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Frei Patrício: Quanto maior você é, mais humilde deve ser

Ser humilde quer dizer viver a verdade, a liberdade e ser sinais autênticos de Jesus, que veio para servir e não para ser servido. Cada vez mais devemos compreender que a força de Deus não está nem no poder nem nas armas, tampouco nos títulos de estudo, que podemos e devemos ter, mas está, sim, no serviço alegre a todos, sem fazer pesar a nossa “superioridade”

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A virtude da humildade (Pexels)

A humildade nunca foi uma virtude da humanidade que, por sua vez, sempre luta para ser maior e mais forte, colocando os outros como escabelos para subir para o alto. Mas, na verdade, desde a eternidade é a virtude mais bela que resplandece em Deus. Santa Teresa de Ávila diz “Compreendi que a suma grandeza de Deus é a sua suma humildade” e João da Cruz, como eco, responde: “Deus é sumamente grande, porque é sumamente humilde”.

Porém, nem sempre nos é fácil compreender em que consiste a humildade e, por isso, quem sabe se não somos capazes de praticá-la na nossa vida diária? A palavra humildade vem do termo em latim humus, que quer dizer terra fértil, bem adubada, que dá fruto. A terra produz porque é adubada com tudo o que jogamos fora, que se transforma em lixo e, por sua vez, em alimento para as plantas. Cada um de nós, pois, deve ser adubo bom para as virtudes, na vida cotidiana, por meio do bom exemplo, com a vivência.

Jesus, sendo filho de Deus, não se guardou para si, mas se humilhou, se fez um de nós, se escondeu e nos deu e comunicou a vida em plenitude, que, continuamente, nos alimenta. Ser humilde não quer dizer, de jeito nenhum, ser sem capacidade e desprezar a si, colocando cartazes por todos os lados com frases de que somos pecadores e os últimos dos últimos, mas quer dizer, sim, ser os melhores, os mais qualificados e, ainda assim, não fazer propaganda de nós próprios e nem querer que os outros, por onde passamos, nos estendam tapetes e nos incensem três vezes por dia.

Logo, ser humilde quer dizer viver a verdade, a liberdade e ser sinais autênticos de Jesus, que veio para servir e não para ser servido. Cada vez mais devemos compreender que a força de Deus não está nem no poder nem nas armas, tampouco nos títulos de estudo, que podemos e devemos ter, mas está, sim, no serviço alegre a todos, sem fazer pesar a nossa “superioridade”.

O contrário da humildade é o orgulho que nunca é satisfeito com nada e que crê ser sempre o mais importante na vida, exigindo ser reconhecido como tal. Vivemos em um mundo que não conhece e nem educa para a humildade, mas educa para a superioridade, muitas vezes, disfarçada de serviço, mas sem o ser.

Quando se encontra alguém humilde, este é reconhecido pelas suas palavras doces, ternas, delicadas, pelas suas ações ordinárias que falam de Deus, pelo seu sorriso e pelo seu rosto sempre resplandecente de bondade e de misericórdia. Busquemos a Deus e deixemo-Lo agir em nós e, dessa maneira, Ele nos conduzirá pelos caminhos da verdadeira humildade: simples, pobre e fraterna.

Realiza tudo com Amor e serás amado

A primeira leitura deste domingo é um pequeno texto do Eclesiástico, cheio de sabedoria e de realidade, que desce no mais profundo do coração, mas que não é fácil compreender com a nossa cabeça cheia de orgulho e de soberba, que matam qualquer desejo de santidade e de serviço.

O mundo de ontem, de hoje e de sempre pertencerá verdadeiramente aos humildes, aos pobres, aos que vivem o espírito de bem-aventuranças em todos os tempos. Deus nunca nos engana: os mansos, os simples continuam a viver em todos os séculos, como um Francisco de Assis, uma Teresa do Menino Jesus, um Santo Antônio de Pádua, uma Teresa de Calcutá. Quanto mais o tempo passa, mais estrelas luminosas como estas brilham no céu da humanidade e da Igreja.

O coração dos orgulhosos não se podem converter, porque se fecham à graça de Deus, mas se um orgulhoso se abre a Deus, necessariamente se torna humilde e será um sinal de vida nova para todos. Uma estrela que brilha no céu da Igreja e da humanidade.

