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Homilia de D. Odilo na posse como arcebispo de São Paulo

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Queridos e muito amados irmãos e Irmãs no Senhor!

LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO!

Agradeço ao Papa Bento XVI pela confiança em mim depositada ao me entregar a missão de pastorear a Arquidiocese de São Paulo.

Agradeço a acolhida que tive por parte desta Igreja particular, as manifestações de apoio e apreço e as orações que fizeram e fazem por mim.

Agradeço as palavras de acolhida há pouco ouvidas; elas me confortam e encorajam para a missão que estou a assumir.

Neste IV Domingo da Páscoa, a Igreja celebra o Domingo do Bom Pastor, dia mundial de oração pelas vocações sacerdotais e religiosas, e nos convida a olharmos para Jesus Cristo, o Pastor bom, que entregou sua vida pelas ovelhas.

A Liturgia de hoje oferece-nos a chave de compreensão para aquilo que estamos realizando. O povo de Deus proclama com fé e alegria: “Sabei que o Senhor, só Ele é Deus. Nós somos o seu povo e seu rebanho” (Sl 99/11). Nós queremos servir ao Senhor com alegria e realizar o que agrada a Deus e manifesta sua glória e seu amor para com a humanidade.

Portanto, a Deus, eterno Pai, seja toda glória, porque sua misericórdia para conosco não tem limites, seu amor é fiel eternamente! Adoramos sua santa vontade e queremos conhecer e realizar seu desígnio para conosco e para com todo o mundo.

Adoramos o Filho eterno, nosso Salvador, que veio ao mundo e se fez próximo de nós, para ser nosso caminho, ensinar-nos a verdade de Deus e manifestar plenamente a vida de Deus para nós.

Adoramos o Santo Espírito do Pai e do Filho, que age no mundo e nos corações, impulsionando-os para o que é bom e renovando constantemente a face da terra.

“Nós somos o seu povo e seu rebanho”. A Igreja olha para Jesus Cristo e se reconhece inteiramente ligada a ele, seu divino Fundador e Senhor, que a adquiriu com seu sangue e a nutre constantemente com seu corpo; como ouvimos na 2a. Leitura, é Jesus Cristo, o “Cordeiro imolado” sobre o altar da cruz, que se tornou o grande pastor do rebanho e o conduz com solicitude às fontes da água da vida. Ele é o Cordeiro-pastor, que abriga com ternura as ovelhas em sua tenda, de maneira que nunca mais tenham fome nem sede, nem sejam molestadas por qualquer mal.

Também nós depositamos nossa confiança em Jesus Cristo e esperamos receber dele a salvação, para sermos contados um dia naquela grande multidão vestida de branco, que está de pé, com palmas de vitória na mão, diante do trono de Deus e do Cordeiro.

Jesus Cristo, unido eternamente a Deus Pai, fonte de toda vida, pode oferecer vida plena às ovelhas do rebanho, que ele reúne em torno de si e defende de todos os perigos; as ovelhas que são suas também são muito queridas do Pai eterno.

Hoje esta Igreja de São Paulo acolhe seu novo bispo e pastor. Na verdade, porém, é Jesus Cristo o grande Pastor da Igreja, o verdadeiro “bispo de nossas almas”, no dizer de São Pedro (1a. Pd 2,25). Ele a chama e reúne seu povo do meio de todos os povos, raças e culturas; também aqui em São Paulo ele conduz as ovelhas para pastagens verdejantes, por caminhos bem seguros, e as defende nos perigos. Ele continua a entregar sua vida para que as ovelhas recebam vida em abundância.

E a Igreja o segue, como discípula, e se esforça por ouvir sua voz e aprender todos os dias a realizar a sua vontade. Ela o segue, agradecida, pois sabe estar segura sob os seus cuidados e nos seus caminhos, mesmo se devesse passar pelo vale escuro e atravessar as sombras da morte.

A tomada de posse do bispo, inevitavelmente, suscita indagações sobre como ele vai exercer sua missão, com quais propósitos ele chega, qual é seu programa de trabalho. É normal e bem compreensível que se pergunte por isso, pois a Igreja está inserida na sociedade e se encontra em meio a situações que requerem orientação e decisões concretas.

O bispo deve responder sobre a celebração da liturgia, a catequese, e as vocações sacerdotais, sobre as pastorais e movimentos eclesiais, sobre as relações da Igreja católica com outras Igrejas e comunidades cristãs e outras religiões; é urgido a dizer sua palavra sobre a pobreza e a violência, a exclusão social e os rumos da política econômica, os direitos humanos e a vida em situação de risco, sobre questões morais de todo tipo, sobre desafios que a ciência põe diante da fé. Muito se espera do bispo, quer na vida da Igreja, quer na sociedade, e tenho bem consciência que aqui em São Paulo não é diferente de outros lugares.

