Quarenta anos desgostou-me aquela raça…, seu coração não conheceu os meus caminhos” (Sl 94 (95) ,8-ll).
A Quaresma é tempo forte de conversão pessoal e comunitária. A vida cristã é conversão contínua e crescente. É um caminho a ser percorrido. Supõe um processo de vida. É um itinerário que se retoma sempre de novo, segundo o dom da graça e a capacidade de acolhida própria de cada um.
O pecado é o maior obstáculo à conversão. Pecar é estar no lugar errado. Não estar onde deveria estar. Adão não compareceu ao diálogo marcado com Deus. O pecado corrompe a pessoa. Impede a realização, desfigura sua identidade cristã, rompe a comunhão e a amizade com Deus e com os irmãos/ãs. Mais do que um ato, pecado é opção por uma orientação errada da vida. Os atos são conseqüências da orientação errada.
O tempo quaresmal constitui tempo de mudança no coração e na sociedade. Tempo de luta na superação de estruturas sociais e políticas geradoras de injustiça. Tempo de graça que nos convida a acolher a misericórdia do Pai, a renovar nossa adesão a Cristo e a confrontar o nosso estilo de vida com a Palavra de Deus. Assim, experimentaremos a força renovadora do amor de Deus que perdoa e reconcilia. A Quaresma, é por excelência, “o tempo favorável, o dia da salvação” (cf. 2 Cor 5,20), tempo de solidariedade para com o próximo, tempo de cristianizar a globalização…
A conversão leva a pessoa a viver plenamente a vida nova em Cristo, a empenhar-se lealmente no serviço do Evangelho e dos mais “pequeninos”, a dar testemunho vivo da verdade e da liberdade, da justiça e da paz, a promover e a defender a vida e a dignidade humana em todas as situações e circunstâncias.
(…)
Enfim, procuremos viver bem a espiritualidade quaresmal. Sejamos mais assíduos à escuta e à contemplação da Palavra de Deus. Busquemos espaço maior para a oração pessoal e comunitária. Façamos do jejum e da esmola meios de crescimento na justiça e na solidariedade fraterna. Multiplicando obras generosas e reacendendo a caridade, celebraremos com mais alegria a Páscoa do Senhor.
Revestidos de Cristo Ressuscitado, deixaremos o coração arder na pressa de anunciar: “Eu vi o Senhor” (Jo 20, 18) nos irmãos e irmãs de caminhada.
Dom Nelson Westrupp, SCJ
Bispo diocesano de Santo André (SP)