Ao apresentar o núcleo central da sua missão redentora, Jesus diz: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância”. Nessa passagem, Cristo fala da vida nova que consiste na comunhão com Deus, conquistada pelo Batismo.
Cada criatura humana é chamada a uma plenitude de vida, que vai muito além das dimensões da sua existência terrena, porque consiste na participação na vida de Deus. E é justamente a sublimidade desta vocação que revela a grandeza e o valor da vida de uma pessoa.
Igreja: A mãe que orienta
Cada ser humano está confiado à solicitude materna da Igreja, que se sente responsável por ele. Por isso, tudo o que se opõe à vida, o que viola a integridade da pessoa humana, é abominável para a Igreja.
A partir dessas razões, podemos compreender realmente os direcionamentos morais do Magistério Eclesiástico em relação à concepção, pois eles têm como fundamento a defesa da vida humana em todas as suas dimensões.
Infelizmente, a primeira tendência que, muitas vezes, surge no pensamento leigo diante dos direcionamentos morais da Igreja para as diversas realidades humanas, é o de que ela vem tolher as alegrias terrenas e o prazer humano, mas isso não é verdade.
Os perigos sutis da cultura de morte
A Igreja, iluminada pela missão que lhe foi confiada pelo próprio Jesus, está sempre a favor da vida em abundância: por isso jamais pode ir contra o Evangelho, nem mesmo com a desculpa de se adaptar às condições da vida moderna.
Os meios contraceptivos artificiais e as diversas técnicas de “procriação artificial” ou “fecundação artificial”, cada vez mais procurados por tantas famílias, dão margem aos novos atentados contra a vida por parte da ciência, quando em determinados casos se produzem embriões em um número superior ao necessário. Estes embriões, geralmente chamados de “excedentes”, são inoculados nas vias genitais da mulher, e depois destruídos ou utilizados para pesquisas.
Do ponto de vista moral, a fecundação artificial homóloga, ou seja, entre os próprios cônjuges, é, em si mesma, ilícita e contrária à dignidade da procriação e da união conjugal, mesmo quando se tomam todas as providências para evitar a morte do embrião humano.
Por essa razão, cabe a toda família cristã abraçar a causa da Igreja a favor da vida, deixando-se, primeiramente, renovar em sua própria mentalidade, pelo poder do Espírito Santo.
Direito do nascituro
Um filho, portanto, não pode ser considerado objeto ou propriedade. Neste campo, somente ele possui verdadeiros direitos: de ser o fruto do amor conjugal de seus pais e de ser respeitado como pessoa desde o momento de sua concepção.
Cada ser humano que chega ao mundo, é uma criatura querida por Deus por si mesma. Deus quer o homem como um ser semelhante a si, como pessoa. Isto aplica-se a todos, incluindo aqueles que nascem com doenças ou deficiências.
Na constituição pessoal de cada ser humano, está inscrita a vontade de Deus, que, através dele, realiza seus desígnios de amor para toda a humanidade. Portanto, os pais, diante de um novo ser humano, devem ter plena consciência de que Deus “quer” este homem “por si mesmo”, seja ele doente crônico, ou deficiente em qualquer aspecto. Independente de qualquer circunstância, a sua vida sempre será um grande dom concebido.
E os pais?
A maternidade e a paternidade humana consiste, então, em uma participação da pessoa no domínio de Deus. Os esposos devem viver, em cada ato conjugal, um momento de especial responsabilidade, em razão da potencialidade procriadora dele.
Eles podem, naquele momento, tornar-se pai e mãe, dando início ao processo de uma nova vida humana, que depois se desenvolverá no ventre materno. Portanto, nenhum dos dois pode deixar de reconhecer ou aceitar o resultado de uma decisão que também foi deles. Nisso consiste a responsabilidade, a maturidade humana, o verdadeiro sentido de comprometimento com a vida do outro.
Um grave equívoco
Com essa maneira de proceder, a vida e a morte acabam submetidas às decisões da própria família, que, dessa forma, decide de forma autônoma sobre a vida ou a morte dos nascituros.
O diagnóstico pré-natal, que respeita a vida e a integridade do embrião e do feto humano orienta para a sua salvaguarda ou para a sua cura individual, é moralmente lícito e indicado, mas os profissionais da saúde estão gravemente em contraste com a lei moral quando, dependendo dos resultados, sugerem um aborto aos pais da criança.
A Igreja confia nas famílias e nas mães que não podem engravidar
Com muita alegria, a Igreja contempla a iniciativa das famílias cristãs, até mesmo das que não possuem esterilidade e abrem-se em favor da adoção e do acolhimento de órfãos ou abandonados.
Essas crianças, encontrando o calor afetivo de uma família, podem fazer uma experiência da carinhosa paternidade de Deus e crescer com serenidade e confiança na vida. Assim, aquelas famílias que, reconhecendo todas as pessoas como filhas do Pai dos céus, vão generosamente ao encontro dos filhos das outras famílias, sustentando-os e amando-os, terão a oportunidade de alargar o seu amor para além dos vínculos da carne e do sangue.
Virgem Maria: Perseverança em meio aos desafios da maternidade
São João Paulo II afirma: quem acolheu “a vida” em nome e proveito de todos foi Maria, a Virgem Mãe que, por isso mesmo, mantém laços pessoais estreitíssimos com o Evangelho da vida.
O consentimento de Maria na Anunciação, e a sua maternidade, situam-se na própria fonte do mistério daquela vida que Cristo veio dar aos homens (cf. Jo 10,10). Através do acolhimento e do carinho que ela prestou à vida de Jesus, a nossa vida foi salva da condenação e passamos a herdar a vida eterna.
A Igreja – da qual Maria é figura – deseja dar uma perspectiva mais profunda aos homens, para que eles possam compreender a experiência da família de Nazaré como modelo incomparável de acolhimento e cuidado da vida.
Bibliografia
Pontifício Conselho para a Família. Temas de reflexão e diálogo em preparação ao terceiro encontro mundial do Papa com as famílias: “Os filhos, primavera da família e da sociedade”. Roma, 14-15 de outubro de 2000.
Carta Encíclica Evangelium Vitae, João Paulo II, Papa, sobreo valor e a inviolabilidade da vida humana.
Ana Carla | Missionária da Comunidade Católica Shalom