Ao mesmo tempo que o bispo é membro da Igreja, povo de Deus e rebanho do Senhor, é um servidor de Jesus Cristo, Bom Pastor, por isso, no seu serviço pastoral, deve fazer aquilo que Jesus Cristo faria pela sua Igreja e animar toda a sua comunidade eclesial na realização da missão recebida, nas circunstâncias e situações concretas onde a Igreja vive.

“Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda criatura” (Mc 16, 15). O Evangelho da salvação precisa ser proclamado e anunciado pela Igreja missionária com perseverança, para que seja “boa nova” para os pobres e todos os aflitos; seja luz para o discernimento daquilo que é bom, seja força e vigor para mover os corações a acolher o desígnio de Deus sobre o mundo e sobre a vida pessoal e social. O Evangelho pertence a todos os filhos e filhas de Deus e lhes traz conforto, alegria e esperança; por isso, não pode ficar escondido mas precisa ser anunciado com largueza, como o pão cotidiano que se distribui com fartura, como a água restauradora que nunca pode faltar.

“Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu vos fiz”(Jo 13,15). Jesus Cristo quer continuar a servir a humanidade, através de sua Igreja; ao lavar os pés dos discípulos, na última ceia, ele lhes deu esta ordem: “fazei a mesma coisa vós também”. Por isso mesmo, a Igreja e suas organizações estão a serviço da comunidade humana e onde houver pés a lavar, fomes a saciar, lágrimas a enxugar, dores a aliviar, ali está empenhada a missão da Igreja; ali deverão estar servindo igualmente os discípulos de Jesus. Onde a vida, a dignidade da pessoa estiver sendo ameaçada ou desrespeitada, onde alguém estiver sofrendo injustiças, ali está uma ovelha do rebanho do Senhor, ali é chamada em causa a Igreja de Jesus Cristo.

“Fazei isto em memória de mim” (Lc 22, 19). Jesus Cristo entregou sua vida pela humanidade, sobre o altar da cruz; como grande sacerdote dos bens futuros, reconciliou-nos com Deus, para vivermos unidos com Ele. Jesus Cristo santifica seu povo e lhe concede a graça de viver, já neste mundo, a vida nova que brota de sua cruz e ressurreição, mediante o dom do Espírito Santo.

Por isso ordenou aos discípulos que continuassem a fazer o que ele fez, recordando sempre que Ele mesmo quer continuar a agir por meio deles e a santificar o seu povo. Por meio da Igreja, ele continua a reunir em torno de si o seu povo e a santificá-lo mediante a celebração dos divinos mistérios, sobretudo através do Sacramento da Eucaristia. Jesus Cristo continua a oferecer a todas as pessoas o perdão e a misericórdia de Deus através do serviço da Igreja. Por isso, a celebração dos santos Mistérios da fé nunca pode faltar nas nossas comunidades, porque as pessoas seriam privadas do encontro pessoal com Jesus Cristo, seu Senhor.

Por isso, querida Igreja de São Paulo, quero convidar todos a perseverarmos na realização da obra de Jesus Cristo, cada um em sua comunidade e na vocação que Deus lhe deu. Encorajo os presbíteros a servirem, em nome de Cristo, Pastor da Igreja, o povo das comunidades que lhes estão confiadas; os diáconos, a se colocarem ao serviço dos mais necessitados; os leigos a levarem o sal, a luz, o fermento e a vida do Evangelho para todas as estruturas da vida social e das atividades humanas; as religiosas e religiosas e os membros das novas comunidades a viverem seus carismas próprios e a serem páginas eloqüentes do Evangelho, facilmente compreensíveis, no meio da comunidade eclesial e de toda a sociedade. Convido todos a irradiarem a alegria da fé e da pertença à Igreja, através do testemunho de uma vida santa.

Encorajo as famílias, que se encontram com freqüência em situações tão complexas, a traduzirem os valores do Evangelho na comunidade familiar; os jovens a olharem para o futuro com confiança em Deus, na certeza de que o mundo pode ser melhor se nós assim o construirmos; encorajo tantos jovens ansiosos por darem sentido e um rumo bom à vida, a que se abram, com coragem e generosidade, ao desígnio de Deus e à Providência de Deus.. Estimulo e abençôo todos os irmãos e irmãs dedicados ao serviço dos pobres, doentes, excluídos, injustiçados e não reconhecidos em sua dignidade.

Abençôo e conforto os pobres de nossa cidade e todas as pessoas que sofrem; asseguro-lhes que Deus não os esquece. Por isso, podem contar também com a solidariedade da Igreja na afirmação de sua dignidade e do seu direito e na busca da superação de seus sofrimentos e da condição injusta que lhes é muitas vezes imposta.

