Como Jesus lidou com as situações de fome no Evangelho?

Mais que um tema atual, a fome e a insegurança alimentar têm sido uma dura realidade com a qual temos que nos deparar diariamente. O aumento do desemprego devido à pandemia, as catástrofes ambientais, os problemas de abastecimento e o aumento do preço dos alimentos têm feito com que cada vez mais famílias se encontrem nessa dolorosa situação. 

A alimentação simboliza a necessidade radical que o homem tem de Deus e dos outros para viver. O alimento é fruto da natureza – e, nesse sentido, é dom de Deus -, mas é também fruto do trabalho do homem, lugar por excelência da solidariedade e da troca. Assim, a refeição é uma expressão privilegiada da partilha e da comunhão entre os homens, é frequentemente uma festa, um momento de felicidade para o corpo e para o coração, um momento no qual o “estar juntos” pode tomar forma e se tornar realidade. 

Como Jesus viveu a fome?

Logo, além de uma questão puramente material, a falta de alimento é também uma questão espiritual. Assim, surge uma pergunta: Qual seria a resposta verdadeiramente cristã à fome? Será que a Igreja deve parar de dedicar-se à dimensão espiritual e dedicar-se à arrecadação de alimentos? Ou devemos somente rezar pelos que passam necessidade sem ir, de fato, ao encontro deles? Voltemos então o nosso olhar para Cristo. Como Jesus viveu a fome? Como Ele lidou com a fome dos Seus amigos e discípulos? 

Jesus fez em primeira pessoa aquilo que ensinou: viveu a bem-aventurança dos misericordiosos. Vemos isso bem representado na ocasião da multiplicação dos pães. Os evangelistas Mateus e Marcos nos trazem dois casos (Mt 14,1 3-21; 15,32-39; Mc 6,30-44;8,1-10) e assim nos sublinham a importância. Está presente em Lucas (9,10-17) e em João (6,1-15) encerrando o ministério de Jesus na Galileia. 

Jesus é seguido pela multidão que procurava escutá-Lo e tem piedade dessas pessoas que lhe parecem ovelhas sem pastor. Não quer mandá-las de volta para casa sem dá-las de comer. Na verdade, Ele, primeiramente, alimenta-as com a Sua Palavra, que nutre o coração, restituindo-lhes a vida. Sacia a fome de amor e de salvação e, como Ele mesmo teve fome (Mt, 21-18), compadece-se da fome corporal da qual padecem aqueles que O escutam. 

Tendo ouvido falar sobre o Reino de Deus, já presente no meio deles, a multidão se coloca também em um movimento de partilha. Aquilo que tinham, no entanto parecia insignificante diante da necessidade de todo o povo. E foi exatamente aí que aconteceu o milagre, a insuficiência partilhada com generosidade é multiplicada por Jesus e torna-se abundância. Além disso, o Evangelho de João prolonga essa unidade entre Palavra e pão, colocando na boca de Jesus o anúncio de uma unidade nova entre o pão e o Seu próprio Corpo: como a Palavra se fez pão para nutrir os cinco mil homens, assim o Seu corpo, no lugar da Sua Palavra, será o Pão da Vida. 

Amigo dos Pobres

Daí aprendemos a viver no estilo de vida de Jesus, que acolhe o homem todo, em sua primeira necessidade de Deus, de amor e salvação e na sua mais urgente necessidade de pão. Na Comunidade Shalom, dentre tantas outras experiências, temos vivenciado essa graça através do Projeto Shalom Amigo dos Pobres, que já acontece em 30 cidades do Brasil. Como diz o nome do projeto, o nosso intuito é ser como Jesus, amigo, próximo, conhecer e fazer-se conhecido, perceber não somente as necessidades das pessoas, mas também os seus dons, sonhos, e medos. Além de refeições e banhos, oferecemos a nossa amizade, nossa intercessão e contamos com a intercessão das pessoas que encontramos também. Somos membros de uma mesma família humana. Aquilo que pode parecer pequeno, utópico ou insuficiente, pode ser, se oferecido a Jesus, multiplicado e tornar-se abundante. 

Convidamos você a fazer essa experiência, seja voluntariando-se conosco no Projeto Shalom Amigo dos Pobres, seja aprofundando o seu conhecimento sobre o tema na nossa escola de Doutrina Social da Igreja, promovido pelo Instituto Parresia.

Lívia Pereira
Comunidade de Vida
Missão Santo André (SP)