Formação

Frei Patrício: Somos doentes em busca de saúde

Na verdade, para nós, a cruz, o sofrimento e a dor se tornam meios para vivenciar o mistério do amor de Deus.

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O mês de fevereiro é rico de acontecimentos litúrgicos que nos ajudam a prosseguir no nosso caminho. 

A intenção que o Papa nos oferece este mês para rezar é pela diminuição da violência contra as mulheres. Segundo as estatísticas, todos os dias no mundo acontecem muitos atos de agressão contra elas. Isto não é apenas grave, é gravíssimo! Isto grita contra a fonte da vida, contra a missão que a mulher recebeu de Deus. 

A mulher merece todo amor e respeito pelo sacrário que é, que conserva a vida e a defende desde o seu nascer. A maior parte das missões humanitárias, de cuidados aos doentes, é desempenhada também pelas mulheres, por exemplo. Teresa d’Ávila, que era uma mulher que defendia, dentro da Igreja, a presença das mulheres, dizia com acerto: “O que seria da Igreja sem as mulheres?”

No dia dois de fevereiro, celebramos a apresentação de Jesus no Templo, por parte de Maria e de José. Eles oferecem ao Pai o dom mais precioso que receberam: Jesus. 

A vida Consagrada

Hoje, também se celebra o dia da vida consagrada, carisma que é também uma pérola preciosa que enriquece a Igreja da transparência profética pela causa do Reino. Ele é vivido pelos homens e mulheres que escolhem viver 24 horas do dia a serviço do Reino de Deus, proclamando-o com força profética.

O Papa Francisco disse uma vez, aliás, tem repetido várias vezes, que a humanidade é “um hospital de campo”, e que somos todos doentes, seja de doenças físicas, seja de doenças espirituais. Há doenças graves do corpo, como vimos com o coronavírus, doenças que demandam tratamento intensivo; mas também há pandemias espirituais, não menos graves, que exigem também internação imediata na terapia intensiva. Entre estas está a doença do egoísmo, que entra cada vez mais na vida de cada um de nós e nos faz faltar o oxigênio da bondade e do amor. 

Existe também a doença da violência que, como um vírus, penetra em nossos corações e em nossas casas, destruindo a harmonia e a alegria da vida. 

O individualismo é outra doença, a qual se alimenta da fome e da sede imoderadas do conforto e do dinheiro, o que gera uma criminalidade organizada, que busca somente a destruição da vida.

Qual é, então, a missão do cristão diante desse cenário? Sua missão é reagir a tudo isto com os únicos meios que tem. Quais são eles? A honestidade profética, o amor e o perdão. Não, nós não podemos permanecer indiferentes diante de tudo isto, nem gritar que tem o fogo e ficar de braços cruzados, pois é preciso fazer algo. 

Conta-se que havia um grande incêndio na floresta. Enquanto isso, um beija-flor ia do rio e voltava para o fogo, quando alguém lhe perguntou o que estava fazendo. Ele respondeu: “Estou tentando apagar o fogo”. A esta resposta, a pessoa retrucou: “Mas será que você, com uma gota d’água, pode fazer alguma coisa contra este imenso incêndio?” E o beija-flor respondeu: “Se vou conseguir apagar, não sei, mas sei que eu estou fazendo tudo o que posso”. Meus irmãos, este é o momento em que cada um de nós deve fazer tudo o que puder para resolver os problemas da humanidade, tanto pela ação, como pela oração.

Voltemos a escutar Jesus

“Voltemos a escutar Jesus, com todo o amor e respeito que o Mestre merece. Permitamos-Lhe que nos fustigue com as suas palavras, que nos desafie, que nos chame a uma mudança real de vida. Caso contrário, a santidade não passará de palavras. Recordemos agora as diferentes bem-aventuranças, na versão do Evangelho de Mateus (cf. 5,3-12). ‘Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu.’” (Gaudete et Exsultate, 66)

O Papa Francisco nos convida, neste pequeníssimo número da Gaudete et Exultate, a nos colocar à escuta das palavras de Jesus, que são fonte de vida, de caminho e de liberdade para cada pessoa. 

Se queremos aprender a rezar e a fazê-lo bem não devemos correr atrás de “muitos mestres”, mas sim do único mestre, que é Jesus. Ele é o mestre dos mestres, que seguem a Jesus ao longo da história. 

