“Cada um dos leigos deve ser, perante o mundo, testemunha da ressurreição e da vida do Senhor Jesus e sinal de Deus Vivo.”
(Lumen Gentium,38)
O Povo de Deus é constituído, em sua maioria, por fiéis leigos. Eles são chamados por Cristo como Igreja, agentes e destinatários da Boa Nova da Salvação, a exercer no mundo, vinha de Deus, uma tarefa evangelizadora indispensável. A eles se dirigem hoje as palavras do Senhor: ‘Ide também vós para a minha Vinha’ (Mt 20, 3-4) e estas, ainda: ‘Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura’ (Mc 16, 15)”. Com esta afirmação, o Documento de Santo Domingo abre o capítulo em que analisa a missão dos leigos no mundo, em especial na América Latina.
Desde o Concílio Vaticano II, encerrado em 1965, a Igreja tem manifestado a sua preocupação com o incentivo ao protagonismo do laicato. Mas, para exercê-lo bem, é necessário, também, que o leigo e a leiga busquem uma formação complementar, que os torne aptos a ensinarem e a proclamarem o Reino de Deus. Os fiéis leigos comprometidos manifestam uma sentida necessidade de formação e de espiritualidade.
Embora a Igreja tenha proclamado a importância do leigo desde 1965, muitos fiéis ainda não tomaram plena consciência de sua pertença à Igreja. Ainda há muitos fiéis que estão acomodados nas paróquias porque ainda não entenderam a ação e a missão do leigo. Ele tem que ser formado, tem que se aprimorar, tem que buscar, tem que se esforçar, para poder levar o Reino de Deus ao homem disperso no mundo moderno. Mas não adianta só formar o intelecto. Tem que caminhar junto com a formação intelectual a espiritualidade, caso contrário formamos apenas “robôs”, porque o conteúdo que adquirem não tem substância.
Tereza Cavalcanti, assessora Nacional dos Encontros de Comunidades Eclesiais de Base e do Centro de Estudos Bíblicos (CEMI), que também é professora do Curso de Teologia da PUC-Rio, defende a necessidade da formação dos leigos por considerar que não se pode transmitir ao outro aquilo que nem sequer se conhece. “A sociedade exige de pessoas adultas a consciência e responsabilidade pelas opções que tomam. Ao sermos batizados, ingressamos na comunidade daqueles e daquelas que fazem uma opção livre pela proposta de Jesus Cristo, ou seja, pelo Reino de Deus que Ele veio nos trazer. Ora, não se pode optar por algo que não se conhece bem, ou que se conhece superficialmente, enquanto outras escolhas na nossa vida são feitas com base em informações sólidas. Se somos católicos, porque herdamos essa confissão religiosa de nossos pais e mães, precisamos renová-la apoiados em convicções nossas, enquanto adultos, com a maior clareza possível sobre o conteúdo da nossa fé”, declarou.
O pensamento da professora é confirmado por Dom Estevão Bittencourt, Monge Beneditino, diretor da Escola Mater Ecclesiae e da Faculdade Eclesiástica de Filosofia João Paulo II. Para ele “há leigos de boa vontade, piedosos, capazes de se aprofundar na fé, mas um tanto displicentes a tal propósito. Seria preciso que o leigo conhecesse um pouco mais o que ele professa para não ser arrastado ao ecletismo, às superstições ou a novas seitas. A evasão para seitas se explica em parte pelo despreparo doutrinário do laicato. Hoje as correntes doutrinárias são tão fortes que abalam quem não está firme na sua fé”, disse.
E quais os aspectos mais importantes para a formação do leigo?
“Uma Igreja viva e atuante aposta na formação dos leigos. Eles a enriquecem com uma vocação e uma missão próprias. Sua atuação é indispensável na Igreja e, enquanto membros desta, é indispensável no coração da própria sociedade. Trabalham para o advento do Reino de Deus na história. Todos são chamados pelo Senhor a viver e a exercer uma missão na Igreja e no mundo. É indispensável uma formação humano-espiritual, que conduza os leigos a um equilíbrio e maturidade nas mais diferentes dimensões (biológica, psico-afetiva, social e espiritual). Não podemos descuidar de uma formação cristã católica, aprofundando a experiência de fé, cultivando uma espiritualidade e mística do seguimento de Jesus e se preparando para atuar, como cristãs e cristãos, nas mais diferentes realidades da sociedade de nossos dias”, responde Frei Nilo Agostini, franciscano, diretor do Departamento de Teologia da PUC-Rio.
Há, porém, quem tenha um certo receio quanto ao estudo da Teologia e afirme, até, que ele leva o fiel a perder a fé. Será isso possível?
“Concordo, em parte. Porque a Teologia leva a questionar uma fé infantil, que ficou parada lá na primeira comunhão de muitos de nós. Uma fé supersticiosa e medrosa, que fecha os olhos para a evolução da ciência e tapa os ouvidos para as perguntas incômodas. Para quem quiser correr o risco de ser adulto na fé, a Teologia vai proporcionar descobertas daquelas que levarão os jovens a dizer: ‘Manero! Agora sim, entendi! Agora sei em que sentido a Bíblia tem razão! Agora sinto orgulho de pertencer a um povo que tem uma linda história de fé! Agora me sinto capaz de, com humildade e serenidade, me admirar diante do mistério insondável do Deus de Jesus Cristo’ – mistério que a Igreja traz envolvido em ‘vasos de barro”, respondeu a professora Tereza.
E é justamente pelo estudo da doutrina e da Bíblia que os leigos “descobrem que podem se tornar promotores de uma cultura em favor da vida, vivendo os valores cristãos, bem inseridos na sociedade contemporânea. É a força do Evangelho que inspira a vida. É a força do Espírito Santo que renova as pessoas. É o chamado de Deus que a todos chama a ser seus colaboradores neste tempo de graça e salvação”, finaliza Frei Nilo.
Andréia Gripp
Formação setembro/ 2009
como leigos queremos aprofundizar a nossa fe em Jesus Cristo e ser testemunho de este amor que recebemos.