Amo a noite e tenho medo dela. Amo a noite cheia de estrelas, com a lua que brilha no céu e que anuncia o novo dia feito de luz e de esperança. Tenho medo da noite em que não se enxerga nem a ponta do próprio nariz, sem nenhuma estrela, quando a fantasia cria diabos em todos os lados.
Recordo que quando era menino, minha mãe Domenica, às vezes, ao chegar alguém em casa, dizia: “menino, vai à adega e pega uma garrafa de vinho para oferecer” e eu respondia: “não vou, porque eu tenho medo e na adega, sem luz, está o lobo mau.” Minha mãe, sem perder a paciência, aliás, nunca a vi perder a paciência, me tomava pela mão e me dizia depois: “viste que não tem ninguém”, ao que eu respondia: “claro que não tinha ninguém, porque você, minha mãe estava comigo…”.
Quando estamos com Jesus, que nos toma pela mão, todos os medos desparecem, como dizia o meu amigo do interior de Minas: “com Jesus, não tem diabo que aguente e nem pecador que nos afaste da Igreja”. A Palavra de Deus deste 33° domingo do ano litúrgico é muito forte, clara, e deve ser para cada um de nós palavra que consola e conforta.
Fé não é camisa que se muda
Fé não é camisa que se muda de três em três dias, e Igreja não é casa da que todos os anos se muda para outra, é fé e é casa para sempre. Vivemos num mundo em que tudo é tão bom, que quando o sapato aperta, a tentação sempre toma os mesmos rumos, culpando os outros da nossa incapacidade, e da nossa mediocridade. Isto em tudo ou em quase tudo, para não ser realista demais ou pessimista.
Há uma briga no matrimônio e um dos dois grita: “vou embora, está tudo acabado”. Há uma dificuldade na vida religiosa e, com raiva, se chega a dizer: “vou a uma outra congregação”. Há uma dificuldade com o vigário e o fiel bravo diz: “seu padre, sabe de uma coisa? Eu vou ser protestante”. Esta linguagem não vem de Deus e nem de um coração cheio de bom senso e nem da cabeça com juízo. São palavras que não têm sentido.
Acreditar que o fruto do terreno dos outros é melhor, que existe uma vida sem cruz, sem dor, uma salvação comprada e prometida sem conversão é besteira. Jesus nos adverte, dizendo: “Não vos deixeis enganar!” Há quem se diga salvador, Messias, solucionador de todos os problemas… Devemos ser fiéis à nossa fé.
Há um só Deus, um só Espírito, um só Jesus. O resto é só papel de embrulho barato, que não dá paz e nem salvação. Somos chamados a viver a Palavra de Deus e não a ir atrás de tocadores de músicas novas, que não têm harmonia nem gosto. Não se muda de fé.
O fogo destrói todos os orgulhosos
O profeta Malaquias é considerado um profeta menor, não porque a sua mensagem seja considerada desprezível e sem importância, mas porque escreveu pouco. No entanto, suas palavras são fortíssimas. As suas imagens, para mostrar como Deus nos purifica dos nossos pecados, são terríveis. Com elas, diz que não podemos estar diante da glória do Senhor, se não somos purificados como o ouro no crisol.
A simbologia do fogo na Bíblia não é somente negativa, mas também é positiva. É no fogo da sarça que Deus se revela a Moisés; é na coluna de fogo que Deus caminha com o Seu povo no deserto; é o fogo do Espírito Santo que nos é enviado, para que sejamos fortalecidos e possamos, assim, comunicar a Palavra de Deus. O fogo também destrói todos os orgulhosos, os soberbos, que são como palha seca que o vento leva, difundindo incêndios de imensas proporções.
Porém, depois da purificação e destruição do fogo, vai surgir uma nova realidade: para os homens justos que temem o Senhor vai surgir um mundo novo: “Para vós, que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas” (Ml 3,20).
“Então, para que trabalhar?”
Paulo amava as suas comunidades. Ele tinha uma atenção particular para com todos. Ele era um trabalhador incansável; era difícil acompanhá-lo nas suas viagens, nas suas pregações. Não tinha um temperamento fácil, sendo exigente, de forma que os outros criavam até mesmo um pouco de medo dele.
A comunidade dos tessalonicenses, por uma falta de compreensão da Palavra de Deus e dos pregadores, pensava que a vinda do Senhor Jesus era iminente, que se daria em questão de meses, de dias ou de horas. “Então, para que trabalhar?”, pensavam. Para que procurar melhorar a situação pessoal e da comunidade se o fim do mundo estava às portas?
Este era o clima entre eles, mas Paulo, quando viu que o fim do mundo não estava tão próximo, mudou de tom com os preguiçosos e ociosos “espirituais”, que preferiam ir por aí vagando de um lado ao outro, esperando o Senhor Jesus, mas que ao meio-dia, à noite e pela manhã queriam comer…
É interessante a chamada de atenção de Paulo, que serviu não só para aquela gente, mas também para nós, porque às vezes, nas nossas comunidades, há quem espere na mesa, mas não trabalha para ganhar o pãozinho que come. “Ora, ouvimos dizer que entre vós há alguns que vivem à toa, muito ocupados em não fazer nada. Em nome do Senhor Jesus Cristo, ordenamos e exortamos a estas pessoas que, trabalhando, comam na tranquilidade o seu próprio pão” (2Ts 3,11-12).
Espírito Santo será o seu defensor
O Evangelho é uma belíssima homilia de Jesus para Seus discípulos, que tinham medo de tudo. Ao mesmo tempo, alguns corriam atrás do último que chegasse e que se dissesse enviado por Deus. Nem todos os seguidores de Jesus tinham fé Nele e muito menos uma fé firme. Aliás, os discursos de Jesus provocavam desistência e medo; porque para eles era melhor buscar pregadores mais brandos, condescendentes, Messias dietéticos…
O mundo continua o mesmo. Há por aí muitos que mudam de religião com uma facilidade impressionante, que vão em busca de milagres e de milagreiros. Os verdadeiros seguidores de Jesus são sempre perseguidos, porque ficam firmes e não voltam atrás, não se deixam enganar e não traem o Messias, preferindo o martírio à infidelidade.
Jesus tranquiliza os Seus seguidores, dizendo-lhes que não se preocupem em preparar a defesa, e nem em buscar advogados, porque o Espírito Santo será o seu defensor e colocará na boca deles o que devem dizer e como devem dizê-lo. É uma grande verdade e eu, na minha pequena experiência, tenho comprovado isto muitas vezes.
“Se temos que caminhar à terra estrangeira,
Ou buscar pousada de casa em casa,
Vá adiante como guia fiel,
Tu, companheiro de caminho da Virgem Puríssima,
Tu, pai fielmente preocupado com o Filho de Deus.
Belém e Nazaré, inclusive Egito,
Serão nosso lar, se tu permaneces conosco.
Onde tu estás, está a bênção do céu.
Como meninos, seguimos teus passos;
Cheios de confiança, nos colocamos em tuas mãos:
Sê tu nosso lar: – São José, cuida-nos!”
(Santa Edith Stein)