Sexta-feira, mistérios dolorosos, Paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Sentei-me no chão, voltada para o singelo altar do meu quarto, que aponta o Sagrado que
deve habitar dentro e fora de mim. Último mistério. Crucificação e morte. O Espírito
soprou, e eis uma lembrança e um entendimento: o bom ladrão viu Jesus crucificado,
flagelado, coberto de sangue e coroado de espinhos. Ele viu e acreditou.
Os olhos daquele homem, cujo nome só Deus conhece, não viram o Messias
fazendo cegos enxergarem, mudos falarem e paralíticos saltarem de seus leitos. Não
contemplou o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, nem estava presente quando
o servo do centurião foi curado por uma única palavra saída da boca da Eterna Sabedoria.
Aquele ladrão não viu o vento e o mar silenciarem diante de Cristo; não
testemunhou a ressurreição de Lázaro que, sob a ordem do Filho de Deus, veio para fora,
mesmo já estando há quatro dias no sepulcro; e nem presenciou esta mesma Palavra
expulsar demônios e afirmar a purificação dos pecados de tantos que, à medida que O
conheciam, passavam a trilhar um caminho de redenção.
O único milagre que este misericordiado contemplou foi o Amor que o amou até
as últimas consequências. O milagre que o bom ladrão testemunhou foi o de um Justo que
tomou parte de suas dores, que abraçou o seu sofrimento e o acolheu, quando tudo o que
ele esperava receber — e talvez o tenha recebido durante toda a sua história — era o
desprezo dos homens. “Lembra-te de mim quando entrares no Teu reino…” e O Senhor,
que não tarda em salvar, responde com prontidão: “Ainda hoje estarás Comigo no
paraíso.”
Sem demoras, O Espírito me fez compreender que hoje, neste tempo tão favorável,
próximo à Semana Maior, esta cena se encarna em nossa vida missionária. No cenário em
que estamos inseridos, homens, mulheres, crianças, idosos e jovens do mundo inteiro, do
alto de suas cruzes — a enfermidade, a perda dos familiares e amigos, a saudade, o medo,
a angústia, a dor — ecoam também o seu grito: “lembra-te de mim…” e talvez, mesmo
torcendo e rezando para que tudo isso passe logo, o maior milagre que a humanidade está
aguardando é alguém que se una à sua dor e com ela chore.
Em espírito de constante intercessão, a Divina Providência nos dá uma santa
oportunidade para sermos “um outro Cristo no mundo”, capazes de dizer, por meio da
oração, aconselhamento e tantas outras atividades desenvolvidas online: “ainda hoje
estarás comigo no Paraíso”. O Paraíso que é a Vontade de Deus, o conhecimento de Cristo
e a esperança de que a Ressurreição já está surgindo, como um novo amanhecer que chega
depois de uma densa noite.
Como clamor, para que não tenhamos medo de termos nosso coração transpassado
pelos sofrimentos dos filhos de Deus, tomemos (ou retomemos) a nossa oração
vocacional — “[…] Dá-nos, Senhor, boas santas e abundantes vocações, para que
possamos cumprir com a nossa missão de anunciar a Paz onde a Igreja e a humanidade
precisarem de nós. Sustenta com a tua Graça todas as pessoas que constituíste como
família Shalom e aumenta em nós a generosidade na doação irrevogável da nossa vida.
[…]”
Bárbara Letícia – Missão de Natal