Formação

Iniciar o ano

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Diz o dito popular: “Quem bem inicia, já está na metade da obra”. Iniciamos nosso novo ano com as férias! Serão elas já metade da obra? Férias significam “não trabalho”. Deixam-se de fato as ocupações e os ambientes costumeiros; suspendem-se a “competição” e a “produção” e as preocupações e tensões, ligadas ao trabalho, ficam pelo menos um tanto para trás. Férias, portanto, parecem ser a negação do trabalho e de um bom início do ano.

Mas não poderia ser que, mesmo por significar não trabalho, saber oportunamente parar, fazendo férias, é afirmar o sentido mais profundo do trabalho? O trabalho humano é uma realidade ambígua. Pode ser trabalho escravo, como imposição que vem de um “patrão”; ou de nossa gana de dinheiro e poder, ou ainda, do “vício” de não conseguir parar, ou, por fim, da necessidade de ganhar o pão de cada dia.

O trabalho, sempre que vivido como imposição, venha ela de fora ou de dentro, torna-se inumano e desumanizante. Mas o trabalho pode e deve ser “humano”, isto é, trabalho livre, como urgência que surge do exercício da responsabilidade nossa diante da nossa própria vida, como empenho para termos do que viver, como utilidade mútua no convívio de humanidade e como ação cooperativa com o Deus Criador que pede que tornemos habitável este mundo.

Fazer férias é afirmar a nossa liberdade diante da ambigüidade do trabalho; é afirmar nossa autonomia diante do trabalho que tende a nos escravizar. Por elas buscamos a face “humana” do trabalho, como realidade colocada a serviço da vida: individual, social, seja ela a minha ou a dos outros. Tanto no trabalho escravo como no trabalho livre há um desgaste físico, psíquico e de relacionamentos que, muitas vezes, chega à beira do esgotamento. É o tal de estresse.

Ainda que não seja bem isso que muitas vezes acontece, fazer férias é querer dar atenção e se dedicar à recuperação e ao restauro das energias humanas desgastadas. É fazer como o atleta que antes de se lançar na sua tarefa, recua, renova suas energias, pega o embalo e se lança. Por energias humanas entende-se aqui todas aquelas modulações do “espírito” que antigamente eram chamadas de “virtudes” e de “obras de misericórdia espirituais e corporais”, energias, hoje, bastante esquecidas!

Se bem conduzido, este processo de humanização repercute sempre também numa renovada sensibilidade para Deus. Sim, muitas pessoas aproveitam as férias para dar uma atenção maior ao divino e ao nosso elo vital com ele! Estes sim, têm as melhores férias! Boas férias para todos! As melhores boas férias!

* Dom Fernando Mason

Bispo Diocesano de Piracicaba (SP)

Fonte: CNBB


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