1. Situação social e econômica
A globalização, hoje vigente no mundo, chegou também à América Latina e ao Caribe, mas com altos custos sociais. De fato, para adequar-se aos novos tempos em que o mercado é soberano, os países emergentes tiveram que fazer grandes ajustes para a abertura de sua economia ao mercado globalizado e isto exigiu enormes custos sociais, entre eles, uma devastadora destruição de lugares de trabalho, gerando um novo exército de desempregados que se somou ao já crônico desemprego. O desemprego é talvez a maior e mais resistente chaga social do continente. Não se nega que a globalização tenha trazido também benefícios e progresso, mas para uma parte significativa de nossa população trouxe um desemprego sem perspectivas. Meses atrás foi publicada em São Paulo uma pesquisa social que mostrou haver na Grande São Paulo um milhão de jovens sem trabalho e sem escola, não porque não queiram trabalhar e estudar, mas por falta de oportunidade. Infelizmente, muitos destes jovens terminam na droga e na violência.
Tudo isto indica que a Igreja deverá empenhar-se ainda mais na solidariedade para com os pobres, à luz de Jesus Cristo. A opção pelos pobres, não ideológica mas orientada pela Doutrina Social da Igreja, continua atualíssima. Aliás, o Santo Padre em seu discurso inaugural desta V Conferência sublinhou que “a opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica”.
2.A nova situação política
Hoje, num mundo globalizado, em que se formam novos agrupamentos de países, mediante tratados de livre comércio e mesmo certa união política, também a América Latina busca unir seus países, seja com tratados de livre comércio, como o MERCOSUL, seja buscando também uma união política do continente, a semelhança da União Européia. Esta busca de maior unidade tornou-se imperativa, promissora e positiva para que o continente tenha um futuro real. A Igreja Católica, que desde o tempo colonial sempre uniu estes povos sob aspecto religioso, poderia oferecer sua experiência e sua luz evangélica para este processo de união.
3. A nova situação religiosa
De um lado, a cultura pós-moderna e urbana está em expansão na América Latina e faz sentir-se principalmente nas camadas mais instruídas da população, na mídia e na política. Ela caracteriza-se por um individualismo e subjetivismo extremados, que se exprimem no pluralismo, no relativismo, no secularismo, no permissivismo moral, sob o pretexto de uma autonomia subjetiva que rejeita a normatividade de uma verdade fundante e universal. Ao mesmo tempo, cresce um laicismo militante e anti-religioso.
Por outro lado, as Seitas pentecostais e neo-pentecostais se expandem. De fato a Igreja Católica perdeu, p.ex., no Brasil, nas últimas décadas anualmente cerca de 1% de seus membros, sabendo-se que a maioria passou para as Seitas. Acrescente-se que as Seitas cresceram principalmente nas periferias urbanas pobres.
Não se trata de fazer um conflito com as Seitas, mas de perguntar-nos o que podemos nós fazer para ir ao encontro dos católicos afastados e dos pobres de nossas periferias para revitalizar sua fé católica. A falta de evangelização daqueles que nós batizamos é a causa principal deste fenômeno. Também a pobreza e o desenraizamento social e religioso do povo que veio do campo para as periferias pobres da cidade, são outra causa. A todos estes, as Seitas procuram atrair.
Urge também uma evangelização adequada dos jovens e do mundo da educação. Ali se forma o futuro da sociedade.Igualmente, precisamos evangelizar o mundo da mídia, os grandes meios de comunicação, que formam a opinião pública.
4. Proposta
Tudo indica que o tema desta V Conferência “Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que n’Ele nossos povos tenham vida”, foi uma escolha muito acertada. De fato, a Igreja na América Latina e no Caribe precisa decidir-se a ser resolutamente uma Igreja missionária dentro de seu próprio território, para sair em busca dos católicos afastados e de todos que pouco ou nada conhecem de Jesus Cristo e seu Reino. É preciso organizar os leigos das paróquias, dar-lhes uma formação básica sobre o kerigma evangélico e com uma metodologia missionária adequada enviá-los a visitar as famílias, sobretudo nas periferias pobres. É preciso ouvir as pessoas que tanto têm a nos dizer sobre seus sofrimentos e misérias, suas alegrias e aspirações, depois rezar com elas, anunciar-lhes de novo a pessoa de Jesus Cristo e conduzi-las a fazer um forte encontro pessoal e comunitário com Cristo, para despertar a adesão pessoal a Ele e assim tornarem-se seus discípulos. Nosso povo precisa sentir mais o calor e a proximidade de sua Igreja. Ao mesmo tempo, será preciso exercer uma solidariedade concreta e eficaz para com os pobres, pois evangelização e promoção humana não podem separar-se.
Esta V Conferência deveria, portanto, decidir-se por uma grande missão continental permanente, como lhe vem sendo sugerido por muitos que participaram vivamente de sua preparação.
Para esta missão os presbíteros e os diáconos permanentes serão agentes fundamentais e indispensáveis nas paróquias e nos diversos ambientes da sociedade . Eles serão decisivos para o êxito da missão. A formação em nossos seminários e a formação permanente do nosso clero deveriam assumir como tarefa urgente o despertar deste espírito missionário.
[Texto fornecido pelo CELAM]