Conhecemos bem a história do nascimento de João Batista. Zacarias, seu pai descrente, desconfiado, medroso, não acredita na presença de Deus. O anjo Gabriel lhe dará um sinal doloroso: “Ficarás mudo até o nascimento do menino!” Ficar mudo porque não acredita, não tem o direito de falar, de anunciar, de denunciar. A palavra não pode ser desmentida pela vida e nem a vida pela palavra. Isabel e Zacarias são os instrumentos do nascimento do “menino prodígio”. A eles cabe o direito de escolher o nome. No entanto, o mesmo Deus se encarrega. Seu nome será “João, dom de Deus!” É um filho recebido não com a força generativa humana, mas como presente do Senhor. É a força de Deus que interrompe o curso da natureza. “Tudo para Deus é possível!”
Ora, a boca se abriu
Deus nos restitui a palavra quando não há mais dúvida dentro de nós. A partir daí somos capacitados para anunciar o Evangelho de Jesus, a Boa Nova. Se todas as vezes que duvidássemos de Deus ficássemos mudos, o silêncio imperaria na humanidade e pouquíssimas vezes pronunciaríamos uma palavra. Sempre que abrirmos a boca deve ser não para amaldiçoar nem para praguejar, mas sim para louvar, bendizer, cantar as maravilhas do Senhor. Zacarias cantou…Eu imagino que Zacarias, que era sacerdote do Templo, sabia cantar bem. Portanto, cantou o seu cântico chamado “bendito” (Benedictus). Com muito amor, cantou proclamando as maravilhas de Deus naquele menino, que foi dado a ele para reconhecer a presença viva da misericórdia de Deus. Este menino pertence ao Senhor, tem uma missão: preparar os caminhos do Senhor. João Batista, na verdade, cumpriu bem a sua missão. Não permitiu que o confundissem com o Messias, assumiu o que ele era: “Depois de mim, porém, virá outro mais forte do que eu, de quem não sou digno de desatar as sandálias.” (Mt 3,11). É o momento, à luz de João Batista, de cada um assumir sua missão. Não podemos com medo fugir da nossa missão e nem por orgulho assumir missões maiores do que nós, mas o que Deus quer de nós. Isto é santidade e profetismo.
João Batista assume sua missão
João Batista assume a missão de ser precursor e anunciador do Reino de Deus. Anuncia o mistério de Jesus, convidando todos a fazerem penitência e a esperar a chegada do Messias. João Batista recebeu do próprio Jesus o maior elogio: “Não há ninguém superior a ele nascido de uma mulher.” (Mt 11,11). A missão de João Batista foi dura, batalhadora e corajosa. Foi colocado no cárcere e foi pela sua fidelidade à Lei de Deus. O seu sangue de último mártir do Antigo Testamento é chave que abre também a porta da novidade do Reino do Senhor. A Igreja tem um grande apreço por este santo e celebra duas festas: o nascimento e o martírio. Hoje em dia devemos fixar o nosso olhar sobre ele para que saibamos assumir a nossa missão profética de condenar, sem meio termo, os males morais que vemos por aí, sem medo de colocar em risco a nossa cabeça e nossa vida.