Enfim, devemos meditar este texto sempre e amiúde, se queremos viver o mistério do amor de Deus. Pois, enquanto no mundo se corre com uma força de violência inaudita aos primeiros lugares, no Evangelho se corre aos últimos lugares, que, no céu, serão os primeiros.

Não podemos ter medo de Jesus

O Salmo responsorial 67/68 nos fala da alegria do povo de Deus que caminha na esperança para o Templo do Senhor. Deus nos espera sempre, porque nos ama e nos busca onde estamos, para que possamos voltar para Ele e deixarmo-nos amar por Ele. O autor da carta aos Hebreus nos coloca diante de uma realidade diferente da do Antigo Testamento. Neste, o povo tinha medo de Deus, não se aproximava nem do Templo nem da montanha santa, mas somente Moisés o fazia.

No Novo Testamento, este medo não é só vencido, mas destruído, porque o Templo novo é Jesus e todos nós podemos nos aproximar com confiança, porque Ele é o mediador único, a única porta que nos permite entrar no coração da misericórdia. Tudo isto é de uma beleza única e de uma mudança que não é fácil de compreender, mas tristemente devemos reconhecer que ainda existem cristãos que têm medo de Deus. Estas pessoas deveriam ler o Evangelho e também A história de uma alma, de Santa Teresinha, que venceu o medo pela misericórdia. Este é o único caminho para não ter medo de Deus, mas por que ter medo de um pai que perdoa e nos levanta sempre dos nossos pecados e quedas?

As regras mudam com Jesus

Uma das caraterísticas de Jesus é que Ele era um grande observador da vida, e vendo, então, o comportamento das pessoas, anunciava o novo caminho para os Seus seguidores. Ele via que todos os que eram convidados para uma celebração, para um reunião, para um jantar, se acotovelavam para pegar o primeiro lugar, “depois de tantos anos, as coisas continuam da mesma maneira… Correm aos primeiros lugares”, podia pensar Jesus. Com isso, Ele nos diz que esta maneira de agir não é boa por dois motivos.

O primeiro deles é que pode ser que seja convidada uma pessoa mais importante que você… E aí? Talvez alguém lhe diga que por favor deixe seu lugar, porque está reservado para Fulano ou Sicrano. Então, com vergonha na cara, devemos nos levantar e ir embora. E isto não é bom.

O segundo é que escolhendo o último lugar, pode ser que sejamos convidados para dar um passo à frente, de forma que uma alegria íntima será a recompensa do nosso ato de humildade. O último lugar é belo e bonito.

Teresa do Menino Jesus diz “Escolhi o último lugar que nunca me será tirado”. No entanto, é preciso que se saiba que o último lugar dá alegria somente quando você o escolhe, não quando os outros o escolhem por você.

Escola de oração

Para que um dia sejamos estrelas que brilham no céu da Igreja e da eternidade, é preciso seguir o exemplo dos santos, que buscaram seguir em tudo os ensinamentos de Jesus, confiando na Graça e não em si mesmos. Somente com humildade, alcançaremos a santidade: “No fundo, a falta dum reconhecimento sincero, pesaroso e orante dos nossos limites é que impede a graça de atuar melhor em nós, pois não lhe deixa espaço para provocar aquele bem possível que se integra num caminho sincero e real de crescimento. A graça, precisamente porque supõe a nossa natureza, não nos faz improvisadamente super-homens.

Pretendê-lo seria confiar demasiado em nós próprios. Neste caso, por trás da ortodoxia, as nossas atitudes podem não corresponder ao que afirmamos sobre a necessidade da graça e, na prática, acabamos por confiar pouco nela. Com efeito, se não reconhecemos a nossa realidade concreta e limitada, não poderemos ver os passos reais e possíveis que o Senhor nos pede em cada momento, depois de nos ter atraído e tornado idôneos com o seu dom. A graça atua historicamente e, em geral, toma-nos e transforma-nos de forma progressiva. Por isso, se recusarmos esta modalidade histórica e progressiva, de fato podemos chegar a negá-la e bloqueá-la, embora a exaltemos com as nossas palavras.” (Gaudete et Exsultate, 50)


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