não cuidar de si mesma. E você? Cuida da vinha do Senhor que está no seu coração?

O Salmo 79/80 é o Salmo da vinha, ele é como uma exegese do texto do profeta Isaías.  Devemos lê-lo com atenção.

Sem a prática nada serve

Sabemos que a Carta do apóstolo Paulo é cheia de ternura e de bondade. Ele quer libertar a sua comunidade de tudo o que é supérfluo, porque sabe que não devemos permitir que o nosso coração seja agitado pelas angústias e preocupações, mas devemos colocar tudo nas mãos de Deus.

Ao mesmo tempo, Paulo convida a comunidade a colocar em prática tudo o que escuta, visto que não viver os ensinamentos que recebemos é perder tempo. A vida não é feita de bons conselhos, como afirma Santa Teresinha do Menino Jesus, ao dizer: “A santidade não é feita de bons propósitos e sentimentos, mas de obras.”

Deus quer os frutos da sua vinha

A parábola da vinha é o fecho de ouro da Palavra de Deus deste domingo. Com esta parábola, Jesus nos convida a ter o máximo de cuidado com a nossa vida, que é “a videira plantada por Deus nos Seu campo”, ao qual Deus Pai envia o Seu próprio Filho para receber o seu fruto. Para compreender bem este texto, devemos ter a paciência, a bondade e a alegria de ler e meditar João 15, passagem sobre a videira, a fim de que possamos produzir frutos e frutos abundantes. Peçamos ao Senhor que não sejamos videiras que só fazem sombra na Igreja, mas que não dá frutos.


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