Formação

Frei Patrício: os males da indiferença

Os indiferentes, os quais podemos chamar de zombadores dos profetas de Deus e de zombadores do próprio Deus, se transformam, por seu turno, em pessoas cínicas e terríveis nos juízos, fazendo troça de todos os que têm fé.

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O pior mal que pode atingir o ser humano é a indiferença religiosa que, se não curado, se transforma en zombaria de tudo o que é sagrado, não conseguindo libertar-se, aquele que a tem, com facilidade, porque é um câncer que entra cada vez mais dentro de nós e nos rói a consciência.

Os indiferentes são bem diferentes dos ateus sinceros, que não conseguem crer porque não receberam o dom da fé, mas sabem respeitar a religião dos outros, chegando, aliás, a admirar os gestos de fé e de bondade que o crentes fazem. Os indiferentes, os quais podemos chamar de zombadores dos profetas de Deus e de zombadores do próprio Deus, se transformam, por seu turno, em pessoas cínicas e terríveis nos juízos, fazendo troça de todos os que têm fé. 

Hoje em dia, vivemos uma realidade antropológica e religiosa muito complexa e, embora nem sempre saibamos fazer um diagnóstico da situação, o ser humano, mesmo quando se declara não religioso, tem momentos nos quais, em sua consciência, sente-se tocado pela religiosidade dos outros, sem, no entanto, conseguir dominar seu orgulho.

Pode ser que não haja zombadores que se divirtam abertamente em cima das coisas religiosas, mas, de uma forma muito sutil, o fazem, ainda que pareça respeitosa. 

Deus, por Sua vez, continua a enviar os Seus profetas que Ele mesmo escolhe entre os que Ele quer. Às vezes, o Senhor escolhe pessoas que pertencem a outra religião, mas que têm uma consciência reta, delicada, e desposam a causa da humanidade, como a paz, a vida, o bem-estar do homem. Estes profetas anônimos ou de dentro da própria Igreja colocam continuamente em risco a própria vida em defesa dos mais fracos e frágeis. 

Há muitos São Franciscos de Assis que não se vestem como os franciscanos, mas que defendem a liberdade, a beleza da criação, e que lutam para que o ser humano não destrua a terra por pura ganância ou falta de consciência. 

Há também por aí muitas Santas Teresas de Calcutá que não são cristãs, mas que se dedicam com amor à prática da caridade. Aqui no Egito, por exemplo, há uma leiga muçulmana que é chamada de Teresa de Calcutá egípcia. 

O amor e a caridade não têm fronteiras. Eles rompem os muros da indiferença e nos obrigam a dobrar os joelhos diante destes homens e mulheres que sabem se dedicar com desapego aos que sofrem. Este é o momento de rever a nossa atitude de julgar a humanidade e ver tudo com os olhos da bondade e do amor. 

Dos profetas de Deus, não se zomba. Quando alguém deles faz pilhéria, sabe-se que é doente de indiferença, que o leva à insensibilidade pelas coisas espirituais. 

Na nossa vida, chega o momento em que necessitamos dos outros, também por isso devemos ajudar a quem hoje necessita de nós.

O Senhor nosso Deus não vem ao coração humano apenas através das Escrituras Sagradas. Ele tem muitos meios para nos fazer compreender o Seu amor e a necessidade que nós temos de sair de nós mesmos para ir ao encontro dos que sofrem. Não somos somente uma Igreja em saída, somos seres humanos em saída pelas estradas do mundo, para fazer o bem.

Na escola de Santa Teresinha 

“Disse Ele: ‘Aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito’ (Mt 11,29). Se vivemos tensos, arrogantes diante dos outros, acabamos cansados e exaustos. Mas, quando olhamos os seus limites e defeitos com ternura e mansidão, sem nos sentirmos superiores, podemos dar-lhes uma mão e evitamos gastar energias em lamentações inúteis. Para Santa Teresa de Lisieux, ‘a caridade perfeita consiste em suportar os defeitos dos outros, em não se escandalizar com as suas fraquezas’.” (GE, 72)

Na verdade, este número não necessita de grandes explicações, mas de uma forte dose de boa vontade e de amor para colocá-lo em prática. O modelo da mansidão, virtude difícil, mas bela, nos torna amáveis e amados. Para vivê-la é necessário vencer o nosso caráter que, às vezes, diante das dificuldades da vida, é um vulcão que explode e lança fogo para todos os lados, porque muitas vezes, achamos que, para sermos respeitados, devemos levantar a voz, gritar ou mostrar-nos nervosos. Entretanto, este comportamento é antievangélico, pois o verdadeiro caminho é o amor. 

