“E o Verbo de Deus se fez carne e veio habitar entre nós” (Jo 1,14). Essa afirmação do Evangelho está se referindo ao grande mistério da Encarnação de Jesus, o Filho de Deus. Faz referência também a um outro grande acontecimento da Antiga Aliança, quando Deus veio “acampar” no deserto junto a Seu povo, justamente na passagem da terra da escravidão para a terra da libertação (cf. Ex 15,22-27).
Dada a importância desse elemento da fé, o Catecismo da Igreja Católica dedica algumas boas páginas para expô-lo. Veja o que diz a Igreja: “Uma vez que, na união misteriosa da Encarnação, ‘a natureza humana foi assumida, não absorvida’, a Igreja, no decorrer dos séculos, foi levada a confessar a plena realidade da alma humana, com as suas operações de inteligência e vontade, e do corpo humano de Cristo” (CIC 470).
Como comprovamos, não foi um teatro ou uma encenação, o Verbo de Deus Se fez realmente carne, assumindo em tudo a nossa condição, menos o pecado. Nesse ponto, a Igreja sente a necessidade de comentar um pouco sobre como se expressa essa vontade humana de Cristo. Leia:
“De igual modo, a Igreja confessou, no sexto Concílio ecumênico, que Cristo possui duas vontades e duas operações naturais, divinas e humanas, não opostas, mas cooperantes, de maneira que o Verbo feito carne quis humanamente, em obediência ao Pai, tudo quanto decidiu divinamente com o Pai e o Espírito Santo para a nossa salvação. A vontade humana de Cristo ‘segue a sua vontade divina, sem fazer resistência nem oposição em relação a ela, antes estando subordinada a esta vontade todo-poderosa” (CIC 475).
Respeitando as devidas e óbvias proporções, todos nós, seres humanos, criados à imagem e semelhança de Deus, e pertencentes à mesma natureza assumida por Cristo, trazemos dentro de nós os apelos de nossa vontade humana e os ecos da vontade do Criador. A diferença de nossa condição humana e pecadora para a condição humana e santa de Cristo é que “a vontade humana de Cristo, obedece sua vontade divina, não resiste, nem se opõe a ela”. Por isso, uma conversão autêntica de coração tem como meta superar e vencer as obras da carne e abraçar as obras do Espírito. O homem carnal vive apenas a partir do que vê e consegue explicar, o homem espiritual vive a partir do que não vê, quer compreenda ou não (cf. Rm 8,5).