Dom Aloísio Roque Oppermann
Umadas maiores fraquezas da nossa civilização é a visão amputada do serhumano. Parece um paradoxo. A época dos fortes humanismos e dosantropocentrismos absolutos,é também uma época de abissais angústias deidentidade humana. A amnésia do seu aspecto divino conduz, de modoinexorável, ao rebaixamento antropológico. Os valores do homem sãoreduzidos a uma parcela ínfima da natureza, ou a um elemento anônimo dacidade humana. É o abismo irrefreável para o qual o humanismo ateu ofaz escorregar. Esse é o drama do homem, destituído de uma dimensãoessencial de seu ser, que é o absoluto. A afirmação primordial daantropologia cristã é a de ser ele filho de Deus. O ser humano “é uno, único e irrepetível, alguém eternamente idealizado, e eternamente escolhido, alguém chamado e denominado por seu nome” (Mensagem de Natal de 1978, João Paulo II).
Ohomem avaliado apenas numa visão econômica, biológica ou psíquica, émuito pouco reconhecimento para tamanha grandeza. A Igreja recebeu deseu Mestre o dever de proclamar os tesouros do ser humano, sem sedeixar contaminar por humanismos reducionistas, depositando umaconfiança sem fim na mensagem de Jesus. Já dizia Santo Irineu, pelosanos de 180 d.C. que “a glória do homem é Deus, mas o receptáculo de toda a acão de Deus, de sua sabedoria é o homem” (Adversus haereses, L III, 20). NesteNatal queremos anunciar sem ambigüidades, a grandeza do homem, reveladapor Jesus. E isso provém de seu conhecimento, porque ele “sabia o que havia no homem” (Jo2, 25). Natal, sim, é a festa do Deus-menino. Mas também é a festa dohomem. Levantando nossos olhos para essa criança, nós a adoramos, mastambém vislumbramos em sua natureza, a grandeza da humanidade. Issoconstitui o fundamento do ensino da Igreja sobre as atividades sociaise humanitárias. Assim o homem não fica submisso a processos econômicosou políticos, por mais geniais que pareçam ser, mas esses processosestão todos ordenados ao ser humano, e submissos ao seu bem.