Encorajo e agradeço a todos aqueles e aquelas que se encontram empenhados, com dedicação e grande fé, nos numerosos serviços da evangelização e da pastoral nas comunidades de nossa Arquidiocese, ou nos serviços missionários, aqui mesmo e longe daqui. Animo a todos aqueles e aquelas que sentem no coração a vocação a uma especial consagração ao Reino de Deus, no serviço da Igreja!

Conclamo todos os filhos e filhas da Igreja em São Paulo a se empenharem, com firme fé e reto coração, em toda causa boa e justa, para colaborar na edificação da convivência e das atividades humanas, em conformidade com o desígnio de Deus, unindo para isso esforços com os irmãos de outras Igrejas cristãs, de outras religiões e com todas as pessoas de boa vontade.

Minha posse acontece apenas 10 dias antes da Viagem de Sua Santidade, o papa Bento XVI ao Brasil, para abrir os trabalhos da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, em Aparecida. Temos a graça e a alegria de acolher o Santo Padre Bento XVI em São Paulo e de acompanhar, aqui, alguns atos importantes de sua visita ao Brasil. Este é um momento de especial graça de Deus para o Brasil; nossa Arquidiocese, de maneira especial, será agraciada com a canonização do Beato Frei Antônio de Sant’Ana Galvão. Desejo convidar todo o povo de São Paulo a acolher o Papa com fé e grande alegria; convido toda a nossa Igreja Particular de São Paulo a crescer na adesão sincera à pessoa e ao Magistério do Sucessor de São Pedro, pois ele tem a missão de confirmar-nos na fé e no caminho de Jesus Cristo.

Queridos irmãos e irmãs, “nós somos o seu povo e seu rebanho… as ovelhas que conduz com sua mão”. Sei que a missão que Deus hoje me confia nesta querida Igreja de São Paulo é muito grande e desafiadora. E que seria presunção demasiado grande querer abraçá-la sozinho, ou achar que eu teria, por mim mesmo, forças suficientes para isso. Portanto, quero agradecer, de coração, aos Irmãos Bispos Auxiliares desta Arquidiocese, que compartilham comigo o serviço e a responsabilidade do pastoreio de tão numeroso “rebanho do Senhor”. Agradeço aos presbíteros que servem de maneira abnegada ao povo nas comunidades locais e nas várias organizações da Igreja; peço a Deus que os assista, conforte e abençoe.

“Paulo plantou, Apolo regou, mas é Deus quem dá o crescimento e faz aparecer o fruto no devido tempo”. Ao assumir a Arquidiocese de São Paulo, faço reverência aos grandes e dedicados pastores que já a governaram durante os 361 anos de sua existência, como diocese e Arquidiocese. Sou confortado pelo exemplo e a sabedoria pastoral de Dom Cláudio Hummes, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Agnelo Rossi e Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, meus mais recentes predecessores nesta Sé. Eles deixaram uma grande herança espiritual nesta Igreja Particular e nesta cidade. Serão eles, para mim, ainda jovem no ministério episcopal, mestres e inspiradores no serviço a esta Igreja.

Confio meu ministério pastoral e toda esta querida Igreja de São Paulo ao patrocínio e à intercessão materna de Nossa Senhora da Assunção e da Senhora Sant’Ana, sua Mãe; rogo também a intercessão e a bênção dos filhos santos desta Igreja, os Beatos Padre José de Anchieta e Padre Mariano de la Mata, Santa Paulina e de Santo Antônio de Sant’Ana Galvão. Recomendo-me também à contínua oração de todo o povo desta Arquidiocese.

E agora, meus irmãos, meus filhos, povo querido de Deus: São Paulo sempre tem pressa, São Paulo é cidade de muitos trabalhadores! A messe é grande! Convido todos a colocarem o melhor de suas energias ao serviço do Reino de Deus e de Jesus Cristo. O Bom Pastor conta com a nossa fé, nossa generosidade e nossa fiel operosidade.

Ao encerrar estas palavras, desejo retornar novamente ao texto da Liturgia de hoje e dizer: “Sim, é bom o Senhor e nosso Deus, sua bondade perdura para sempre e seu amor é fiel eternamente” (Sl 99/100). Suplico, neste momento, ao Pai providente e misericordioso, ao Filho Salvador, ao Espírito de toda consolação: “Velai, ó bom pastor, sobre o rebanho que vos pertence, protegei-o e conduzi-o para que, apesar de sua fraqueza e da fragilidade daquele que colocais à sua frente como pastor, ele possa contar sempre com a vossa fortaleza. Amém.”

São Paulo, Domingo do Bom Pastor, 29 de abril de 2007

Dom Odilo Pedro Scherer
Arcebispo metropolitano de São Paulo

Fonte: CNBB


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