Neste número, cita-se o exemplo de Santa Teresinha, que diz que a caridade perfeita é suportar os defeitos dos outros e não se escandalizar com os defeitos alheios. Para nos convencermos desta verdade, basta lermos o Evangelho. Nele, veremos como era o comportamento de Jesus, que era manso e humilde coração.

Multiplicaram-se o pecado dos sacerdotes

Esta leitura não é de fácil compreensão. Faz-se preciso consultar a história, para assim compreender quem eram o rei Ciro e o rei Nabucodonosor, e para entender também o que acontece com o povo de Israel e com os sacerdotes do Templo. Ou seja, para uma boa compreensão, é necessário um pouco de conhecimento; no entanto, em poucas palavras, isto pode ser explicado. 

Os sacerdotes do Templo, em um acordo com o poder, se contaminaram por seus muitos pecados. O mais grave deles, que é contrário à pureza da fé e sempre ameaça o povo, é o da idolatria, que deixa o Deus vivo e verdadeiro à margem, substituindo-O por ídolos estrangeiros. 

Porém Deus sempre fará surgir os Seus profetas que, com voz forte, chamam o povo à conversão e o convida a voltar para Deus. Algumas vezes, Deus se serve de pessoas que não têm a mesma fé, como no caso de Ciro, rei da Pérsia, que colocou em prática a profecia de Jeremias, ao reconstruir o Templo de Jerusalém. Assim como ele, devemos também nós nos colocar à escuta de tudo o que é bom, reto e justo, anunciado a todos, inclusive para quem tem uma fé diferente da nossa. 

O salmista, com o grande Salmo 136, que amo chamar de o Salmo da “saudade do Templo”, relembra a tristeza do povo que está longe de Deus e que, nos sofrimentos, não pode cantar os cânticos de Sião para alegrar os seus perseguidores.

Fé, graça e misericórdia são dons de Deus 

Convido os meus leitores, que acompanham o Pão da Vida e não se cansam de me ler, a reler, não uma, mas mil vezes, este trecho da Carta do Apóstolo Paulo à comunidade dos efésios. Nele, insiste que Deus é rico em misericórdia e que não a guarda para si, mas a derrama sobre nós pela obra de Jesus, o Salvador. 

Ele também nos diz que a fé, a misericórdia e a graça não são frutos do esforço humano, mas dons de Deus, os quais devemos suplicar com muita insistência e em todos os momentos de nossa vida. Esta é uma contemplação maravilhosa do projeto de Deus sobre cada um de nós. Caro irmão, não deixe de rezar com este texto e de conservá-lo em sua memória e em seu coração.

Quem pratica o mal odeia a luz

O evangelista João não manda indiretas. Ele fala a verdade de forma direta, mas sempre com muita delicadeza. João é o discípulo do amor e aprendeu na escola de Jesus a dizer a verdade sem ferir. 

Como é bonito e comovente o diálogo de Jesus com Nicodemos, no qual Jesus, com doçura, leva Nicodemos a reconhecer, na hora e no momento certos, a verdade. Ao mesmo tempo, João nos recorda que o mal age na noite, nas trevas. Todo o mal nos faz cair nas trevas mais densas que não nos permitem enxergar o bem. Basta lembrar do primeiro dia da história, em Gênesis, quando Adão e Eva se deram conta de que haviam pecado, se escondendo por causa disso. Nós também, ao praticarmos o que é mal, nos escondemos dos olhos de Deus, dos olhos dos outros e também dos nossos próprios olhos, por sentirmos vergonha de nós mesmos. Quem faz o bem não só se aproxima da luz, como também se torna luz por participação.

Palavra que ilumina a semana

Ajamos sempre com transparência para não nos esconder nem de Deus, nem dos outros nem de nós mesmos.


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