É, galera, tempos especiais na liturgia católica acabaram de passar. Foi uma sequência grande: Advento, Natal, oitavas de Natal, um refresco no meio normal, depois Quaresma, Páscoa, Oitava de Páscoa e Pentecostes. Tempo bom, não é?! Musiquinha especial, turíbulo, incenso pela casa, corais apoteóticos cantando o salmo, ofício das leituras bombando. Com todos esses estímulos era moleza se sintonizar com o Espírito Santo. Se conseguisse, era só deitar na boia e deixar a correnteza dos ritos levar… Mas agora não! Mudou! E voltamos com os dois pés para o TEEEMPOOO COOMUUMMM!
Pois é, acabou a moleza. Não que fosse fácil antes viver tudo bem, como deveria ser, naquele espírito de piedade e tal, mas é que agora fica um pouco mais difícil, não é? Vem aquela moleza… Tudo volta ao compasso normal, e o cotidiano se apresenta suavemente, sorrateiramente, quase não dá para ver ele chegar. Mas é então que o bicho pega!
Tão suave, quase esquecido, o Tempo Comum não é para qualquer um. Na verdade, é na roda do dia a dia que se prova a fibra da virtude. Não é fácil manter o sangue fervendo de ardor na sucessão compassada dos dias, tem que ter vigilância, foco, paciência e resiliência (para usar uma palavrinha da moda). Todo mártir foi construído pelo dia a dia que o levou ao profético fim. Se não fosse o “sim” do cotidiano, jamais haveria o “sim” do gran finale. Sem a ascese dos dias, o mártir não teria a capacidade de entregar a própria vida.
Portanto, seguidores do Caminho*, nada de relaxar demais ou desanimar com a falta de luzes incandescentes e oradores ávidos por conversão. É hora de humildade! É hora de ajustar-se ao compasso dos dias que nos dão muitas oportunidades de formar o caráter e a fibra cotidiana, que fazem um homem de verdade. Que a graça de Deus nos forme e nos ajude a colher os frutos dos tempos especiais, e nos faça santos na vida hodierna.
Entendendo o Tempo Comum
Durante o Tempo Comum são celebrados os mistérios da vida de Cristo. Não se pode, entretanto, contrapor o Tempo Comum aos demais tempos litúrgicos. Não há uma importância maior nem menor deste tempo, nem pode ser entendido como um tempo mais “fraco”. Durante esse período, as comunidades celebram os padroeiros, os santos e santas. E se alimentam das virtudes de pessoas que compreenderam tão bem o chamado de Cristo, derramaram seus corações ao coração de Deus, abraçando uma vida realmente perfeita, santa e feliz.
É ainda no Tempo Comum que as grandes festas solenes da comunidade acontecem. E ele é todo uma espécie de estágio, de preparação para os momentos de maior destaque para a fé e a Igreja. O que deve conduzir os fieis a uma observância maior e mais eficaz de seus deveres e direitos, entendendo-se como seres não meramente eventuais, mas de compromisso diário com a Liturgia e com a vida.
A cor predominante do Tempo Comum é o verde, que lembra aos cristãos que estes devem ser fortes como o pinheiro, a árvore mais forte dentre todas as demais. O Tempo Comum é um período do Ano Litúrgico que vai do Batismo do Senhor até o começo da Quaresma e tem as outras semanas entre a segunda-feira depois de Pentecostes e o início do Advento.
Referência
(*) “Seguidores do Caminho” é expressão que aparece nos Atos dos Apóstolos para designar os primeiros cristãos.