À medida que caminhamos na vida, a nossa oração se vai purificando e tudo o que é folhagem vai caindo, para ficarem apenas os frutos e nada mais. 

Suspirando pela sombra

Dizem que o livro de Jó é um dos mais difíceis de ser compreendido. Há quem diga ainda que Jó nunca existiu, sendo o seu livro uma longa novela antropológica e divina, a qual falaria de um homem que busca a Deus e se encontra nos caminhos dos sofrimentos. Ao seu redor, há muitas pessoas que, em lugar de animá-lo, tentam desanimá-lo de todas as formas, criando nele “um complexo de culpa”. Vamos, no entanto, deixar tudo isto para os estudiosos, que eles se entendam. Para nós, basta saber que é Palavra de Deus, e isto nos basta. 

O profeta Jó sofre e, nos seus sofrimentos, suspira por um alívio. Ele busca, então, imagens fortes para representar a sua dor, como a imagem do escravo, a do caminhante e a do doente. Ele o faz pois é assim que se sente a alma quando se depara com a cruz que lhe parece maior do que suas forças. Vai dormir pensando na dor e se acorda pensando nela, chegando a suspirar pela morte, como fim de todas as suas penas. No entanto, isto não é para nós, que somos iluminados pela Palavra do Senhor. Na verdade, para nós, a cruz, o sofrimento e a dor se tornam meios para vivenciar o mistério do amor de Deus. Quem puder entender que entenda. 

O Salmo responsorial tenta dar uma resposta positiva ao sofrimento de Jó, levando a todos nós a louvar e bendizer o Senhor por tudo o que recebemos de Suas mãos.

Pregar o evangelho é mais forte que nós

O Apóstolo Paulo ama imensamente a sua comunidade de coríntios, dando por ela o melhor de si, toda a sua energia e força. Ele, porém, vê que os frutos não são os que esperava, pois aqueles são fiéis de cabeça dura e de coração ainda mais duro. O apóstolo, não obstante, não desiste da sua missão. 

À medida que o povo rejeita o anúncio do Evangelho, o missionário e o coração do apóstolo sentem ainda mais a necessidade de anunciá-lo. Mas por que se anuncia o Evangelho? O que se ganha com isso? Bom, se anuncia porque uma força interior, de paixão e amor, nos conduz a fazê-lo, e nada pode nos fazer desistir. Qual é o salário de quem anuncia o Evangelho? Eis a resposta do apóstolo Paulo: “Em que consiste, então, o meu salário? Em pregar o Evangelho, oferecendo-o de graça, sem usar os direitos que o Evangelho me dá.” (1Cor 9,18)

Quem proclama a Palavra de Deus adquire uma liberdade única e não se deixa dominar por nada nem por ninguém. Quem o faz está a serviço de Deus, que nos liberta de todos os medos e de todas as autorreferencialidades. O missionário tem, pois, um só desejo: a glória de Deus e o bem do povo. “Por causa do Evangelho, eu faço tudo”, estas palavras do apóstolo devem ficar gravadas no nosso coração e na nossa vida.

Jesus não tem tempo para elogios

O Evangelho de hoje é riquíssimo de conteúdo e de ensinamentos práticos para a nossa vida. Jesus vai à casa de Pedro para descansar do trabalho, mas encontra ainda mais trabalho: a sogra de Pedro está doente. Logo Ele a cura e ela se coloca prontamente no serviço para ajudar Jesus e os Apóstolos. Ao mesmo tempo, a fama do milagre não fica restrita às paredes da casa em que estava, mas corre veloz. O povo traz, então, todos os seus os doentes, chamando também os doentes em espírito que conhecem. Dessa forma, em pouco tempo, se forma diante daquele lugar uma multidão necessitada de ajuda. O evangelista nos diz que Jesus cura a todos até o pôr do sol. O que aprendemos com isso? Que fazer milagres, ser santo, é arrumar trabalho. 

Marcos gosta de mostrar os pormenores, por isso expressa o que Pedro e os apóstolos disseram a Cristo: “Todos estão te procurando”. Belíssima e também educativa é para todos nós, apóstolos e missionários, a resposta de Jesus: “Vamos para outros lugares. Devo anunciar o Evangelho”. Jesus não tem tempo para receber honrarias e elogios. Sua missão é anunciar o Reino de Deus.

Palavra que ilumina a semana

Não devemos nunca fazer as coisas para sermos recompensados, mas por puro amor, pela glória de Deus e pelo bem dos outros.


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