Formação

Jesus Menino: O peregrino por excelência

Com ternura, Ele levou a salvação aos confins da terra.

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Neste dia temos a grande alegria de refletir sobre o Mistério da Encarnação do Verbo divino. A partir deste mistério se inaugura uma nova modalidade de Revelação divina por meio da qual, de maneira extraordinária, o próprio Deus se manifesta pessoalmente ao homem.

Como afirma o prólogo da Carta aos Hebreus: “Muitas vezes e de modos diversos falou Deus, outrora, aos Pais pelos profetas; agora, nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e pelo qual fez os séculos” (Heb 1, 1-4). Este texto bíblico declara que de maneira multiforme Deus buscou o homem para fazê-lo entrar na Sua intimidade, perdida pelo pecado original. Estas manifestações, na plenitude dos tempos, dão lugar à definitiva ação divina que se manifesta por meio do Filho Encarnado. Celebramos isso no Natal, ou seja, o Mistério do Amor incansável de Deus que busca o homem.

Manifestação do amor de Deus

O Filho de Deus se tornou o Peregrino divino que continuamente vem ao nosso encontro porque o Pai nos ama. O homem criado à imagem e semelhança de Deus traz no seu coração uma profunda atração por Ele, semelhante à atração do “coração” de Deus que não se cansa de procurar o homem. Este Amor absoluto de Deus se manifesta na história da salvação que se desenvolve como uma grande obra divina em três grandes momentos: no início, a obra da criação; no centro, a encarnação e a redenção; e no final, a parusia.

Estes três momentos não devem ser entendidos de maneira cronológica, mas como desenvolvimento do plano de Deus que, presente na história, continua sustentando sua criação, como também manifestando os efeitos da graça pela sua passagem na terra e, por meio da sua Páscoa, realizando já uma antecipação decisiva daquilo que viveremos no Céu. Em Jesus Cristo, toda a história do homem é história da salvação.

Deus conosco

Na noite de Natal celebramos o rompimento de uma grande distância sentida pelo homem diante de Deus. Esta distância dá lugar à benigna proximidade de Deus que se inclina para encontrar-se conosco. Deus desce realmente, verdadeiramente se abaixa. Afirma Bento XVI: “Torna-Se criança, colocando-Se na condição de dependência total, própria de um ser humano recém-nascido. O Criador que tudo sustenta nas suas mãos, de Quem todos nós dependemos, faz-Se pequeno e necessitado do amor humano”. Deus, em Jesus Cristo o Verbo Encarnado, se fez o Deus Emanuel, ou seja, Deus conosco, próximo, um Deus para os homens. Vindo ao encontro do homem lhe oferece a Sua Comunhão que sana no coração humano toda solidão e falta de sentido na sua existência.

Como afirma o padre Cantalamessa: “Em Cristo, Deus entrou pessoalmente na humanidade, em carne e osso; fez-se um de nós, para nos falar e nos salvar por meio da nossa situação de pecado. A aliança se tornou nova e eterna: eterna, porque as duas partes – Deus e o homem – já são uma só pessoa, um ser não mais divisível: Jesus Cristo”. São João sintetiza esta realidade com poucas palavras: “O Verbo se fez carne” (Jo1, 14). Na festa do Natal celebramos esta proximidade divina que não é uma questão de espaço nem de tempo, mas uma questão de amor. No Filho, Deus está tão próximo do homem que nada poderá – além do próprio homem – separá-lo deste amor. Somente nós mesmos podemos nos separar deste infinito Amor, dando as costas e recusando, vivendo como se Ele não tivesse vindo, como se não estivesse manifestando a Sua Presença.

Alegria que nasce do amor

O fruto imediato desta proximidade divina é a alegria que nasce do Amor, que vence a causa de toda a nossa tristeza que é o pecado. Agostinho nos ensina:“O pecado é o motivo de tua tristeza. Deixa que a santidade seja o motivo de tua alegria. A busca de Deus é a busca da alegria. O encontro com Deus é a própria alegria. O que mais Deus odeia depois do pecado é a tristeza, porque nos predispõe ao pecado”. Nesta mesma perspectiva nos ensina são Bernardo: “Assim como a traça corrói o vestido, e o caruncho a madeira, assim a tristeza prejudica o coração do homem”. Portanto, devemos sempre fugir da tristeza.

A santidade divina é motivo de alegria para nós e não de ameaça pelo fato de sermos pecadores, pois Ele quer compartilhar conosco deste dom que nos torna profundamente nós mesmos. Deus se faz Peregrino na terra para tornar o homem peregrino do Céu. O Natal reacende em nossos corações a atração para o Céu, convidando-nos a superar – pela experiência de Amor – os confins do tempo e do espaço, e a manter o nosso coração dilatado para as realidades santas e eternas. Podemos constatar com o nascimento do Filho de Deus o primeiro fundamento da redenção do homem. O segundo fundamento é a sua morte e ressurreição que manifestam um único desígnio divino: salvar a humanidade. Esta redenção implica não somente o aspecto do tirar todo o mal que a oprime, mas manifestar a santidade divina que torna o homem plenamente imagem e semelhança de Deus.

Ternura: força mais humilde e poderosa

Vivemos no tempo favorável, pois se tornou visível na Pessoa de Cristo o desígnio misericordioso do Pai que veio ao encontro do homem para lhe comunicar diretamente e pessoalmente a verdade e o amor que salva e santifica e, assim, torná-lo partícipe da sua vida e amizade. Neste Mistério se encerra todo o desejo do coração humano que transcende o mundo e toda realidade criada. O fundamento da nossa existência está no céu que se tornou Presente. O Espírito Santo é quem faz com que toda esta realidade maravilhosa se encarne na nossa vida e a torne realidade concreta e não simplesmente teórica. De fato, tudo o que afirmamos não é uma ideia vaga, mas Deus encarnado no meio de nós.

O Peregrino divino continua a caminhar pela “terra dos homens” em busca de corações que se abram para acolhê-lo, a fim de que Ele possa manifestar a sua caridade misericordiosa, solicitando a abertura de cada liberdade ao seu Amor. Ele é simples, manso e humilde de coração e traz no seu alforje somente a ternura que é, ao mesmo tempo, a força mais humilde, como também a mais poderosa, que é capaz de mudar o coração do homem.

Seu coração, querido leitor, neste Natal é “endereço” procurado e visitado por Deus. Portanto, vigie, esteja atento e não tenha medo Daquele que é tudo, tudo, tudo o que seu imenso coração mais aspira nesta vida e na eternidade. Neste tempo de graça você é convidado a fazer a belíssima descoberta do Peregrino divino que vem ao seu encontro. Finalizemos com suas próprias palavras em Apocalipse 3, 20: “Eis que estou  à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo”.

 

Padre Rômulo dos Anjos
Comunidade Católica Shalom


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